sábado, 27 de junho de 2015

P674: O OUTRO LADO DA HISTÓRIA...

Resolvemos dar algum relevo a um texto publicado como comentário ao nosso Poste 671 em que se falava do estranho desaparecimento de uma bolsa, acontecimento ali relatado pelo nosso camarigo Miguel Pessoa.

Dado que o "delinquente" vem ele próprio identificar-se, não vemos razão para ocultar o seu nome. Aqui fica, pois, a sua identidade e a sua versão do acontecimento, afinal bastante semelhante à relatada anteriormente pelo MP*.

* O Miguel Pessoa, não o Ministério Público (pelo menos por enquanto...)

Os editores



Caro Miguel

A tua história é-me, em parte, familiar. E como tiveste a simpatia de não referir a identidade do "fulano" que em Monte Real te levou tudo, menos o carro, transcrevo em seguida um artigo de opinião que "saiu" num semanário da região de Alcobaça.

Segue-se a dita:


Entre os 70 e os 80…acontece!
Aconteceu já há uns dias mas merece registo. Para assistir ao 45º Encontro da Tabanca do Centro , que teve lugar em 29 de Maio último desloquei-me a Monte Real, que fica a 40 kms de Alcobaça. Levei a minha maleta a tiracolo com os documentos do carro, cartões do multibanco e umas notas de dez e de vinte "aéreos".

Mais uma vez com algum stress à mistura, terminado o almoço na Pensão Montanha, fiz uma despedida meio "à francesa" e pus-me a caminho de casa, onde teria que estar por volta das 16 horas para receber uma estante, que tinha entretanto encomendado. 

Antes de subir para casa lembrei-me que tinha de levantar dinheiro no multibanco. Peguei na maleta que tinha a meu lado, no banco do carro, e percebi rapidamente que não estava lá a minha carteira. Não estava nem podia estar porque "aquela" maleta não era a minha! Era parecida mas não era a minha. Consultando o seu conteúdo encontrei de imediato uma agenda e percebi que o proprietário era o Miguel Pessoa, que tinha ficado a meu lado no almoço de Monte Real. E continha o seu telemóvel e, "melhor ainda", as chaves do seu carro!!! 

Telefonei para o Chefe da Tabanca, que deveria estar a seu lado e acertei. O Joaquim Mexia Alves chamou o Miguel em pessoa e eu contei-lhe do meu engano "do dia"! 

Meia hora depois estava de novo em Monte Real e devolvi o que não era meu.Com as devidas desculpas, está claro. Entretanto já tinha encontrado a minha maleta que sempre estivera na mala do meu carro. Retorno a Alcobaça com mais 40 kms de A-8 e um total de 12,80 euros de portagens… Toma e embrulha!

Podia continuar os relatos - e aumentar o "score" em meu desfavor de "golos" na própria baliza - mas resolvi não acrescentar os óculos perdidos (e achados) nem as quedas e cabeçadas em locais onde não se deve cair nem bater, e que já me valeram duas passagens pelo Hospital.

Apesar de tudo o primeiro "espalhanço", quando tirava uma foto de ângulo esquisito no Sítio da Nazaré valeu-me algumas elogios: - tinha "queda para a fotografia"...

Resumindo e concluindo:- «Entre os 70 e os 80…acontece»… se não evitar situações de stress. Rima e é verdade.

JERO

quarta-feira, 24 de junho de 2015

P672: E O PRAZO TERMINOU...


P671: À CAUTELA...

NÃO COMPREM DESTE MATERIAL!

Recentemente estive envolvido em duas situações que resultaram em parte do meu gosto por usar acessórios perfeitamente vulgares, que passam completamente despercebidos no meio de outros semelhantes do pessoal que me rodeia. É o caso, por exemplo, da bolsa que no tempo mais quente uso a tiracolo (para compensar a falta de bolsos), onde guardo os meus documentos, cartões, agenda, chaves (do carro de da casa), comando da garagem e, para os meus almoços da Tabanca do Centro, a máquina fotográfica.

