domingo, 29 de novembro de 2015
sexta-feira, 27 de novembro de 2015
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
segunda-feira, 23 de novembro de 2015
P728: DO AMIGO... DA ONÇA
CARTAS
ANÓNIMAS
Devido
às minhas funções de Enfermeiro lidei com um caso que nunca mais esqueci. Por ter
sido um caso humano complicado mas também por estar envolvido um amigo. Amigo
que passou um mau bocado na Guiné, "mau bocado" que se veio a
reflectir na sua vida pessoal depois do regresso. Arrisco até a dizer que essa
"carta anónima" terá influenciado toda a sua vida.
Mas
vamos por partes.
Toda
a gente sabe da importância que o correio tinha para os militares. Para
a gente nova há que recordar que nesses velhos tempos não havia cabines
telefónicas nos quartéis nem telemóveis nem nada que se parecesse! Havia
aerogramas e cartas que nos chegavam uma vez por semana!
Na
minha Companhia estabeleceu-se um calendário para os dias da semana que, sendo
brincalhão, dizia tudo em relação ao assunto:
Domingo - Dia da Bandeira; Segunda-feira
- Antevéspera do Correio; Terça-feira -Véspera do Correio; Quarta-feira - Dia
do Correio; Quinta-Feira - Dia do São Comprimido*; Sexta-Feira = Sexta-Feira e Sábado - Véspera
do Dia da Bandeira e Saída do Correio.
(*Em relação ao Dia do São
Comprimido recordo que se tomava resoquina para evitar o paludismo).
O
correio chegava-nos “pelo ar” em sacos que eram atirados das avionetas para
“dentro” dos quartéis.
Sobre
o assunto encontrei um relato do Coronel Miguel Pessoa, que aqui transcrevo:
«Nas missões que levavam a efeito por todo o território da Guiné os pilotos sabiam da importância que a chegada do correio tinha para o pessoal exilado nos locais mais recônditos, por ser o principal (às vezes o único) elo que tinham com a civilização.
«Nas missões que levavam a efeito por todo o território da Guiné os pilotos sabiam da importância que a chegada do correio tinha para o pessoal exilado nos locais mais recônditos, por ser o principal (às vezes o único) elo que tinham com a civilização.
Sucedeu comigo por várias vezes quando voava no DO-27 que, sobrevoando o território no percurso para o aeródromo de destino, ao passar sobre um aquartelamento, era interpelado por um operador de rádio mais ansioso, de que geralmente resultava uma conversa encriptada, mais ou menos nestes termos:
- Águia, Águia (ó aviador), aqui XX (código do quartel), informe se tem Sierra (serviço) para este?
- OK. Confirme que não tem Charlie (correio) para este?
- XX, Águia, negativo
- OK, Águia, Óscar
Bravo (obrigado), o Charlie (Comandante) manda uma Alfa Bravo (Abraço) e deseja
um Bravo Victor (boa viagem)
- XX, Águia, um Alfa Bravo para vocês. Terminado.
Deve-se reconhecer que os SPM (Serviços Postais Militares) tinham em consideração, sempre que possível, a necessidade que o pessoal tinha de receber notícias fresquinhas - das famílias, das namoradas, dos amigos. Por isso, estava bem organizada a distribuição dos sacos do correio, de modo a embarcarem no primeiro avião disponível para o local.
Para além de embarcarem o correio de
acordo com as missões planeadas, sempre que surgiam missões inopinadas (como as
evacuações ou um transporte inesperado), as Operações do GO1201 alertavam os
SPM e estes, sempre que possível, levavam à placa onde se encontrava o AL-III
ou o DO-27 o correio para o aquartelamento em causa, por vezes também para
outros aquartelamentos próximos, a quem o correio seria enviado por terra, a
partir do primeiro.
Também por vezes os pilotos tinham a iniciativa de mandar embarcar os sacos de correio dirigidos a outros locais em que não iríamos aterrar, mas que sobrevoaríamos; claro que não se adequava levar encomendas frágeis, que se pudessem partir, pois a ideia era desembarcarmos o saco pela porta lateral quando passássemos a baixa altitude por cima da área do aquartelamento. Mas para o simples correio era uma boa solução de recurso, principalmente em locais isolados sem pista.
Enfim, foi tudo por uma boa causa, que era afinal a de mitigar as saudades dos nossos camaradas em terra por tudo aquilo que tinham deixado lá longe.»
Completado (mais ou menos) o contexto
devido para o tema que dá o título a esta crónica, recordo que a melhor maneira
de lidar com cartas anónimas era (é) ignorá-las. É tão óbvio que seria
desnecessário referi-lo.
Mas numa situação de guerra a milhares de
quilómetros da casa quem é que consegue ser tão cerebral?!
