segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

P754: NO LANÇAMENTO DO LIVRO DO JUVENAL AMADO

"A TROPA VAI FAZER DE TI UM HOMEM!"

A sala do Chiado Clube Literário e Bar, na Galeria Comercial Tivoli Forum, em Lisboa, mostrou-se pequena para albergar o grupo de amigos do Juvenal Amado que quiseram estar presentes na apresentação do seu livro “A Tropa vai fazer de ti um Homem!”.


Correndo o risco de falhar nomes dos combatentes presentes (o escriba de serviço limita-se a referir aqueles que conhece…) pudemos registar a presença do Virgínio Briote, Cláudio Moreira, Manuel Joaquim, Carlos Silva, José Brás, Rui Pedro Silva, Armando Pires, Hélder Sousa, Giselda Pessoa e Miguel Pessoa, para além de outros bloguistas (caso da Felismina Costa), amigos pessoais do Juvenal e seus familiares – a esposa Manuela e a filha Vanessa.

Na mesa, para além da representante da Editora e do autor, esteve o nosso camarada Helder Valério Sousa, convidado pelo Juvenal para apresentar a obra… e o perfil do nosso camarigo Juvenal, de que realçou o seu carácter de homem bom, solidário e amigo do seu amigo, características bem vincadas no texto que escolheu para ler, um pequeno episódio incluído no livro agora publicado.


Precavido, o Juvenal tinha preparado a sua intervenção escrita, cuja leitura foi dificultada pela emoção do momento, o que levou o Hélder Sousa a terminar a leitura do texto preparado pelo autor do livro.

Verificámos uma boa afluência de pessoal interessado na aquisição do livro, que o Juvenal  teve o gosto de autografar, antes e depois da sessão de apresentação.

Fica para o fim uma foto do nosso camarada Juvenal Amado, um homem feliz com esta sua realização, na companhia da filha Vanessa, de uma amiga de família - a Rosa Caramba, viúva de um seu camarada - e da esposa Manuela.


Reproduzimos mais em baixo a intervenção do nosso camarada Juvenal Amado, lida (a meias com o Hélder Sousa...) no decorrer deste encontro.

E lembramos que no próximo dia 29 de Janeiro o Juvenal estará presente em Monte Real para apresentar esta sua obra aos camarigos da Tabanca do Centro, por ocasião do seu 50º Encontro, uma segunda oportunidade para quem quiser adquirir o livro agora editado.


Miguel Pessoa


A INTERVENÇÃO DO JUVENAL AMADO

Caros camaradas, amigos e familiares:

Poderá discutir-se até à exaustão,  os benefícios ou malefícios de se ter ido ou não à tropa.

Deixar o emprego, a namorada, a casa e o conforto da casa paterna, perder a identidade e passar a ser um número mecanográfico.

A partir dali perdíamos a autonomia social, mandavam em nós até nas pequenas coisas, como se fez a barba ou não, a enorme chatice que era ter um botão desabotoado, as botas mal engraxadas, não se poder sair sem licença prévia, perder o direito de nos vestirmos como nos aprouvesse e termos que cumprimentar até com quem estávamos chateados, no caso de ser nosso superior.

Por outro lado ir para a tropa era como chegar à idade adulta, sair da alçada da família, satisfazer algum fascínio pelas armas e, porque não, algum desejo de aventura.

Sem esperar arranjámos amigos. Embora sem saber, esses ficaram para toda a vida  
Eles foram chegando e partindo engolidos pelas rápidas transformações que a vida militar ditava. 

Depois de mobilizados, encontrávamos os que connosco viveram mais tempo, nos destacamentos no tempo que duraram as comissões e quando estas acabaram, despedimo-nos. Muitos de nós não nos tornámos a ver, o que à partida parecia impossível dado os laços que se criaram em zona de conflito.

Desembarcado, rapidamente tentei esquecer aqueles dois anos e pico e durante 20 anos limitei-me a trocar alguma mensagem, alguma visita a dois ou três, fui ao casamento do Ivo, do Caramba e do Silva. Conheci os filhos bebés.

Mas as coisas nunca se passam como nós inicialmente pensamos e, à medida que avançamos na idade, o passado vem ter connosco de várias formas e nem sempre pacífica. Foram os almoços da Companhia, ir à procura das fotografias antigas, olhar para as imagens e tentar lembrar os nomes, acabando por pôr em marcha um mecanismo de recordações e afectos que julguei já não existir.

