terça-feira, 31 de julho de 2012

P249: Recordações da memória - O Arraial!

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" Resultados" na sala do soldado
da 1ª flagelação ao Xitole em 04.04.1972
Empenagens de granadas de canhão sem recuo
recuperadas depois da 1ª flagelação ao Xitole em 04.04.1972
Ao fundo vêem-se as valas que utilizávamos durante as flagelações.


Num almoço da CART 3492 que tivémos em Monte Real há uns anos, o António Azevedo, nosso médico no Xitole, contou-me a seguinte história que tenho a certeza não levará a mal que aqui a reproduza.

Conta ele que quando foi o primeiro ataque ao Xitole estava no exterior da "messe" de oficiais e ao ouvir os sons das saídas de morteiro e canhão sem recuo, começou a olhar para o ar, para ver onde era o "arraial", pensando estar em Viana do Castelo nas festas ou coisa parecida.

Conta também que se sentiu projectado no ar e caiu dentro da vala, comigo por cima.

Tinha sido eu que o tinha "atirado" para a vala ao dar-me conta que ele não percebia o que se estava a passar!

Se fosse hoje, com o meu peso, esmagava-o!!!!

Se a história não for bem assim, peço ao Azevedo que a emende, (se por acaso a ler), e já agora que venha ter connosco numa Quarta feira para saborear o cozido à portuguesa!
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quinta-feira, 19 de julho de 2012

P248: VISITA DE CORTESIA E AMIZADE AO CAMARIGO MIGUEL PESSOA

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DELEGAÇÃO DA TABANCA DO CENTRO FOI À CAPITAL "ABRAÇAR" O NOSSO QUERIDO CAMARIGO MIGUEL “INFAUSTO” PESSOA.

Há cerca de um mês, como é do conhecimento geral, o nosso Miguel Pessoa foi vítima de terrível queda que lhe provocou feia fractura no ombro direito.
Para quem está habituado a partir ossos, como é o seu caso, o relato que nos fez do acidente parecia algo de banal.
Enganam-se e a coisa foi mesmo muito feia!
Só pelas fotografias que nos enviou, antes de ser operado, pudemos constatar da gravidade do sucedido.
Esperou cinco longos dias para ir à faca e os hematomas negros que se espalharam por todo o braço e pelas costas metiam medo!
Decidimos então que quando o nosso Camarigo estivesse minimamente recuperado da operação, faríamos uma excursão à capital para lhe darmos uma palavra de conforto e mostrarmos a nossa estima a esse Homem Grande da nossa Tabanca.
Assim aconteceu nesta terça feira, dia 17 de Julho de 2012!
Logo pela manhã abalei do meu Buarcos lindo com destino à Marinha Grande, onde me encontrei com o nosso Amado Chefe e humilde condutor; lá fomos os dois até terras de Cister procurando pelo Jero, homem de sorriso constante e são de pura amizade, para que com o seu bom gosto  nos ajudasse a escolher uma lembrança para ofertarmos ao nosso homenageado.
Partimos em busca do Belarmino Sardinha emboscado algures em terras de Bombarral em coordenadas mal lidas pelo nosso Comandante, que logo atirou as culpas para a bússola, o que nos obrigou a sair do trilho e voltar atrás para que ninguém ficasse para trás, prática que todos aprendemos na Guiné.
Estacionávamos a nossa limusina quando ao mesmo tempo aterrava o Miguel com o seu anjo da guarda a nossa Camariga Giselda!
Logo ali nos abraçámos e lhe fizemos entrega da nossa lembrança que aqui documento.

Da esquerda para a direita:
Joaquim, JERO, Vasco, Miguel, Giselda e José Seara.

Como no grupo falta o nosso Camarigo Belarmino Sardinha, aqui o deixo em “ grande plano” por causa das dúvidas.



