quarta-feira, 28 de maio de 2014
domingo, 25 de maio de 2014
P495: BEM FORA DO SEU AMBIENTE...
NO FIM DO MUNDO
Na preparação de uma conversa sobre as enfermeiras paraquedistas em que
fui convidada a participar, lembrei-me de imediato de um episódio que vivi na
Guiné, que ficou inesquecível na minha memória.
A camaradagem e a solidariedade sempre orientaram a minha vida e, sendo
algo característico da vida militar, parecem ter tido ainda mais relevo no
território da Guiné. Se é habitual haver um grande companheirismo entre os
paraquedistas, tive a oportunidade de ver exemplos desse companheirismo junto
de outros grupos na Força Aérea, fossem pilotos ou mecânicos da BA12.
Também
nas minhas deambulações pela Guiné (em 26 meses de comissão(*) tive a
possibilidade de chegar aos sítios mais invulgares, em que afinal muitos
tiveram que viver) pude testemunhar as manifestações de camaradagem e
solidariedade que sempre mostraram ter para com os tripulantes dos DO-27 e
AL-III que por ali passavam e particularmente para com a enfermeira que os
acompanhava.
Este episódio que acima referi, sendo algo que me tocou profundamente, narro-o
aqui.
No decorrer de uma evacuação que tinha como objectivo um aquartelamento
no nordeste da Guiné, o helicóptero aterrou na placa, onde embarcou o evacuado.
No decorrer dessa operação, aproximou-se do AL-III um Furriel daquela unidade,
o qual se me dirigiu com um pedido fora do vulgar.
Explicou-me que com ele
estava naquele quartel a sua mulher, sendo ela a única branca que ali vivia; e
que, não vendo nenhuma branca há já muitos meses, certamente apreciaria falar
comigo por uns momentos. Avisei-o do facto de transportarmos um ferido
e do pouco combustível de que dispúnhamos não permitir prolongar a nossa estadia
ali. Mesmo assim, ele montou a sua motoreta e foi buscar a mulher, para a levar
junto de nós.
A espera prolongou-se por mais tempo do que aquele de que dispúnhamos, o
que levou o piloto a decidir-se por descolar, com grande pena minha. Já no ar,
tive a possibilidade de ver aproximar-se da placa a motoreta com o Furriel,
trazendo a mulher à boleia. Ali chegados, apenas teve ela tempo para nos acenar
enquanto o AL-III rodava em direcção a Bissau.
Senti naquele momento um
desgosto enorme por não ter podido proporcionar àquela mulher um momento de
carinho e de solidariedade, de que ela tanto necessitaria; e imagino a sua frustação
quando não lhe foi possível partilhar de uns momentos de proximidade com alguém
que lhe recordaria outras companhias e outros ambientes deixados há muito para
trás.
Giselda Pessoa
(*) As comissões das enfermeiras paraquedistas variavam entre seis meses
e um ano, o que provocava uma constante rotação do nosso pessoal. Vá-se lá
saber porquê, fui optando por prolongar a minha estadia na Guiné, muito
provavelmente devido ao óptimo ambiente que ali se vivia e também por me sentir
realizada no trabalho que ali desenvolvia, numa atmosfera que não deixava
esconder a guerra que nos rodeava.
Foto do AL-III: Humberto Reis (Com a devida vénia)
quinta-feira, 22 de maio de 2014
P494: MAIS UMA OPORTUNIDADE AOS DISTRAÍDOS...
AINDA O ALMOÇO DE 30 DE MAIO
ALTERADA A DATA-LIMITE PARA A INSCRIÇÃO
Camarigos
Como já tivemos oportunidade de referir anteriormente, voltámos
a organizar o nosso convívio para a última Sexta-feira do mês, que no
presente caso corresponde a 30
de Maio.
Para mantermos a ementa habitual - o cozido - explicámos-vos
então que seria necessário garantir um mínimo de 40 inscritos, sabendo também
que a lotação da sala impede que esse número possa exceder os 80.
Tem-se verificado desta vez uma adesão mais lenta do que as
registadas em convívios anteriores. Isso poderá suceder por este ser “apenas”
mais um dos nossos encontros já habituais, sofrendo desta vez a concorrência
directa de outros convívios programados igualmente para esta época – o IX
Encontro Nacional da Tabanca Grande, os Convívios anuais de Companhias ou
Batalhões a que os nossos camarigos pertencem… e compreende-se que, dada a
periodicidade (anual) destes últimos e o esforço e os custos das deslocações, o nosso
encontro possa passar nesta situação para 2ª prioridade…
Neste momento, tendo em atenção o número de inscrições já registadas e estando por isso já garantida a habitual ementa dos nossos encontros - o
cozido à portuguesa – pretendemos ainda alargar o convívio ao maior número
possível de participantes, pelo que decidimos estender a data limite de inscrição para as 12H30 do dia 28 de Maio,
de modo a permitir - por haver ainda disponibilidade - a inscrição de algum
retardatário.
