sexta-feira, 26 de julho de 2019

P1154: EQUÍVOCOS...


DIFERENÇAS CULTURAIS

Aproveitando o repescar da memória relativamente ao tempo do estágio em Tancos, relembro agora um outro episódio passado, desta vez em Tomar.

Como, entretanto, consegui encontrar uma foto tirada nesse tempo, e que se junta, podemos ver nela os futuros Furriéis Milicianos Fernando Marques e Hélder Sousa, em baixo, da esquerda para a direita e, em cima, pela mesma ordem, Manuel Martinho e Mário Miguel, todos referidos na história anterior.


Para o caso, em mais um fim de tarde, mais uma saída (algumas vezes também ficámos no “Perímetro”, na E.P.E., salvo erro para ver algum filme que passava lá no cinema ou para outra coisa qualquer) e desta vez o destino foi Tomar.
Um dia em que o tempo estava incerto, de vez em quando chovia.

Lá seguimos para a linda cidade do Nabão (onde havia também um Colégio famoso na época, salvo erro o “Nuno Álvares”, onde pontuavam, dizia-se, alguns “filhos-família” que se tinham “baldado” em outros locais de ensino). 

Na procura de local de estacionamento para o já referido “Morris” circulámos pelo interior histórico da cidade e, em certa altura, numa daquelas ruas estreitas, há uma passadeira para peões e em jeito de “passa-não-passa” estava uma jovem, bem bonita por sinal, com o seu guarda-chuva fechado na mão (já não estava a chover na ocasião).

Eu e o Martinho íamos atrás no carro, o condutor – o Marques – levava a seu lado o Miguel. Este camarada era um jovem bem apessoado de Barcelos, com pinta de actor de cinema, com pinta de membro de conjunto musical (à época a maior parte dos meus colegas de Curso TSF eram, ou tinham sido, membros de vários desses conjuntos que corporizaram os então famosos “concursos yé-yé” no Cinema Monumental, em Lisboa), com linguagem e sotaque tipicamente nortenhos, com conceitos muitos próprios. Ora o Marques resolve incitar o Miguel a “dizer um piropo à menina”…

Então, o Miguel, solícito e diligente, puxa o melhor de si, abre o vidro e diz: “Ó Guidâinha, vai meia de leite”? Para o Miguel, “todas” as miúdas eram “Margaridas”, “Guidinhas” em forma mais ternurenta, e a “meia de leite” pretendia ser uma forma simpática de referir a oferta de um lanche.

Não sei o que foi que a rapariga entendeu, a verdade é que parece não ter gostado e vá de dizer “seu ordinário!” ao mesmo tempo que batia com o guarda-chuva no tejadilho do carro!

Uma paragem e o eventual “sururu” poderiam fazer atrair gente - éramos, afinal, “militares à paisana”, e ao tempo Tomar era o QG da Região Militar do Centro. Não tivemos por isso oportunidade de esclarecer o que foi uma natural “diferença cultural”, coisa que hoje por hoje, com toda esta universalidade e conhecimentos mútuos, seria pouco provável acontecer.

O velho conceito de “em Roma, sê romano” deveria ter sido aqui aplicado, mas acho que nunca passou pela cabeça do Miguel que houvesse incompreensão quanto à sua generosa sugestão de oferta. Mas, já sabem, devem ter sempre em conta as “diferenças culturais”. Mesmo entre naturais de Portugal!