Este apetrecho, que alguns apelidam depreciativamente de mariconera (passe a expressão rasca…) faz parte dos meus hábitos há já bastantes anos e, como dizia atrás, é perfeitamente anónimo, de cor preta e formato e tamanho standard, passando completamente despercebido no meio de tanto outro idêntico à minha volta. Aliás, tenho 3 (!) bolsas destas, iguaizinhas, resultantes de ofertas de uma conhecida marca de perfume que em determinada época incluía essa bolsa como presente na compra do frasquinho de maior capacidade.

Asneira minha! Se por um lado não tentamos o “amigo do alheio” usando acessórios que não vale a pena desviar, por serem de marca desconhecida ou de qualidade mediana, também se presta a desvios (sem qualquer má intenção) por parte de um conhecido um pouco mais distraído, que até tem um material parecido…

O facto é que no nosso último convívio em Monte Real lá levei a minha bolsa (máquina fotográfica incluída). Tudo correu normalmente durante a concentração no Café Central, com bolsa a tiracolo e máquina fotográfica em punho para a reportagem habitual. Chegado ao local do almoço, bolsa pendurada na cadeira e máquina fotográfica em cima da mesa, para continuar a sessão fotográfica…

Tudo a correr normalmente. O convívio aproximava-se do fim, com alguns amigos já de partida devido a outros compromissos. Chega-se então o nosso camarigo Joaquim Mexia Alves com o seu telefone dizendo-me que alguém me queria falar. Confesso que da cena que se seguiu apenas fui apanhando alguns pormenores da situação completamente imprevista: “…Que por lapso tinha levado a minha bolsa… que só se apercebeu quando quis levantar dinheiro (vá lá que não sabia os códigos, digo eu…)… que podíamos combinar um encontro numa área de serviço para ele me devolver a bolsa… que depois me telefonava a confirmar a chegada…”

Argumentei que isso iria demorar algum tempo pois eu tinha que empurrar o carro até lá (o malandro tinha-me levado as chaves…) e que teria que ser ele a atender os telefonemas que me fizesse (o meu telefone também tinha ido na bolsa…)…

Enfim, este nosso amigo lá percebeu que tinha mesmo que voltar a Monte Real para me devolver a bolsa… o que aliás fez com alguma celeridade. E o caso ficou por aqui.

Dois dias depois, na minha casa, contava eu esta história algo caricata a um familiar que tinha ido almoçar comigo. E, durante a tarde, já esse familiar tinha partido, resolvi pôr em dia a conversa com um amigo. Procurei o meu telemóvel… e não havia sinal dele no local em que normalmente o deixo pousado. 

Devo referir que esse telemóvel é de uma marca finlandesa bem conhecida, de modelo perfeitamente vulgar, já com uns anos de tarimba, que recebe e faz chamadas e envia e recebe SMS – precisamente aquilo que preciso – e mais nada…

Resolvi pelo telefone fixo chamar o meu telemóvel para tentar descobrir a sua localização na casa… e fiquei baralhado quando, em vez de tocar em algum ponto da casa, o telemóvel atendeu a chamada…

Seguiu-se uma conversa surreal: “Quem fala? – perguntavam-me... É o dono do telemóvel, quem é que o tem?...”. Enfim, abreviando, tinha sido esse meu familiar que, com o seu telemóvel no bolso, tinha resolvido adesivar o meu, que era em tudo semelhante… “Mas já estou a caminho para to devolver…”.

Vêm estas duas histórias a propósito de um conselho que vos quero dar: Não comprem deste material! Se querem evitar usar material caro, por ser objecto de cobiça de algum malandro, então usem material vulgar mas peculiar, que facilmente seja distinguido dos outros – evitando assim um desvio por parte de um amigo mais aluado…

Deixo-vos algumas sugestões. Usem bolsas com formatos invulgares ou de cores garridas, facilmente referenciadas. Aqui ficam alguns modelos possíveis.



Quanto aos telemóveis, se querem continuar a usar o vosso velhinho, em que confiam, ao menos vistam-lhe uma capa que o torne perfeitamente identificável – alusiva ao Homem Aranha, Hello Kitty (evitem estas se tiverem netinhos com telemóveis – eles podem ter capas iguais…), ou de equipas de futebol como o SCP, FCP e o SLB (evitem também esta última se ficarem ao pé do Vasco da Gama – ele também pode ter uma capa igual…).