Façam as vossas inscrições
aqui na caixa de
comentários ou para o e-mail da Tabanca do Centro: tabanca.centro@gmail.com.
NÃO aceitaremos inscrições
feitas no Facebook
Nas inscrições feitas
através da caixa de comentários, se ainda não o tiverem feito
indiquem-nos o vosso
endereço e-mail.
Só assim poderemos
enviar-vos fotos dos encontros em que participarem e
os avisos de saída de
textos ou outra informação publicada no blogue.
A Tabanca do Centro
quarta-feira, 21 de maio de 2014
P493: CRÓNICAS DO JERO
Quando
saímos de Binta, no norte da Guiné, tivemos direito a lágrimas de saudade dos
que ficaram. Tínhamos
sido importantes para eles e para nós próprios.
O último ano em Binta aconteceu noutro mundo! Quase que tínhamos esquecido o mundo para
onde regressámos em Maio de 1966! Quando
regressámos à Metrópole e à vida civil chocámos com um mundo onde
a nossa importância anterior
rapidamente se esbateu.
Já
estava tudo
feito - éramos apenas um pequeno parafuso de
uma máquina gigantesca que girava sem cessar – e à nossa volta já não tínhamos
a malta da
Companhia. Todos tinham partido para as suas
vidas. Para longe.
Nos
primeiros meses corríamos sempre à chamada de cada camarada que se casava.
Viajávamos de norte a sul do País para nos voltarmos a encontrar. Naquelas horas que estávamos juntos voltávamos lá! E o nosso Capitão
normalmente estava por perto!
Depois
tínhamos que voltar ao mundo
dito normal , onde ninguém falava a nossa linguagem!
Que tempos amargos. Trabalho. Mais trabalho. E - falo por mim - solidão.
Que tempos amargos. Trabalho. Mais trabalho. E - falo por mim - solidão.
E
os anos iam passando. Uma vez por ano a malta da Companhia reunia para um
convívio, onde começámos a levar os filhos, que entretanto tinham chegado às nossas
vidas.
As estórias do nosso tempo da guerra voltavam inevitavelmente nesses
dias especiais com velhas discussões em relação à emboscada de Caurbá, ou de
Cansenhe, no caminho de Farim, ou perto de Guidage… E muitos anos depois havia
camaradas que chegavam à conclusão que se tinham abrigado do fogo inimigo “à
frente” de uma árvore e não "atrás", como conviria…
Todos
esses convívios anuais começavam com uma missa onde eram recordados os
camaradas que “tinham ficado” na Guiné e os que entretanto, pela lei da vida,
nos tinham já deixado. Dos 170 que tinham pertencido inicialmente à CCaç. 675
já não estavam entre nós cerca de quarenta!
E
quando os “cabelos brancos” chegaram, uma “comissão de camaradas de boa vontade”
passou a reunir-se uma ou duas vezes por ano para visitar as campas dos
camaradas que já tinham partido para honrar a sua memória e deixar na “última
morada” uma lápide com o seu nome e com o emblema da Companhia.
O
tempo passa depressa, muito depressa, e, felizmente, que a “idade do condor”
traz também algumas coisas boas. Um camarada e sua dama chegam às "Bodas de
Ouro" e convidam a malta da Companhia para
estar presente. E vamos à Missa de acção de graças e ao Copo de Água para aconchegar os estômagos e a “memória do
casamento”. Tudo a rigor e com uma programa festivo que nos dá a conhecer uma
família numerosa que canta e dança em volta dos “noivos”, rodeados de filhos,
genros, netos e netas. Um autêntico espanto.
Estávamos
a saborear o prato de peixe – bacalhau
com broa – quando um grito numa mesa próxima me fez quase saltar da
cadeira. Porque o grito de aflição tinha o meu nome: “Oliveira”. Dirijo-me à mesa onde estava o Rodrigues, correspondendo
ao apelo da mulher do Cravino, que via ainda em mim o enfermeiro que eu tinha
sido na vida militar cinquenta anos atrás.
O
Rodrigues - que eu sabia estar a meio de um tratamento oncológico - estava
muito pálido, espumava pela boca e tinha a cabeça pendida para o peito. Não dava
acordo de si e quando lhe peguei no braço para “ver” as pulsações não lhe
encontrei o pulso. Olhei de novo para a cara e o seu aspecto era assustador. A
fazer pensar o pior. Felizmente aproximou-se um jovem, que era enfermeiro a
sério e “dentro do prazo”, que deu uma ajuda. Dois ou três minutos depois o
Rodrigues voltou a si.