Depois, aconteceu encontrar amigos ao longo dos anos seguintes e, quando esperava alguma solidão, eles multiplicaram-se e enchem hoje muitos álbuns de memórias que nos ligam, forjadas em situações iguais ou parecidas, que criam novos laços a todo o momento.

Este é um projecto a caminho dos  8 anos, inicialmente sem pretensões de o ver passado a livro, o que acabou por acontecer.

Nele tento transmitir sem ódios, sem paixões sem remorsos, sem falsas modéstias sem puritanismos, sem vencedores nem vencidos, sem saudades excessivas que me toldassem o raciocínio, sobre um tempo que passou da minha juventude do qual ficaram os rostos e datas, que jamais poderei esquecer. Pelo menos foi sempre essa a minha intenção.

Está claro o que outros pensam de nós, está um bocado além do que podemos fazer. Porque ao nortearmo-nos pelos nossos princípios e seguirmos os nossos impulsos ao expor o que achamos correcto, nunca cederemos ao mais fácil, e assim nunca agradaremos ao mesmo tempo  a gregos e a troianos.

 O que está dito está dito e só o oiro agrada a todos.

Pode ter sido mal exposto ou mal interpretado, mas ficou gravado assim e assim ficará na versão que cada um julgar mais consentânea com a sua forma de pensar, ou no seu juízo de valor.

O tempo ensinou-me que não há verdades nem certezas absolutas.

Nada há a fazer quanto a isso, mas também nada pretendo fazer, pois alterar o que vi ou que penso sobre o que me levou a ir combater em terras da Guiné ainda hoje está inalterável na minha cabeça -  negá-lo seria uma desonestidade a que nunca me sujeitaria.

Porventura as minhas motivações ou razões serão iguais ou parecidas às de milhares de jovens que para lá foram ao longo dos 13 anos de guerra, com a generosidade e ingenuidade dos nossos 20 anos.

Resta-me assim esperar que para além do que possam discordar, vejam a honestidade com que apresento à vossa consideração as passagens de vidas sem nada de extraordinário, mas verdadeiras.

Não podia escrever este livro de outra maneira. Ele não aconteceu, foi acontecendo lentamente e foi assim que amadureceu.

Nestes anos muita coisa se alterou,  muitos partiram, mas também muitos chegaram para me dar alento e mostrar que não era em vão o trabalho a que meti ombros. Todos deixaram marcas, no tempo que passei com eles. São as suas vidas, histórias e a sua riqueza humana, que valorizaram o que escrevi.

Nada mais valioso do que poder fazer deles também autores, de que me servi na concepção deste livro.

Nada teria sido escrito sem as suas palavras, sem as nossas conversas, sem as suas vivências e o seu . incentivo ou as suas críticas.

Espero que não o entendam como relatório de operações pois não é disso que se trata. Trata-se de situações vividas, compiladas, reunidas sem rigor histórico. Interessam sim as personagens, todas elas reais, de carne e osso, que comigo conviveram em dado momento bom ou mau.

As dúvidas foram e são muitas, certezas praticamente nenhumas. Não há volta a dar.

As razões foram tão diferenciadas como diferenciadas foram as condições e evolução  ao longo dos anos da guerra. Alterou-se o armamento, o equipamento, mas também a maneira de encarar o conflito. Também foi crescendo a contestação ao mesmo.

O estado de espirito com que foram os jovens em 1962, terá sido bem diferente dos que foram comigo em 1971.

Mas nenhum livro porá uma pedra final sobre o assunto e a discussão sobre o conflito, bem como as consequências do fim dele, as condições da nossa retirada do teatro de operações, alimentarão as tertúlias de ex-combatentes durante muitos anos.

Diz-se que a História só deve ser escrita de 100 em 100 anos, por isso só após o nosso desaparecimento físico o que se escreveu merecerá a atenção de historiadores que, livres da nossa visão apaixonada, sem terem que tomar partido, sem terem que dizer o que esteve certo ou que esteve errado, talvez consigam colocar-nos no lugar da História, lugar esse que será de todos os ex-combatentes por direito e sem excepção.