Faltavam cerca de 3 meses para o final
da comissão. Em cada dia que passava sentíamo-nos mais perto de casa! Na qualidade de enfermeiro e de amigo
fui procurado por um camarada que me confessou estar "arrasado"
devido ao correio recebido no dia anterior. Uma carta anónima dum "amigo
sem nome" dizia-lhe que a sua noiva não estava a respeitá-lo e que andava
envolvida com outro homem!
Mais do que medicamentos o que aquele
militar precisava era a de uma mão amiga no ombro. E teve-a.
Chegou o dia por que esperámos durante 2
anos e com os nossos corações entre angustiados e esperançosos atravessámos o
Oio - sempre na expectativa de uma emboscada ou de uma mina - a caminho de Bissau para embarcar no "Uige". Tudo
correu bem e… cinco dias depois desembarcámos em Lisboa onde nos esperavam as
nossas famílias, as namoradas e amigos.
Cada qual foi à sua vida. Durante o ano
seguinte corremos Portugal inteiro para estarmos presentes nos casamentos de
uns e de outros.
O meu amigo da "carta anónima"
foi o último a casar nesta revoada de matrimónios dos ex-combatentes da Guiné. E não contraiu casamento com a
"noiva da Guiné" mas com outra jovem que entretanto conheceu.
Os anos passaram e voltei a encontrá-lo
várias vezes. Já pai de vários filhos, cada vez mais careca e barrigudo. E a
partir de certa altura senti-o um homem só.
"O que se passa contigo, pá?"
Ele olhou-me um bocado antes de
responder e disse-me: - "Lembras-te da "carta anónima!? Não devia ter feito o que fiz. Ela era
a mulher da minha vida… Bem gostava de saber quem foi o sacana que escreveu a
tal carta. E sabes que ainda a guardo!"
Fiquei sem palavras. E depois de ele se
afastar apeteceu-me dizer-lhe: Porque é que não a procuras?
Espero que ele - ou ela - nunca leiam
este texto...
JERO
sexta-feira, 20 de novembro de 2015
P727: UMA RECORDAÇÃO DA BA5
Pelas mãos do nosso camarada Paulo Moreno chegou-nos esta relíquia, uma história em Banda Desenhada incluída no Boletim da BA5, uma publicação editada periodicamente naquela Unidade, sendo este o nº 54, referente a Abril/Maio de 1984.
Esta BD tem a particularidade de ter sido desenhada pelo Sargento Agria, um militar da Unidade que estava colocado nas Operações do Grupo Operacional 51 (GO51) à data em que eu proprio desempenhei funcões na BA5 como Comandante do referido GO51.
Não tendo esta publicação no nosso blogue quaisquer intuitos comerciais, sinto-me à vontade para vos apresentar esta relíquia, com o que pretendo fazer uma modesta homenagem à Base de Monte Real, ao velhinho Sabre F-86 que ali operou durante muitos anos, e principalmente ao Sargento Agria, que lembro com saudade.
Onde quer que ele esteja, sei que apreciará esta singela recordação.
Miguel Pessoa
terça-feira, 17 de novembro de 2015
P726: DO MANUEL MAIA - 14
A FAINA
fruindo de bom tempo
na esplanada,
uns versos me lembrei
de alinhavar...
p´ra vós
"camarigagem", gente boa
que à volta da revista
do Pessoa
escreve com prazer de
assinalar...
Cria, ilustra, edita e
gere
revista de grande
impacto
um Pessoa que prefere
não valorizar o
facto...
veleiro cruza o mar mesmo
defronte
à praia "Las Galletas"
que é a minha...
Gaivotas acompanham o
regresso
dos barcos
"ganha-pão" que com sucesso
se encheram lá na
faina da sardinha...
Na lota, algo ansioso,
aguarda o povo
para aceder ao peixe,
que de novo,
mercê da quantidade é
mais barato...
Cirandam gatos catando
festim
que as tripas, as
espinhas, peixe ruim,
amigos pescadores lhes
dão por trato...
nos rostos desses
homens tão cansados,
já madrugada cedo no
labor...
A rede vinha cheia de
pescado
e o barco dessa forma
carregado
mostrava a rija
fibra/pescador...
Eis quando a
"calima"*, de repente
se fecha assim num
sopro, estranhamente,
soando está
"sarronca"** em tom aflito...
Há barcos ´inda fora
por entrar
no porto salvador
daquele mar
a angústia é
transformada em alto grito...
que é dele o mando
sempre, a todo o instante,
no reino d´água calma
ou bem revolta...
Mostrou-se, desta vez,
compadecido,
c´os gritos deste povo
em alarido
em preces, porto
inteiro, ali à volta...
E entrado foi o barco
derradeiro
no porto salvador, como
o primeiro,
sardinha prata/viva,
em profusão...