A
côr voltou-lhe a face e falou com a mulher e comigo sem se lembrar que tinha
estado alguns minutos em colapso. Na fase mais preocupante tínhamos pedido que
se chamasse o INEM. O Rodrigues recusou de imediato a ideia e como parecia
estar de facto melhor anulou-se a “urgência”.
Passado mais uns minutos levantou-se e
dirigiu-se para fora do restaurante, pedindo para ir para o seu carro e voltar
para casa. O filho estava por perto e sentou-se ao volante. Momentos antes
eu tinha sabido que o Sporting do meu amigo Rodrigues estava a ganhar por 2 a zero
ao Paços de Ferreira. Nunca antes que me lembre – sou benfiquista desde os
bancos da escola – tive tanta satisfação em dizer a um camarada “em azar” que
os "lagartos" estavam a ganhar ao intervalo. E o seu sorriso de satisfação valeu
a pena e tornou mais leve o “meu sacrifício”…
Entre
o grito da mulher do Cravino e a entrada do Rodrigues no seu carro para
regressar a casa com a sua mulher e filho decorreu cerca de meia hora. O meu
prato de bacalhau há muito que tinha arrefecido e já não o comi. Enquanto andei
“armado” em enfermeiro não pude deixar de reparar que a maioria dos convidados
das “bodas de ouro” não tinha perdido o apetite e tinha feito as honras ao
prato de peixe do “copo de água”… sem interromper uma garfada que fosse!
Depois
a festa continuou com os familiares dos “noivos” a cumprirem um animado e bem
pensado programa em honra da Luísa e do Carlos, que tinham contraído matrimónio
há cinquenta anos atrás em 5 de Abril de 1964 na Basílica da Estrela. Um mês e
pouco depois – em 8 de Maio – o Carlos embarcava para a Guiné, integrado na
Companhia de Caçadores 675.
Quando
então saímos do cais da Rocha de Conde de Óbidos, em Lisboa, tivemos direito a
lágrimas de saudade dos que ficavam.
Recriámos
esse tempo de despedida na noite do “encontro” dos eternos namorados de há 50
anos nas Bodas de Ouro de 5 de Abril de 2014. Meio século depois de Binta numa
época em que o vagomestre nos ”matava a fome” com “ciclistas”(feijão frade
presente em todas as refeições). Que recordo com um sorriso. O que,
sinceramente, a partir de agora não vai acontecer quando me apresentarem
“bacalhau com broa”. Ao almoço ou ao jantar. Nem lhe vou tocar…
As voltas que
a vida dá !
JERO
segunda-feira, 19 de maio de 2014
P492: O SEU A SEU DONO...
AINDA A RESPEITO DO CONVÍVIO DA C.Cav 8351
Um
esclarecimento do nosso camarigo Vasco da Gama
Meus queridos Camaradas
Recebo amiúde
telefonemas de Camaradas da minha Companhia a recordar este ou aquele acontecimento,
a perguntar pela saúde, se a consulta correu bem ou mal, a combinar novo
encontro, a convidar para o baptizado do neto... enfim, vivências comuns entre
Amigos.
Depois de vários deles
me terem perguntado: “Já viu o nosso vídeo'”? (refiro-me ao vídeo da reunião da
minha querida Companhia C.Cav. 8351 no passado 3 de Maio em Portalegre), hoje
mesmo o fiz e atentei particularmente no meu discurso. Terei exagerado no que
disse? Não importa agora falar sobre isso, pois o que está dito, dito está!
Na sequência da conversa
que acabei de ter com o meu Camarada Parola, este esclareceu-me de que, ao
contrário do que me foi dito em Portalegre e do que escrevi, o oficial de dia NÃO lhe disse : “vá comprar
uma bandeira à loja dos chineses”.
O oficial apenas disse que o quartel não tinha
bandeira disponível para nos ceder, tendo o meu Camarada Augusto Covas dito ao
Parola: “Vamos comprar uma bandeira à loja dos chineses” - e foi isso que
fizeram!
Aqui estou a pedir
públicas desculpas por ter induzido em erro os Camaradas que se deram ao
trabalho de ler o meu texto.
Tenho demasiado respeito e carinho por este local de encontro para me “ficar nas covas”.
Quanto ao resto, incluindo a não disponibilidade de uma bandeira de Portugal para cobrir a lápide onde figuram os nomes dos meus Companheiros que tombaram na Guiné, à falta de afecto e solidariedade para com a minha C.Cav. 8351, está dito e aqui o repito. Ninguém mo disse, vivi-o!
Tal como o grande José Régio, considerado por alguns dos intelectuais da nossa praça como poeta menor, também a minha querida C.Cav. 8351 teve um tratamento pouco consentâneo com o respeito que lhe é devido.
Vasco A. R. da Gama
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