Hélder Sousa
Fur. Mil. Transmissões TSF

sexta-feira, 5 de julho de 2019

P1150: REVISTA "KARAS" DE JULHO

Já vem sendo hábito o encontro inesperado com o Jaime Brandão no dia do nosso convívio. Não admira, que ele é cliente habitual do Café Central... E mais uma vez lá estava ele de saída.
E, claro, o pessoal da zona tem o hábito de chegar cedo ao local da concentração, como é o caso do Manuel "Kambuta" Lopes e da sua Hortense.
Não sendo necessariamente da zona estes dois "Barões do K3" - José Manuel Quintas e Vítor Junqueira - tinham madrugado e aguardavam serenamente pela chegada do 3º elemento do bando, o José Pimentel de Carvalho. E finalmente lá chegou este, já com a presença do Miguel Pessoa. Com a ausência do Amado Chefe Joaquim Mexia Alves, retido num outro compromisso, o Miguel Pessoa teve que acompanhar mais de perto a chegada dos participantes, com reflexo na colheita de fotos nesta fase da concentração no Café Central... Felizmente havia outros fotógrafos disponíveis (o Manuel Lopes e o Paulo Moreno) que tomaram conta da cobertura fotográfica.
E como é habitual o JERO trazia exemplares do periódico de Alcobaça em que colabora (o "Cister"), que simpaticamente distribuiu pelos presentes. Infelizmente este seu trabalho no jornal reflecte-se na disponibilidade do JERO para nos acompanhar no convívio até tarde, pois sendo o dia do encerramento da edição ele tem que sair relativamente cedo para terminar o seu trabalho na redação do jornal.
Na foto da direita, dois amigos que costumam aparecer juntos - o Joaquim Caneira e o Abílio Vieira Marques - normalmente na companhia das respectivas esposas.
A chegada do Vasco da Gama foi apreciada pelos presentes, dada a sua pouca assiduidade nos últimos tempos... Por isso verificaram-se alguma manifestações de satisfação pela sua presença no nosso convívio. Esperamos que ele volte a habituar-se a aparecer...
O Domingos Santos tinha na sua posse um suplemento de domingo do "Correio da Manhã", de 20JAN2013, que trazia um artigo razoavelmente extenso ("Guiné - 1963 / 50 anos), sendo uma das notícias a recuperação do Miguel Pessoa após abate do avião que pilotava na zona do Guileje. A foto já conhecida do blogue (aliás tem sido disponibilizada pelo Miguel Pessoa...) está no fundo da página, aqui assinalada pelo Domingos Santos. Enfim, histórias antigas... Mas o artigo dá uma panorâmica geral da guerra da Guiné em todo o tempo de conflito, embora naturalmente resumida.
Há sempre motivos de interesse nos assuntos que possam ser abordados, como se pode deduzir desta animada conversa entre o Joaquim Rolo, Domingos Santos, Carlos Manata, Vitor Caseiro, Almiro Gonçalves e Carlos Oliveira (encoberto).
Com a indisponibilidade dos manos Rodrigues, por razões da saúde, o grupo de Torres Novas costuma ficar reduzido a quatro (isto nos dias bons...). Na foto da esquerda vemos o Lúcio Vieira, Alexandre Fanha e Manuel Ramos, enquanto o quarto torrejano, Carlos Pinheiro, confraterniza no bar com o JERO e o Carlos Manata.
O Luís Branquinho Crespo está certamente a receber do Agostinho Gaspar um reporte da sua recente deslocação à Guiné. Desta vez o Agostinho deslocou-se de avião em vez do jipe - para satisfação da esposa Isabel, que fica sempre preocupada com esta saídas do marido... E foi ponto assente nesta sua deslocação que ela não iria colidir com o nosso convívio, pois ele não está para estragar o recorde que bate em cada novo encontro - vai neste momento com 77 presenças em 77 encontros realizados, um pleno!
O Manuel Mendes trouxe desta vez consigo os dois netinhos, confessos apreciadores do cozido da D. Preciosa.
O Vitor Caseiro desdobra-se sempre nos contactos com o pessoal presente, falando aqui com o Almiro Gonçalves, enquanto a esposa deste, Amélia, põe a conversa em dia com a Giselda.
Estava na hora de se tirar a foto de grupo. Desta vez incluímos uma versão menos habitual, em que o fotógrafo também ficou na fotografia...
E era a debandada para o local da refeição. O pessoal acelera rampa abaixo, que a fome já aperta... Vemos no 1º grupo o Carlos Pinheiro, José Alberto Carvalho, JERO, Manuel Mendes, Vasco da Gama e Manuel Lopes, no 2º grupo o Manuel Ramos, Carlos Cordeiro, Joaquim Rolo, Domingos Santos, Agostinho Gaspar e José Salgueiro.