Enfim, com algumas destas medidas talvez consigam evitar o desaparecimento das vossas coisas quando estão num ambiente ilusoriamente seguro. E sempre podem recorrer às velhas correntes normalmente usadas para segurar as bicicletas e motocicletas… Que mais não seja, para prender os bracinhos desse pessoal mais buliçoso…


Miguel Pessoa

quinta-feira, 18 de junho de 2015

P669: JOSÉ BELO / MAIS UM POSTAL DA LAPÓNIA

                   FALANDO DE RENAS

A rena é o único animal da família dos cervídeos, ou dos bovinos, que tem todo o corpo coberto de pêlo, incluindo todo o nariz.

Tem duas espécies distintas de pêlo. O mais próximo da carne é como que cerzido entre si, e a segunda camada (exterior) é formada por pêlos com um tubo interior cheio de ar. Este ar interior aumenta o isolamento e ao mesmo tempo faz o animal flutuar mais facilmente, o que lhe é de grande utilidade nas muitas travessias de lagos, rios e braços de mar locais.

Os cascos são separados em duas partes e têm diferente consistência ao longo do ano, dependendo dos períodos em que há neve no solo, ou não. No período sem neve os cascos então mais moles, proporcionando uma melhor tracção.

Um tendão da perna, imediatamente acima dos cascos, provoca pequenos estalidos quase "plásticos”, quando a rena se desloca. Estes pequenos estalidos servem para manter os animais juntos nas manadas quando de travessias de florestas escuras, ou de nevões e neblinas que por aqui tiram totalmente a visibilidade para além de um escasso metro à frente do nariz.

Tendo as pernas quase continuamente enterradas na neve, o sangue venoso local é aquecido pelo sangue arterial em vasos sanguíneos especiais, fazendo-o chegar ao coração à mesma temperatura que este órgão.

Dispõe também de inúmeros vasos sanguíneos no interior das narinas que fazem com que o ar frio respirado chegue aos pulmões à temperatura normal do animal.


Quanto aos olhos, tem uma visão que abrange a luz ultra-violeta, o que lhe é muito útil para distinguir à distância animais de pelagem branca como os lobos árcticos, entre outros. Ou as marcas de urina colocadas na neve como marcação por parte de outros predadores como os linces e ursos.

O nome "rena" é originário do antigo escandinavo "hreinin" que significa animal com cornos (O nome Caribu, usado no Canadá e Estados Unidos/Alaska refere o mesmo animal que, originário do norte euro-asiático, se deslocou para o continente americano).

É o único animal da família dos cervídeos em que tanto o macho como a fêmea têm cornos, e para mais iguais em forma e tamanho, variando unicamente com a idade. Os machos mudam de cornos no Inverno ou primavera, enquanto as fêmeas o fazem no Verão.

A razão desta discrepância tem a ver com o nascimento dos vitelos na Primavera, altura em que os machos estão extremamente agressivos. As fêmeas, mantendo os seus cornos neste período, podem mais facilmente defender as crias da agressividade dos machos adultos... então sem cornos!

Outra característica única destes animais é o facto de a fêmea, se atacada e perseguida por predador quando grávida, em última instância para salvar a vida pode provocar um aborto imediato, distraindo deste modo o atacante, e tendo tempo para se afastar.

As renas têm também um olfacto muito desenvolvido que lhes é muito útil na busca de alimento sob profundas camadas de neve.

Segundo  cálculo actual aproximado existem na Escandinávia 800.000 renas "domesticadas" e cerca de 1 milhão em estado selvagem, havendo cerca de 2,6 milhões em toda a Euro-Ásia e cerca de 3,4 milhões no Alasca e Canadá.

Na Escandinávia existem dois sub-tipos:
1) Rena das florestas (de menor tamanho e "domesticada").
2) Rena das montanhas, mais ou menos do tamanho do caribu.


As renas têm uma média de vida de cerca de 20 anos.

Os seus maiores inimigos são os lobos, ursos, linces e o volvorino.
(Este último, só existe no extremo norte da Euro-Ásia e América, e assemelha-se a um pequeno urso com uma dentição e agressividade incríveis).

