segunda-feira, 18 de outubro de 2021

P1315: UM FILHO DE PORTUGUESES DESCONHECIDO EM PORTUGAL...

                             JOHN DOS PASSOS

Quando estudei nos States fui surpreendido pelo desconhecimento em Portugal de alguns descendentes de portugueses por lá famosos.

A um nível intelectual  muito elevado existiu, por exemplo, o JOHN RODRIGO DOS PASSOS, conhecido nos meios culturais Norte-Americanos como John D'os Passos.

Nasceu em 14 Janeiro de 1896 em Chicago/Illinois e faleceu a 28 de Setembro de 1970 em Baltimore/Maryland. Filho de um rico advogado de origem portuguesa, graduou-se na Universidade de Harvard em 1916.

Serviu como condutor de ambulâncias na Primeira Guerra Mundial e, em resultado das suas experiências escreveu em 1921 um amargo romance contra a guerra intitulado "Os 3 Soldados".

No pós guerra viajou como correspondente de imprensa. Esteve em Espanha e outros países europeus adquirindo então um forte sentido histórico de observação social. Foi um período que acentuou algumas das suas simpatias radicais.

Com o passar dos anos, gradualmente, o seu subjectivismo  tornou-se num realismo objectivo mais vasto e abrangedor.


Considerado um dos maiores novelistas da "Geração Perdida" do pós guerra norte-americano, a sua reputação como historiador social e crítico da "qualidade da vida" americana surge com o best-seller que foi a sua trilogia -"U.S.A".

Nesta trilogia é posto em destaque a imagem dos Estados Unidos como sendo realmente duas nações. Uma de ricos e privilegiados, e outra, a dos pobres, sem qualquer poder e representação política. Foi uma muito importante e divulgada obra literária que espelhava toda uma época

Depois de alguns outros romances e intervenções em acontecimentos políticos da época escreveu uma nova trilogia em 1939-1943-1949 - "District of Columbia" - ainda que menos ambiciosa que a anterior.

Nesta verifica-se a sua desilusão com os movimentos laborais norte-americanos; com as políticas radicais na generalidade e o liberalismo característico do modelo político do "New Deal".

Não será de estranhar que o governo da ditadura portuguesa não se sentisse "confortável" em divulgar este intelectual que era um forte crítico  das ditaduras Ibéricas.

É no entanto de lamentar que o Portugal democrático posterior não tenha divulgado a trilogia "USA" como seria merecido.

José Belo

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

P1314: LENDAS DE MONTE REAL - 2

          LENDA DO FORNO DA CAL

Segundo reza a lenda, quando o Rei D. Diniz e a Rainha Santa Isabel viviam em Monte Real, por altura da plantação do Pinhal de Leiria, tinha o Rei alguns amores secretos para os lados de Leiria, nomeadamente, em Amor.

Andando a Rainha desconfiada com as saídas constantes do seu esposo, mandou que um seu criado seguisse o Rei e seus pajens a fim de saber para onde ele ia.

No caminho que o Rei utilizava entre Monte Real e Amor, havia uma Ermida e, um pouco mais adiante, um forno de cozer a cal.

O Rei, apercebendo-se que vinha a ser seguido pelo criado da rainha, ao passar no forno da cal, deu ordens àqueles que ali trabalhavam para agarrarem e meterem dentro do forno um cavaleiro que vinha um pouco mais atrás.

Acontece que o criado da rainha, por ser muito religioso, entrou na Ermida e ali assistiu à missa que decorria nesse momento.

Algum tempo depois, o Rei mandou um dos seus criados ao forno para perguntar se as ordens de El-Rei haviam sido cumpridas.

Os trabalhadores responderam que não, mas que seriam de imediato cumpridas e, sem mais, meteram o criado do Rei no forno, que assim foi queimado como sendo o criado da Rainha.

Ainda hoje, ao local onde existia a ermida se chama “Ermida” e o forno se chama “Forno da Cal”.

Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

P1313: A PROPÓSITO DE CERTAS CONTROVÉRSIAS

 

À laia de prefácio, diz-nos o Zé Belo, autor do texto:

Relendo atentamente (!) o texto que cuidadosamente escrevi, em parte alguma encontro algo de ofensivo, tanto para Portugal como para os nossos heróis da Guiné que… foram muitos!

Aponto unicamente páginas “negras” de alguns dos mais medalhados na busca de um justo (!) contraste com medalhados que não recorrerem a procedimentos criminosos à luz do Direito Internacional e suas Convenções, devidamente assumidas por Portugal desde há muito.

Ao considerar-se “fracturante” o separar-se “o trigo do joio “ mais não é que um atestado de algo profundamente errado na sociedade envolvente.

Um tipo de auto censura para não nos tonarmos inconvenientes.

E as auto censuras, sob mais ou menos discretas pressões sociais, definem tipos de sociedades não evolutivas.

José Belo

HERÓIS… E HERÓIS

Tendo em conta a duração da guerra e o número de militares nela envolvidos nos 3 teatros de operações, foram muitos os actos de heroísmo nela praticados.

Como em todas as guerras alguns procedimentos criminosos terão existido mas, pelo seu número e frequência, não foram representativos.

No caso da Guiné, elementos nativos integrados nas forças militares portuguesas salientaram-se pela sua extraordinária coragem pessoal e dedicação no cumprimento das missões que lhes foram atribuídas.

São inúmeros os militares portugueses que a eles devem a vida.


Infelizmente entre alguns dos medalhados, acções do maior heroísmo são acompanhadas por  frequentes procedimentos dentro de uma área que legalmente se pode considerar abrangida por sevícias ou mesmo crimes de guerra.

Não só sevícias, a seu modo justificáveis por praticadas no calor dos combates, como também praticadas a “frio” e em situações “resguardadas”.

O contraste com a generalidade do procedimento do PAIGC para com os prisioneiros portugueses foi marcante. Considerados pelo PAIGC como prisioneiros de guerra, foram tratados de acordo com as Convenções Internacionais.

O governo português não querendo caracterizar a situação na Guiné como uma situação de guerra recusava-se a aplicar tais Convenções aos seus prisioneiros o que permitiu uma impunidade quanto ao tratamento dos mesmos.

Impunidade que levou ao “desaparecimento” da maioria deles às mãos da polícia política, das milícias e tropas especiais formadas por naturais da Guiné.

O facto de estes actos  serem praticados por naturais da Guiné ao serviço de Portugal sobre outros guinéus, não deverá levar a considerá-los menos graves, sob o perigo de uma “graduação” não aceitável por profundamente racista nos seus fundamentos.

No contexto do Direito Internacional referente aos conflitos armados, englobando as leis das Convenções de Haia e Genebra, Portugal sempre se referenciou como um país respeitador das mesmas.

Especificamente, a Convenção de Genebra define normas para as leis internacionais relativas ao Direito Humanitário Internacional que mais não são que um conjunto de normas que procuram limitar os efeitos dos conflitos armados tanto no respeitante a indivíduos como às populações não combatentes.

Tendo em conta as numerosas violações destas regras por alguns dos mais representativos (e díspares) países da cena internacional, alguns mais “pragmáticos” têm dificuldade em aceitar a existência de uma “moral internacional” apoiada em princípios jurídicos.

Mas, com todas as reconhecidas limitações, é a única forma de defesa dos verdadeiramente mais desprotegidos, sejam eles prisioneiros de guerra, populações civis em áreas de combates, ou refugiados.

Uma nítida demarcação entre valores civilizacionais e a lei do mais forte.

 José Belo