A distribuição no local foi feita como normalmente com a ocupação das mesas corridas existentes na sala, cada uma delas preparada para 8/9 participantes, juntando-se o pessoal um pouco de acordo com as suas afinidades. Na foto da esquerda vemos em primeiro plano o Silvino Correia d'Oliveira, a Giselda Pessoa e o José Alberto Carvalho, acompanhante (e primo) do Vasco da Gama.
À direita, em primeiro plano o José Salgueiro - que não falha nenhuma desde que nos descobriu... - o Domingos Santos e dois torrejanos, o Carlos Pinheiro e o Manuel Ramos.
Ao fundo vemos os outros dois torrejanos - Alexandre Fanha e Lúcio Vieira - aparecendo em primeiro plano o Carlos Cordeiro e o Paulo Moreno.
O Almiro Gonçalves e a Amélia não falham uma presença - Têm cartão permanente... Ainda não foi desta vez que o Miguel Pessoa e a Giselda puderam visitar a sua empresa familiar que já por diversas vezes nos mimou com bolinhos do seu fabrico - lembramo-nos dos pasteis de nata e do bolo escangalhado... Mas compromissos em Lisboa impediram desta vez essa deslocação.
O Carlos Oliveira e o Carlos Santos são generosos colaboradores no acerto de contas no final do almoço, um trabalho importante para garantirmos o pagamento da refeição à D. Preciosa. Ao fundo vemos ainda o José Manuel Quintas e o José Luís Rodrigues (outro figurante permanente nos nossos convívios).
O Carlos Manata tem sido mais assíduo nestes nossos últimos encontros - embora seja muito poupado na maneira como se inscreve, limitando-se a dizer laconicamente o seu nome na mensagem que nos envia. Na dúvida temo-lo inscrevido para o almoço - e ele tem aparecido...
Os 3 "Barões do K3" só sabem vir juntos - ou vêm todos ou não vem nenhum! Fazem-nos lembrar os Metralhas... Só vêem dois na foto ? Não se preocupem que o 3º Barão está do outro lado da mesa - eles nunca se afastam muito...
Um grupo que já se conhece desde o nascimento da Tabanca do Centro - Giselda, Vasco da Gama e JERO - retoma conversas já antigas, aqui na companhia do estreante José Alberto Carvalho, familiar e acompanhante do Vasco.
E nas deambulações pelas mesas o Vitor Caseiro mete conversa com o Mário Ley Garcia, habitual presença nas nossas reuniões.
Uma mesa já habitual nos nossos encontros, com o Agostinho Gaspar, Luís Branquinho Crespo e o casal Gonçalves, Almiro e Amélia.
E, claro, do outro lado da mesa tinha que estar a Isabel Gaspar e o Miguel, que acompanham normalmente o Agostinho nestas andanças.
O Manuel Kambuta Lopes gosta de se rodear dos seus amigos. Vemo-lo aqui com o Manuel Mendes. Infelizmente outro amigo, o António Sousa, não tem podido comparecer aos nossos encontros por motivos de saúde. Votos de melhoras rápidas para ele!
O JERO aproveitou naturalmente a presença do Vasco da Gama para pôr a conversa em dia. Mas agora um novo intervalo se adivinha - só para o fim de Setembro é que voltamos a reunir-nos. Contamos com a presença do Vasco.
O Joaquim Caneira costuma ser inscrito pelo Abílio Vieira Marques e ambos costumam ser acompanhados pelas esposas. Dado que o Joaquim não dispõe de endereço e-mail, não sabemos se ele costuma ter acesso às informações que distribuímos  sistematicamente aos participantes nos nossos encontros.
Os dois casais têm aqui a companhia da Hortense Mateus, enquanto o Kambuta deambula pela sala na sua função de fotógrafo free-lancer...
O António Alves, embora não seja um veterano nestas andanças já nos habituou às suas presenças em diversas frentes em simultâneo, pois temo-lo visto nos encontros da Tabanca do Centro, Tabanca da Linha e Tabanca Grande.
O Miguel Pessoa tem tido o apoio do Paulo Moreno e do Manuel Kambuta Lopes na realização das reportagens fotográficas dos encontros, com natural benefício para a revista Karas e para os participantes nos convívios, a quem as fotos são posteriormente  enviadas.
Como é habitual o pessoal da D. Preciosa esteve atento às necessidades dos presentes, Aqui a D. Dulce averigua se o Manuel Mendes e os netinhos precisam de  algum apoio.
Pela expressão dá a ideia que o Vasco se esqueceu do dinheiro para pagar o almoço! Mas não, ele só está a observar o paciente trabalho dos tesoureiros Carlos Oliveira e Carlos Santos no acerto da folha de pagamentos.
Resta-nos desejar-vos um bom verão. Mas continuem a acompanhar o nosso blogue, que não fecha para férias, embora mantendo um ritmo mais comedido. Para já vêm aí os slide-shows das fotos do último encontro. E temos textos em carteira a publicar proximamente. Vão dando uma vista de olhos, que vale a pena. Boas férias!