A águia real, por aqui muito abundante, ataca  adultos doentes ou enfraquecidos, e concentra-se na Primavera no ataque às crias das renas.

A rena tem entre 90 cms e metro e meio de altura, 1,20 a 2,30 metros de comprimento e 60 a 170 quilos de peso.

A carne de rena é extremamente saudável por ser a carne de consumo com menor teor de gordura. É consumida a um preço bem elevado nas grandes cidades escandinavas, tanto fresca como fumada. Grandes quantidades são exportadas para a Alemanha, que paga por ela um muito bom preço.

Precisamente como com os porcos na Lusitânia, tudo no animal é usado. Carne fresca, enchidos, sangue, peles, cornos para artefactos utilitários e - pasme-se!... -um chico esperto local reduz a pó cornos de rena, coloca-o dentro de bonitos frascos (quase como de perfume), ou em pequenos sacos de pele de rena decorada, e vende-o a bom preço aos turistas como remédio para a potência sexual, invocando antiquíssimas tradições locais…

É claro que os lapões riem-se à gargalhada com a ingenuidade turística e, ao mesmo tempo admiram a ideia empreendedora do... chico esperto local (Que, neste caso, saliento não ser o lusitano-lapão único... e é bem pena!).

As renas ditas "domesticadas" passam os nove meses de inverno local totalmente à solta nas florestas e estepes envolventes, sendo reagrupadas na Primavera com a cooperação de todos (Hoje em dia o uso de helicópteros  para este fim está generalizado).

A maneira tradicional (e única!) de se marcarem as renas, e demonstrar-se a sua posse, é mediante diferentes pequenos cortes feitos com as facas tradicionais nas orelhas dos animais.

Por muito incrível que possa parecer não há duas marcações idênticas entre os proprietários e os lapões à distância de muitos metros reconhecem os seus animais dentro das manadas concentradas e em movimento.

Como os animais passam todo o Inverno em absoluta liberdade só na Primavera se pode saber quantos se perderam por doença ou ataques de predadores.

O Estado paga uma boa soma ao proprietário de animais mortos por predadores. Em princípio confia no número que lhe é apresentado, pois existem estatísticas de muitos decénios que permitem estabelecer "médias" aceitáveis.

De qualquer modo, recomenda-se não fazer como todos os turistas o fazem: Perguntar ao criador lapão quantos animais tem na sua manada!

Responde-lhe de imediato se ele lhe perguntou quanto à sua conta bancária?

(Para mais... e importante... paga-se imposto por cada uma das renas da manada! Felizmente que as mesmas andam á solta pelas florestas e muitas das vezes torna-se muito difícil contá-las!)

Segundo a lei actual, só cidadãos lapöes, reconhecidos oficialmente como tal, ou cooperativas de aldeias exclusivas de lapões, estão autorizados a criar e explorar renas em grandes manadas, ou consequentes explorações industriais do produto em grande escala. Isto para manter localmente todo um modo de cultura e vida, que já há muito teria sido "comprado" pelas grandes indústrias suecas.

Uma dúzia, ou uma vintena de renas para fins pessoais, tanto para trenó como para agradável companhia ou (não menos!) consumo é no entanto permitida aos suecos não lapões... como eu…

Um abraço do José Belo

segunda-feira, 15 de junho de 2015

P668: JERO - CRÓNICAS DOS TRIBUNAIS / 8

              UM PÉ DE CABRA BEM PESADO...

No início dos anos 60 as gentes da Covilhã "estremeceram" com um escândalo que ocorreu na Fábrica Alçada, uma das mais prestigiadas ao tempo. 

Uma alteração de administração obrigou a uma auditoria que descobriu uma "bronca" nas finanças da Europa de cerca de 20 mil contos - muito dinheiro para a época - devido à saída pela "porta errada" de muitas camionetas de fioco ao longo de vários anos. Cabe aqui dizer que “fioco” é um desperdício da produção inicial de tecidos, mas que tem valor comercial.

