segunda-feira, 30 de agosto de 2021
P1308: HOMENAGEM AO JOSÉ EDUARDO REIS OLIVEIRA (JERO)
segunda-feira, 23 de agosto de 2021
P1307: LENDAS DE MONTE REAL -1
LENDA DE SEGODIM
Vivia a Rainha Santa – diz a lenda – amargurada em seus Paços de Monte Real pelas frequentes ausências do Rei D. Diniz, seu esposo, distraído como andava em digressões amorosas.
Certamente inquieta e cansada de esperar, resolveu a Rainha ir com alguns pagens, munidos de tochas acesas, postar-se no caminho onde sabia que o Rei devia passar.
Quando este chegou cavalgando, ao deparar com o que via, apeou-se e, disse agastado, dirigindo-se à esposa: - Que fazeis aqui, Senhora Minha, com gente tanta?!...
Vim alumiar-vos o caminho, Senhor – respondeu a Rainha – pois cego vindes de amor...
Verdade ou lenda, o certo é que hoje existe o lugar de Segodim, que pertence à freguesia de Monte Real, de que dista cerca de um quilómetro.
(Olímpio
Duarte Alves – No livro Monte Real no Passado e no Presente - 1955).
De “cego vindes”, o povo foi mudando a “palavra”, até Cegodim, hoje escrito Segodim.
Para aqueles que conhecem estas paragens, o lugar de Segodim, fica na estrada que liga Monte Real à Base Aérea nº5 – Monte Real, sensivelmente a meio caminho.
Joaquim Mexia Alves
segunda-feira, 16 de agosto de 2021
P1306: UM MODELO DE COMPARAÇÃO
UM PIROPO...
Na Guiné, como “piloto da caça”, no dia-a-dia o meu relacionamento com o pessoal da linha da frente dos Fiat G-91 era algo reduzido, limitando-se ao período imediatamente antes do voo e após este, o que não se prestava a um conhecimento profundo do pessoal que nos apoiava. Talvez o facto de ser um oficial do quadro habituado a alguma reserva no relacionamento hierárquico tenha contribuído também para esse distanciamento.
Por outro lado, o ambiente na Esquadra
dos AL-III era algo diferente, dada a coesão naturalmente desenvolvida entre a
tripulação – pilotos, mecânicos de bordo, atiradores do heli-canhão e as
enfermeiras paraquedistas, que complementavam a tripulação nas missões de
evacuação.
Embora com as limitações decorrentes
desse maior isolamento, os meus contactos no decorrer das missões foram
proporcionando um maior conhecimento do pessoal da linha da frente, o que
acabou por permitir uma maior aproximação aos mesmos fora das horas de serviço.
Lembro-me de, a convite de um deles, ter
assistido a várias sessões de ensaio de uma “banda de garagem” constituída por
mecânicos da FAP, e de em outras ocasiões ter participado em alguns convívios
por eles organizados.
Como ponto forte deste tempo relembro a
recepção que me foi feita à chegada à Base de Bissalanca, no regresso do
hospital, comemorando o excelente trabalho desenvolvido por todos na minha
recuperação na sequência do abate do meu avião.
Esse relacionamento mais informal que se foi desenvolvendo ao longo da minha comissão permitiu-me uma maior integração e aceitação no grupo, de tal modo que um dia recebi de um deles um piropo que terá constituído para o próprio a melhor apreciação que ele poderia fazer da minha pessoa: “O Senhor Capitão (*) é um tipo porreiro! Até parece miliciano!...”
Miguel Pessoa
(*) Embora em todas as minhas histórias da Guiné se fale sempre do Tenente Pessoa, a verdade é que os últimos oito meses da minha comissão os passei como Capitão, no período entre Novembro de 1973 e Agosto de 1974…
segunda-feira, 9 de agosto de 2021
P1305: POUCO CONHECIDO EM PORTUGAL, FAMOSO NOS U.S.A....
JOHN PHILIP SOUSA
Dirigente musical Norte-Americano e compositor de inúmeras célebres marchas militares, entre outras em 1888 o Hino dos Fuzileiros Navais (Marine Corps) o "Semper Fidelis”, e mais tarde em 1897 a famosa marcha "The Stars and Stripes Forever".
Esta última foi nomeada em 1987 a Marcha Nacional e é sempre tocada em inúmeras cerimónias militares e civis (Não confundir esta com o Hino Nacional).
Quando jovem recebeu uma boa educação musical tendo sido violinista em Orquestras Clássicas e posteriormente Dirigente. Iniciou então a sua carreira como compositor.
