segunda-feira, 30 de outubro de 2023

P1427: À MODA DO "KAMBUTA"...

PEQUENO TEXTO ESCRITO NO CALÃO DA NOSSA ZONA

Cá o Manelito Netito da nha Abozita Ti Maribieira, sim o Soba Kambuta dos Dembos, só pra na iri sozinhun chatiou a Piquena Namorado Esposa pra elan o acumpanhari pra servir di GPS, pruqui eli já na vai lá sozinhun, bem continua Manelito antes que a pilha do xinês dê o pummmm e já foste.

Bein bamus lá, eu e a nha Piquena Namorado Esposa já há muito tempo que andávamos para irmos até há Tabanca do Centro para carregamos baterias, porque já há uns anos para cá que o destino e a nossa saúde nos tem trocado as voltas, porra Manelito, desenrola o novelo e desembuxa, tá bein! vou cuntinuari, ó pá querein lá saberi?

Aqui há uns tempuns, o mê primun qui moram aclá prós lados da Bouan Bistan tlifnoumi cum mau feitiun e a ralharmin cum amiassans e tudun, a dzermin, tás a óbirin! ó tu e a tu Piquenan Namoradan baun á nha Tabanca, ó snãun bou aí eu e lebu o mê cãum e eli mijati nas tuans pernans, e atãun eu cheiun do medun, e a trimerin cmu barans berdins, fiquein a pinsarin si dibian iri ó nãun.

Uns dians a seguirin cá recebi um tligraman, di queim haviam di serin, do mê cumpadrin HOMIM GRANDIN, o RÉGLE, já na sein bein, eu cá já na doun a kotan ca perdigotan, bein eli é um bum cumpadrin, caté é mê bezinhun, eli é donun da Tabanca, e cá eu soun o donun da nha Sanzala, o mê cumpadrin no tligraman só mi dezian assim, ó Cumpadrin Sobam Kambuta tásmi a óbiri? Vai á nha Tabanca do Centro qui temuns umans contans antigans pra fazerin e a justarin tás a óbirmim e mais na digun, dizinrascatim, teins aí a tuan capueiran dus passaruns di ferrun bein acabalun da abiouan da sextan feiran mas na ti isqueçans, di trazerin a tu Piquenan Namoradan pra serin tistimunham, nãun du Jiubáns nãun, bora lá Soba Kambuta bein atéa á Nha Tabanca na ti isqueçans, e cá o melgan, pican miolus cum medun di arripiarin na pudian dezerin nãun, e mains na digun pruqui a pilhan do xinês já está a chatiarin.

Meus amigos da Tabanca do Centro, não tenho palavras para escrever, para agradecer a atenção que tiveram comigo e com a Nha Piquena Namorada Esposa, eu já há uns anos que não participava, a saúde tem-nos sido madrasta, só consigo dizer e escrever, obrigado a todos/as e até qualquer dia, aqui ou noutro lado, está a ser difícil, desejo muita saúde, alegria, boa disposição, paz e amor nos vossos lares, para mim melhores dias virão, e dia 24 de Novembro lá estarei na CASA AMARELA mais uma vez.

Abreijos meus e da nha Piquena Namorada Esposa para todos/as.

"Manuel Kambuta dos Dembos"

 

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

P1424: IDA PARA A GUINÉ

 JÁ LÁ VÃO 55 ANOS! 


Como recordar é viver, há dias que nunca esqueceremos, e o dia 23 de Outubro de 1968 é um desses dias.

Era meio-dia em ponto quando o UÍGE silvou várias vezes a querer dizer que estava pronto para mais uma viagem.

O pessoal já tinha embarcado ao som de marchas militares. Os cumprimentos oficiais, da praxe, já tinham sido feitos. As escadas já tinham sido retiradas. O cordame também já tinha sido recolhido. E os dois rebocadores que o haviam de levar até ao meio do Tejo já estavam a postos.

No cais a multidão ainda era imensa. Os lenços acenavam das varandas da gare a corresponder aos lenços que das amuradas do barco também acenavam. Eram as
despedidas.

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Navio Uíge - Com a devida vénia a http://navios.no.sapo.pt/

A banda militar estava a acabar os seus acordes e o UÍGE lá se encaminhou para o melhor local do Tejo para iniciar mais uma viagem de 5 dias até às terras da Guiné. Depois foi o passar sobre a Ponte Salazar a caminho do Oceano e tudo isso pareceu muito rápido. Depois foram cinco dias de mar e céu, com mais ou menos acompanhamento dos chamados peixes voadores, a passagem relativamente perto das Canárias e a chegada ao largo de Bissau a 28 de Outubro.

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A Ponte Salazar em 1966 - Com a devida vénia a http://www.skyscrapercity.com/

Foram só cinco dias, mas dias inesquecíveis. E como a maioria viajou nos porões, nessas grandes caves fechadas de onde só se via a luz do dia pela buraco por onde entrávamos, nem vale a pena dizer nada sobre essas “maravilhosas” acomodações.

Foi um bom princípio, sem dúvida, para o que nos estava guardado. Depois, bem depois, foram vinte e cinco meses e dez dias, passados todos naquela terra quente que, ao fim deste tempo todo, nunca mais consegue encontrar a paz a que tem direito e de que tanto precisa.

Carlos Pinheiro
23.10.2012