O responsável directo por este erro nas contas era pessoa muito conhecida na cidade, não só pelo seu cargo na fábrica de lanifícios, mas também por estar ligado à direcção de diversas instituições da Covilhã.

Enquadrada a situação, é tempo de dizer que a administração da fábrica fez a devida participação ao tribunal e constituiu-se assistente ao processo, responsabilizando-se pela requisição de um agente da Polícia Judiciária de Coimbra.   

A deslocação de um agente custava na altura uma pequena fortuna e "obrigava" à sua presença no local do crime por um período mínimo de 20 dias. Uma eventual prorrogação deste prazo obrigava ao pagamento de novas despesas.

Foi portanto já com o processo em fase de instrução preparatória que conheci o Agente Pimentel. Era um homem entroncado, de cerca de 40 anos de idade, que tinha já alguns anos de experiência na PJ.

Confesso que fiquei fascinado pela sua personalidade. Depois das horas de expediente conversávamos longas horas pois, ao fim e ao cabo, éramos os dois "gente de fora" em relação à Covilhã.

Era um homem duro que não tinha contemplações com a ladroagem. Tinha uma arma distribuída – um revólver de que já não recordo o calibre - e dizia-me vezes sem conta que se encontrasse um assaltante dentro de sua casa não hesitaria em mandar-lhe um balázio.

Resolveu com rapidez o caso do fioco e passava algum do seu tempo livre junto dos funcionários novatos de Instrução Preparatória. Sempre com delicadeza, chamava-me por vezes a atenção para algumas das ingenuidades que eu cometia no interrogatório de arguidos mais "instruídos" na má vida.

Causou um certo “bruá” na cidade um assalto nocturno a um estabelecimento no centro da Covilhã, com arrombamento de portas e furto avultado de muitos bens.

As autoridades locais, graças ao testamento de alguns vizinhos, souberam que os assaltantes eram vários e que as portas tinham sido arrombadas com a utilização de pés de cabra.

Abreviando a história, poucos dias depois a GNR local descobriu e prendeu a quadrilha, que era composta por três indivíduos. Quando os vi em tribunal e li os seus cadastros percebi que precisava mesmo de ajuda do meu amigo de fresca data da PJ.

E assim foi. O Agente Pimentel ficou por perto dos meus mal encarados “fregueses” que, com muitos anos de passagem pelos tribunais, respondiam com extremo à-vontade às perguntas que eu lhes ia formulando.

Não tinham feito nada, segundo eles, e a sua prisão resultava de um mau trabalho das autoridades que os perseguiam devido à sua má fama no meio...

Cabe aqui dizer que este assalto de que eram acusados lhes poderia valer pena maior - uns quatro ou cinco anos de prisão - dado o seu passado nada abonatório, que constava dos seus registos criminais.

«Posso interromper-te, jovem?» perguntou-me o agente Pimentel.
«Força amigo», respondi.

Nas salas onde decorria o interrogarório estavam no chão dois ou três pés de cabra, que tinham sido apreendidos pela GNR.

O agente Pimentel pegou no maior e, obviamente o mais pesado, e disse ao arguido nessa altura presente no interrogatório: «Estende os braços e pega neste pé de cabra».

O meu “cliente”, embora não percebendo o sentido da ordem, não deixou de a cumprir. Pegou no pé de cabra com as mãos, e na posição de pé e com os braços estendidos, ouviu a ordem seguinte:

«Agora vais estar nessa posição, sem te mexeres, até te lembrares se, pelo peso, esse pé de cabra é teu. E se baixares os braços, sem ser à minha ordem, acredita que te vais dar mal!».

O mal encarado arguido aguentou alguns minutos e, a certa altura, começou a tremer que nem varas verdes.

Depois de um silêncio que durou alguns minutos “recordou-se” mesmo: «Este pé de cabra é meu!». E seguidamente contou tudo em relação ao assalto.

O processo seguiu para julgamento e a quadrilha foi mesmo condenada a pena maior. Iriam mesmo passar alguns anos de vida sem pegar em pés de cabra...

Nunca mais esqueci esta cena e o meu ídolo dos anos 60, o agente Pimentel, da Polícia Judiciária de Coimbra.

E já lá vão mais de cinquenta anos!

JERO