Em 1868 entrou para os Fuzileiros Navais como aprendiz de Dirigente da respectiva banda. Aí criou uma enorme reputação tendo elevado ao máximo a capacidade musical do agrupamento.
Com esta orquestra veio a efectuar concertos na maioria dos Estados Norte-Americanos e na Europa (1900-1905). Finalmente, em 1910-191 deu uma volta mundial com a mesma orquestra.
Sousa compôs 136 marchas militares únicas na sua classe, tanto pelo ritmo como pelos efeitos instrumentais. Entre 1879 e 1915 escreveu 11 operetas, 11 valsas, 12 trabalhos musicais para dança, 70 canções, 11 suites, etc, etc.
Ficou conhecido nos Estados Unidos como o Rei das Bandas Musicais.
Quase ignorado em Portugal, o nosso Sousa é bem conhecido nos meios militares Americanos… e não só!
No entanto o John Philip Sousa é conhecido como... John Philip SUZA!
Mesmo assim, melhor que o quase nada que é o seu reconhecimento em
Portugal.
José Belo
segunda-feira, 2 de agosto de 2021
P1304: EM MEMÓRIA DOS FILMES QUE COMECEI A VER A MEIO
Texto publicado em Junho de 2017 no blogue “Luís Graça & Camaradas da Guiné”, que fomos repescar com a devida vénia ao blogue e ao autor, Juvenal Amado.
LEMBRANDO O CINE TEATRO DE ALCOBAÇA
Gostei muito de cinema desde sempre e o Cine Teatro de Alcobaça foi ponto de encontro de gerações de Alcobacenses.
Em miúdo ia com a minha tia ver os filmes do
Joselito e Marisol; mais tarde também me levou a ver filmes históricos, em
especial sobre as guerras napoleónicas, género que deixou de ser tema de
interesse para as produtoras cinematográficas, pois há muito tempo, tirando uma
versão do "Guerra e Paz", deixei de ver em cartaz esse género de
filmes.
Quando há tempos pela escrita do José Marques Vidal e Arturo Pérez-Reverte voltei a lembrar-me do tema, revi mentalmente a batalha de Austerlitz, onde Napoleão derrota os exércitos russos, austríacos e ingleses, bem como outras venturas e desventuras do corso, que resolveu criar um Mundo à sua vontade até se afogar no seu próprio orgulho e megalomania.
Mas também era comum juntar-me aos Mendes, ao Cafézinho, ao BiBi e outros miúdos; numa das portas laterais esperávamos que o porteiro, senhor Sílvio, nos desse uma borla e assim nos deixasse assistir aos filmes.
- ”Não façam barulho e espalhem-se, não os
quero todos juntos” - dizia ele.
Depois do primeiro intervalo, lá íamos nós sem
fazer barulho até ao 3.º balcão, razão essa, que tenho na memória os filmes que
nunca vi o principio como o "Ben-Hur", o "Rei dos Reis",
o "Barrabás", "Spartacus", etc, etc. Esses ficaram para
sempre amputados dos seus inícios pelas razões que acabei de apresentar.
Entretanto comecei a trabalhar, e com direito a semanada, pude assim comprar o bilhete e começar finalmente a ver todos os filmes desde o início. Estava na época dos filmes "cobóis" "esparguete" com o Clint Eastwood, (quem diria que ele se faria num dos maiores realizadores do nosso tempo?), o Bud Spencer e Terence Hill, etc, que gastavam mais balas na apresentação do que em todas as guerras do México. As pistolas de seis tiros disparavam sem cessar, nunca ficavam sem balas...
Também os filmes de karatê do Bruce Lee
levavam legiões de admiradores, e era vê-los à saída do cinema, a gingarem-se e
a imitar os tiques do actor. Simplesmente hilariante, quando ele era atacado
por mais de vinte bandidos, que despachava num ápice. Ficava sempre para o fim
um e esse, é que era sempre uma rolha dura de roer. Entre gritos, chapadas e
pontapés de toda a forma e feitio, o nosso herói tinha mais trabalho com esse
do que com os outros vinte…
Por causa desses filmes logo apareceram
escolas de karatê nas diversas modalidades, o que deu azo a episódios caricatos
como o do meu amigo “Bife”, que acabado de ter a sua primeira aula de Tae Kwon
Do, se envolveu logo à pancada com outro junto ao campo de ténis.
As gargalhadas sucediam-se a cada nova
exclamação do nosso bem conhecido angariador de peles de coelho e ferro velho.