segunda-feira, 1 de julho de 2019

P1149: MAIS UM PARA RECORDAR


ALCUNHAS DO TEMPO DA VIDA MILITAR QUE NÃO ESQUECEM / 2


O “RATO”

1º Cabo Martins, O "Rato"
O 1º. Cabo auxiliar de enfº. Martins não enganava... Tinha “pinta”! Rapidamente deu nas vistas. Aprendia depressa e era um «desenrascado»... natural.

Aquele seu jeito vinha-lhe do berço. Esperto e mandado para a frente: para o bem e para o mal... Pequeno de estatura, de olhos bem vivos, mexido e malandro q.b. .
Estava na vida militar como «peixe na água»: Não era mais um. Dava a pele por um seu superior.

No norte da Guiné no «baptismo de fogo» da sua C.Caç. 675 o Martins, ou melhor, «o Rato» (como já era então por todos conhecido e tratado) mostrou a sua raça e que... os homens não se medem aos palmos... No «Diário» da Companhia a sua actuação foi descrita assim: «...De salientar na emergência a coragem do Cabo Enfº. Martins que não abandonou o ferido em cima da viatura, gritando para o Claudino (o condutor) que continuasse a andar para o estacionamento».

Há que esclarecer que a viatura em causa transportava um ferido grave – o soldado Almeida que veio a ficar cego de um olho – e que foi emboscada quando seguia isolada a caminho do aquartelamento. Está claro que o «Rato» em cima da viatura e debaixo de fogo chamou ao Claudino tudo... menos bom rapaz...

É que este, em desespero, abandonou momentaneamente a cabine para se abrigar do fogo inimigo. Foram os gritos e «os nomes feios» do Cabo Martins que o fizeram voltar ao volante do Unimog. Terá sido o «Rato» que com o seu exemplo e coragem evitou males maiores.

Depois... ao longo dos meses... esteve sempre em todas.
No mato e no quartel.
Aprendeu a falar os dialectos nativos e... não tivessem pena dele.

Ninguém na Companhia «terá partido mais catota...» que o Cabo Enfº. Martins.
Generoso e valente como operacional. Malandro e desenrascado no quartel… e na tabanca!

Onde estava o «Rato» não passava desapercebido! Quando não sabia... ”inventava” e como auxiliar de enfermagem transmitia confiança. Ia a todas e... não se atrapalhava. Era bom tê-lo por perto quando havia azar... Vivia intensamente a “sua” Companhia.

O que o ex-Alferes Tavares conta da sua dor exaltada quando da morte do soldado Nascimento no Hospital de Bissau demonstra isso mesmo. «...Mal cheguei ao Hospital dei de caras com o «Rato». Este estava no HM 241 a fazer tratamento de antiparasitação e logo que me viu gritou-me a má nova: Morreu o Nascimento. Estava agitadíssimo. Em cada três palavras dizia duas asneiras. Já não sei como mas... segui-o pelos corredores do Hospital e fui dar a uma sala onde estava um corpo coberto por um lençol. O «Rato» destapou o corpo e reconheci o corpo desnudado do Nascimento. Morto. Não tinha um pé.»

Mais uns meses e o Martins regressou à Metrópole cheio de sonhos. Infelizmente não optou pelo retorno às (suas) origens. A Tondela. A pequena vila e sede de concelho do distrito de Viseu. À terra que o tinha visto nascer.
 Ficou por Lisboa, pela grande cidade.
 E... perdeu-se!
Terá vivido em equilíbrio precário, na corda bamba e não encontrou nunca «terra firme»...

Visitou amigos da vida militar. Teve a ajuda de alguns. Viveu em sobressalto. Em correria. Parecia adivinhar que a sua vida ia ser curta.
Numa visita à sua terra natal – a Tondela – morreu num acidente de motorizada. Quando soube, chorei sentidamente o «Rato».

Fui seu superior directo na vida militar.
Como eu estimava o puto! Depois do regresso da Guiné tive o “Rato” em Alcobaça, em casa dos meus Pais. Um fim de semana.

À noite, já o “Rato” estava deitado, a minha mãe quis saber se ele estava bem e se precisava de mais alguma coisa.
O «Rato» preparava-se para dormir sem pijama porque, simplesmente... não o tinha. Escondeu embaraçado a nudez do tronco com a roupa e respondeu à minha mãe que não, que estava tudo bem. Parecia um «menino» encabulado! Lembro-me como se fosse hoje.
Raramente vi o Rato tão atrapalhado. O Rato irreverente, desenrascado, sem papas na língua... ficou sem palavras. Tinha sido um menino que teria crescido sem amor e que não estava habituado a que o tratassem tão bem!

JERO
É assim que o recordo. 
O seu sorriso de embaraço frente a alguém que o tratava como a um filho.

O “Rato” deixou a vida cedo. Vida que viveu a correr. Parecia adivinhar que a sua vida ia ser curta. Recordo-o com muita saudade.

Se isso pode ser considerado como um bem... permaneceu desde então, desde sempre na minha memória, como um jovem, misto de “malandro” e de menino que terá crescido para a vida... com falta de amor.

O Rato foi... tudo isto.
Se tivesse vivido nos tempos de Asterix teria sido, com certeza, também um irredutível.
Que saudades eu tenho do sacana do puto…
JERO