O povo e pescadores
que horrores padecem
prostrados, de
joelhos, agradecem
à Santa Candelária em
gratidão...
pagando assim
promessas feitas preces
que a Santa Candelária
ouvira as gentes...
Poseidon, Virgem Negra
ou Neptuno,
acharam ser momento
oportuno
p’ra deixar os
canários tão contentes...
E aos primeiros
alvores da manhã
aqui respiro a aragem
fresca e sã
que a maresia impregna
bem no ar...
Sentado na varanda vou
olhando
os barcos, um a um,
que vão zarpando
saindo p´ra um mar chão,
a navegar...
um, dois, dez, quinze,
vinte, trinta e sete...
e de repente o mar se
enche de gente...
No estender da rede, o
coração
augura a fartura desse
pão
a cada dia em luta
persistente...
Manuel Maia
* Calima --- é o nome que os canários dão à tempestade de areia vinda do Sahara e que por vezes atinge a ilha.
** Sarronca --- é o sinal sonoro dado à navegação
aquando do calima ou nevoeiro.
domingo, 15 de novembro de 2015
P725: 48º Encontro da Tabanca do Centro - 30/10/2015
.
.
.
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Fotografias do Paulo Moreno
..
sábado, 14 de novembro de 2015
P724: ENTREGAS A LONGO PRAZO...
UMA CRUZ DE GUERRA... 41 ANOS DEPOIS
Transcrevemos um texto que nos foi enviado pelo Manuel
Ramos, um camarigo que tem participado nos nossos convívios em Monte Real,
integrado no grupo que ali se costuma deslocar ido de Torres Novas:
“Meus amigos, ontem foi um dia gratificante para mim.
Foi concluído um processo iniciado há 40 anos.
Em cerimónia militar realizada junto ao monumento do
combatente em Belém, foi imposta uma cruz de guerra ao meu amigo Fanha, que lhe
tinha sido atribuída em Janeiro de 1974.
Fui testemunha e “actor” dos acontecimentos que lhe
deram origem e acompanhei de perto todos os passos deste processo.
Em anexo fica a ordem do exército Nº 10 de 30 de Abril
de 1974 onde se encontra registada a condecoração.
M. Ramos”
O Carlos Pinheiro disponibilizou-nos a notícia saída
no “Jornal Torrejano” no passado dia 11 de Novembro, referindo a imposição da
Cruz de Guerra ao nosso camarigo Alexandre Fanha, em que faz ainda referência à
Ordem do Exército nº10 de 30 de Abril de 1974, onde se encontra registada a
condecoração.
“Jornal Torrejano Sociedade --- 2015-11-10
Alexandre Fanha Constantino, torrejano natural da Meia
Via, vai receber quarta-feira a cruz de guerra que lhe foi atribuída em Janeiro
de 1974 e que, por incidências relacionadas com o 25 de Abril, acabou por não
lhe ser entregue.
Alexandre Fanha, que foi atleta da equipa sénior do
Clube Desportivo de Torres Novas e que actualmente trabalha no ramo da
instalação de equipamentos de televisão, encontrava-se em Moçambique desde o
início da década, cumprindo o serviço militar no Exército Português. Com
formação de comando, veio a integrar a única formação de GE’s (grupos
especiais) então constituída para realizar e dar apoio a operações especiais da
tropa portuguesa, e foi ao serviço dessa companhia, mas integrado numa outra
regular, que Alexandre Fanha realizou actos de coragem e bravura que lhe
valeram, em Janeiro de 1974, a atribuição da cruz de guerra.
Com o 25 de Abril e as complicações político-militares
que acabaram por fazer-se sentir em todas as ex-colónias portuguesas, o militar
torrejano não recebeu a condecoração, mas quarta-feira, na praça do Império em
Belém, em acto comemorativo do dia do Armistício e diante das mais altas
patentes políticas e militares, Alexandre Fanha vai finalmente receber a cruz
de guerra.
Acabados os conflitos militares que envolviam Portugal
há mais de 40 anos e não tendo estado o país envolvido directamente em qualquer
outro cenário de guerra, pode afirmar-se que, para já, o torrejano Alexandre
Fanha vai ser o último português a receber a distinção atribuída por valorosos
feitos militares.”
Deixamos-vos um comentário final do Carlos Pinheiro
sobre esta cerimónia, que deveria ter merecido um mínimo de atenção da
Comunicação Social:
“Sabes, o Fanha, finalmente recebeu
ontem a CRUZ de GUERRA que lhe tinha sido atribuída em Janeiro de 1974.
Mas não consigo encontrar noticias
na Comunicação Social. Esteve lá o Presidente da Liga dos Combatentes, o
Ministro da Defesa, o CEMGFA e muitas outras entidades. Mas a Comunicação Social parece não ter dado importância à cerimónia ou então... nem sei o que
dizer.
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