Disse anteriormente que foi um processo solitário, resta-me também deseja-lo solidário.

Naquele tempo tínhamos pouco tempo para sermos meninos e jovens, mas não sei se foi a Tropa que Fez de Mim um Homem.

A todos os presentes quero agradecer a vossa presença, que encaro como testemunho vivo da vossa estima. Bem hajam por isso.

Quero aqui deixar uma  palavra especial para o Luís Graça, para Hélder Valério, Carlos Vinhal, ao Belarmino Sardinha, ao José Brás  e ao dr. Nuno Miguel Ferreira Oliveira que fez a correcção de texto.

Por último, quero agradecer à minha mulher e filha, por tudo o que me deram ao longo das suas vidas, em que não contabilizaram nem regatearam o seu amor.

Sem elas nunca seria o homem que sou.
Muito obrigado.
Juvenal Amado


E, para terminar, uma última foto, com dizeres da autoria do próprio Juvenal Amado... Ele lá sabe!




7 comentários:

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

Foi, de facto, uma sessão recheada de afectos.
De amizade, de solidariedade, de gratidão.
E também teria permitido, se o tempo fosse maior e se o âmbito da sessão não se restringisse apenas à apresentação do livro mas sim à discussão mais aprofundada do seu conteúdo, uma riquíssima troca de impressões sobre o tema doo título do livro "A tropa vai fazer de ti um homem!", a avaliar pela pequena 'amostra' que mesmo assim foi possível com intervenções de Hilário Peixeiro, Armando Pires, José Brás, um camarada da Unidade do Juvenal.

Quanto à troca de observações da última foto... bem, já se sabe que os Homens também choram, mesmo os 'feitos na tropa', e portanto o Juvenal, com a sua emotividade é bem capaz de nos contemplar com nova sessão dela....

Hélder Sousa

Joseph disse...

Depois de quarenta anos a viver com um "pé" na Lapónia Sueca e o outro "pé" em Key West-Florida tenho que reconhecer que o coracäo estará sempre com Camardas e Amigos como o Juvenal Amado.
Parabéns pelo livro com um grande abraco do José Belo.

joaquim disse...

Não me foi possível estar presente, mas o abraço forte que queria dar ao Juvenal, dá-lo-ei na sexta feira na nossa Tabanca do Centro.

E com histórias e mais histórias de todos e de cada um se vai fazendo a História.

Um grande e amigo abraço ao Juvenal
Joaquim

Juvenal Amado disse...

Eu sei que muitos camaradas desejariam ter lá estado e gostaria muito de os lá ter. Mas sabemos que que a vida pessoal de cada um por vezes não permite.

Quanto ao que o Hélder diz sobre o pouco tempo, que nos foi dado para conversar e debater o titulo bem com algum conteúdo do livro e da própria guerra, foi abruptamente cortado pela frieza das horas.

Do facto só me apercebi depois, pois penso que a nossa sessão merecia mais tempo, mas estava logo em cima de nós outro lançamento que teve o tempo que quis.
Paciência.

Fica o alerta para quem pretender «lançar algum livro

Manuel Reis disse...


Olá Juvenal! Não pude estar presente, como já te tinha informado. No entanto, estarei, no dia 29, em Monte Real, para te dar um forte abraço.

Parabéns pelo teu trabalho, ficará como um marco indelével na vida de todos nós, que estivemos contigo e sofremos nessas terras de África.

Os meus parabéns ao Miguel que, como sempre, está presente e nos dignifica com o seu trabalho.

Até sexta.

Um grande abraço.

Manuel Reis.

Anónimo disse...

Parabéns ao Juvenal Amado pelo seu livro, cujo título é realmente elucidativo, do que aconteceu a mancebos quando incorporados nas Forças Armadas e, as mesmas fizeram que muitos deles, se tornassem uns (homens)!..
Não me foi possível estar no lançamento, nem estarei na próxima sexta feira, mas irei adquiri-lo.
Os homens também choram, e para o autor, deve ter sido realmente emocionante a explicação que deu, sobre o seu livro.
Agradeço ao Miguel, por este bom trabalho e a partilha.
Um abraço para ambos.

Anónimo disse...

Peço desculpa pelo esquecimento.
O comentário acima e não assinado, é meu.
Mª Arminda