Dado que viveu muitos anos na Venezuela conversei com ele em espanhol e discuti as aquisições do nosso Benfica, meu e dele, sobretudo dos reforços argentinos, sempre na língua de Cervantes para inveja de alguns dos presentes….
Confraternizámos sempre com grande alegria e erguemos os copos num brinde a todo o pessoal de todas as Tabancas!

José Seara, Belarmino, Joaquim, Vasco, Miguel, Giselda e JERO.

De referir que esta foto que aqui vos deixo foi tirada por um Camarada nosso que esteve na Guiné entre  1969 e 1971 condecorado com  a cruz de guerra, de seu nome José Manuel Duarte Fernandes.
O nosso Miguel ainda tem bem marcadas no corpo as consequências da sua queda, mas está em franca recuperação e envia um abraço para todo o pessoal amigo,  retribuindo os abraços do Carlos Vinhal e do Manuel Reis de que eu mesmo fui portador!


Já agora, e como sou grande apreciador da rubrica do nosso estimado Camarigo José Martins, intitulada PATRONOS  E  PADROEIROS , aqui lhe deixo uma sugestão, com fotografia e tudo do :


       SÃO  MIGUEL INFAUSTO  -  PADROEIRO DOS TRAMBOLHÕES
Com consideração e estima para todos os Camaradas da Guiné e desculpem…qualquer coisinha!

Vasco Augusto Rodrigues da Gama
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terça-feira, 10 de julho de 2012

P247: Recordações da memória – o Jamil

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Na Guiné, que me lembre, tive apenas um amigo civil, com quem partilhei longas conversas e uma amizade sincera.

Tratava-se do Jamil Nasser, comerciante libanês no Xitole, com quem logo desde o início da minha estadia de “férias” naquele lugar, estabeleci relações de companheirismo e amizade.

Assim, era muito rara a tarde em que ao fim do dia não me dirigia para sua casa, para, no alpendre/varanda que dava para a estrada Bambadinca/Xitole, beber com ele uns “uísques”, acompanhados de pedaços de tomate vermelho salpicados com sal grosso.
Poder-se-ia pensar que tal ligação não combinava, mas digo-vos que era uma coisa de se lhe “tirar o chapéu”.

Ali estávamos, uma ou duas horas, conversando e ouvindo as noticias em árabe, o que, como podem calcular, a mim me dava imenso jeito!!!

O Jamil, se bem me lembro, era o primogénito de uma grande família libanesa, de posses, mas que tudo perdeu na guerra daquele país.
Para que os seus irmãos mais novos pudessem estudar, o Jamil demandou terras da Guiné, onde se estabeleceu no Xitole, enviando dinheiro para os seus irmãos no Líbano.
Um dos seus irmãos chegou mesmo a Ministro dos Negócios Estrangeiros do Líbano, (segundo sua informação), e embora já estivessem todos bem, o Jamil, habituado à Guiné, já não quis regressar à sua terra natal.

A fotografia aqui colocada, foi tirada no fim de um almoço que o Jamil ofereceu na sua casa, em Abril de 1972, (julgo que tendo como “desculpa” o meu aniversário), cuja ementa foi um saborosíssimo chabéu, coisa que eu nunca tinha comido na minha vida.

Lembro-me que uns dias antes o Jamil me pediu para o ajudar a carregar a arca frigorifica com garrafas de vinho branco, para ser mais preciso duas caixas de 12, e eu lhe ter dito que era demais, pois eramos cerca de 12 pessoas!
Ele respondeu que se beberia tudo e se calhar não chegava!

Percebi depois porquê, porque ao meter a primeira garfada do chabéu à boca, pareceu-me que tinha engolido uma fogueira!
O Jamil disse para insistir, porque depois das três ou quatro primeiras garfadas, a boca se habituava ao picante e depois é que se podia saborear o chabéu.

E assim foi, sem dúvida, pois não me lembro de comer outro tão bom como este!

É curioso que por vezes tenho saudades desses fins de tarde no Xitole!

Hei-de voltar ao Jamil Nasser e a outras histórias com ele.


Monte Real, 10 de Julho de 2012
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