O velho Pelé também servia para as mães meterem medo aos filhos, que praticavam
qualquer maldade, ou não queriam comer a sopa. A sua imagem andrajosa com um
saco às costas, era assim aproveitada para o imaginário da garotada.
Também a Escola Técnica de Alcobaça, sob a
batuta do professor Miranda, levava à cena as peças no Cine Teatro, que
ensaiava para serem apresentadas nas suas festas anuais. Nunca me esqueci da
peça "A Gaivota", de Anton Tchecov, e também quando o teatro de
revista deixava o Parque Mayer e fazia digressões pela província.
Naquele tempo o Cine Teatro abarrotava de espectadores e, na maioria dos casos, só ficavam livres as cadeiras obrigatoriamente guardadas para os descendentes do fundador António de Oliva Monteiro.
Depois fui para a tropa e para a Guiné. Durante 3 anos
não me deliciei com os filmes nem com a vivência ao redor dos mesmos.
Na Guiné, em Galomaro, fomos uma vez visitados pelos serviços de foto-cine do exército, se não estou em erro com o filme "Chaimite", na verdade um tema bem a propósito como é bom de ver. Foram exibidas duas sessões para dar oportunidade a quem estivesse de serviço de ver o filme no dia a seguir. Numas das sessões, calhou-me fazer reforço na porta de armas e tive o maior assédio de lavadeiras de que há memória, pois queriam que eu as deixasse entrar para ver o filme. Está claro que não podia deixá-las entrar sob pena de o Coronel me dar uma porrada de todo o tamanho, mas devo ter ficado com fama de ser um bom filho p… durante muito tempo.
Sei que havia salas de cinema em Bafatá e em Bissau,
mas nunca lá fui ver nada. Se calhar porque só pernoitei uma vez em Bafatá, no
seguimento da trágica morte do nosso camarada Teixeira, e em Bissau estive só
de passagem e com pouco ou nenhum dinheiro.
Quando regressámos, deu-se a explosão com o
fim da censura; as sessões sucediam-se para vermos os filmes até ali proibidos,
ou revermos os que tinham sido amputados das cenas que a comissão da censura
tinha resolvido cortar.
Seguiram-se as sessões de pornografia, que eram
exibidas depois da meia-noite.
Depois o declínio foi-se agravando, e não foi
só em Alcobaça. As salas começaram a ficar vazias por causa dos centros
comerciais e das suas sessões continuas, da televisão, dos clubes de vídeo.
Estas por sua vez foram à falência por casa da TV por cabo, onde podemos ver
filmes a toda a hora sem se sair de casa, com a qualidade HD nos LED's de
tamanho considerável com sistemas de som circundante.
O que virá a seguir não sei, talvez com máquinas de realidade virtual em que sejamos expectadores e actores ao mesmo tempo, com influência no guião do filme.
Ontem liguei a televisão, e estavam a exibir o filme "Cartas de Guerra". Já ia adiantado, mas mercê das novas tecnologias, voltei atrás para ver de principio. Gostei, apesar de algumas incongruências, digo eu, uma vez que a guerra que travámos na Guiné foi forçosamente diferente da de Angola pelo tipo, pelo espaço físico e também pelo antagonismo existente entre os três movimentos independentistas. O filme faz-me lembrar uma banda desenhada com grandes planos e muitas imagens falsamente paradas, em que o autor tenta transmitir ao espectador a dor, o isolamento, o desamor e a violência daqueles dias, usando um ambiente surreal. (A ver os "Vampiros" com textos de João Melo e desenhos de Juan Cavia, uma história de ficção passada na Guiné em 1972).
Fez-me reviver os nossos mortos, e as imagens a preto
e branco, mais os gritos na escuridão, conferiram um efeito trágico e sufocante
sobre as minhas próprias memórias. Desejável seria que este filme fosse ponto de
partida para mais registos devidamente aconselhados, por homens que sabem com
conta peso e medida aplicar com rigor as recordações daquele tempo.
Hoje o Cine Teatro de Alcobaça continua lindo. Cinema
pouco, mas chegam-me notícias de teatro, teatro de marionetes, bailado e também
musica de vários géneros. Os filmes é que parecem rarear naquele espaço mas
isso é fruto dos tempos. *
Juvenal Amado
* O texto está um pouco datado, pois foi publicado em Junho de 2017. Mas, consultando o site do Cine Teatro (cineteatro.cm-alcobaca.pt), verificamos existir um programa de espectáculos interessantes a apresentar nos próximos tempos, parecendo que o Cine Teatro de Alcobaça mantém a sua vitalidade.