sábado, 29 de julho de 2023

P1411: EQUÍVOCOS RELEMBRADOS...

                                                                A  RÉGUA  “T”

Para quem não sabe, a régua “T” (ou em T) é (era) um precioso auxiliar de trabalho de desenho. Hoje em dia já não se trabalha genericamente nas pranchetas (mesas de desenho) pois esses trabalhos são feitos em computador com programas cada vez mais completos e/ou complexos.

Mas, mesmo sem se tratar de “coisas da guerra” mas antes de episódio passado comigo “antes da guerra”, achei por bem partilhar convosco esta lembrança que me ocorreu, em parte, por ter sido despertado para recordações motivadas pelo artigo do Carlos e, por outro, por ontem ao estar a ver na TV um jogo de basquetebol onde no final (não me vou referir às polémicas, às barafundas do costume nos meios ditos desportivos) reparei que o Presidente da Federação Portuguesa de Basquetebol, dito “Manuel Fernandes” estava presente e a televisão mostrou-o bem.

Fez-se luz! Reconheci de imediato o “Manuel Fernandes” que é um “jovem das nossas idades”, do Barreiro, e foi meu colega de turma na Escola Industrial Machado de Castro, em Lisboa, quando ambos, entre os anos letivos 1964/65 e 1965/66 fizemos o que então se chamava as “Secções Preparatórias” para os exames de admissão aos Institutos Industriais, neste caso o de Lisboa.

Em termos desportivos, aqui na região da Margem Sul, embora isto não seja de modo algum impositivo, a verdade é que houve sempre uma maior “apetência” para o andebol em Almada, o basquetebol no Barreiro e o futebol em Setúbal e Barreiro também. Daí que o lugar que o “Manuel Fernandes” ocupa não me seja estranho, tanto mais que tinha a ideia, há já largos anos, que ele desempenharia um lugar semelhante, mas na Federação Distrital de Setúbal, embora nunca mais tivesse estado com ele.

Então, o que é que isto tem de relevante e onde entra o “T”?

Acontece que, não raras vezes, quando saíamos da Machado Castro, vários de nós ficávamos um bocado por um espaço designado por “Jardim Cinema”, no lado direito de quem desce a Av. Álvares Cabral em direção ao Largo do Rato, onde para além de cinema que havia no 1º andar havia também um espaço enorme com mesas de bilhar, locais para ténis de mesa, matraquilhos, etc.

Numa bela tarde, no fim das aulas que, no caso, tinham sido de desenho técnico, lá fui eu também descontrair e fazer uns jogos, quando o colega Manuel Francisco Fernandes apareceu com um “T” e a dizer que eu lhe tinha trocado o “T”, sendo que, realmente, o que ele trazia era muito parecido com o meu (era o meu, de facto), com aquele que eu tinha ali ao lado, arrumado junto à pasta e à espera de acabar os jogos.

Claro que houve uma troca de argumentos sobre a “paternidade” dos equipamentos que terminou quando ele disse e demonstrou que o seu verdadeiro “T” estava identificado na parte de baixo, visível para quem sabia, com a palavra “MANFRAFER”, que seria uma sigla do seu nome Manuel Francisco Fernandes.

Argumento irrefutável! Desfeito o equívoco, lá seguimos contentes e satisfeitos, como era apanágio daqueles tempos.

Lembrei-me disto ao revê-lo na TV. Não pretendo que tenha um “fundo moral”, mas pode servir para alertar que devemos ter sempre cuidado com as coisas que nos dizem respeito.

Hélder Sousa

Fur. Mil. Transmissões TSF

domingo, 23 de julho de 2023

P1410: MUITA EXPERIÊNCIA ACUMULADA...

             FAZER  ANOS  DEPOIS  DOS  SETENTA


É curioso isto de ir fazendo anos a partir dos setenta, não digo de propósito envelhecendo, porque ficar velho é uma coisa e fazer anos é outra.

Podemos ir fazendo anos e, claro, as dores aparecem, as articulações não ajudam, uma série infindável de achaques fazem-se presentes, mas não temos que ficar velhos, isto é, não temos que ficar como aqueles que de quem se diz está um chato, está um velho!

O cérebro envelhece?

Não sei, não faço ideia, (tirando obviamente as doenças que o possam atacar), mas tenho para mim que continua a “trabalhar” perfeitamente e mais ainda, que nos guarda surpresas fantásticas.

É que faz-nos lembrar de coisas passadas a que não ligávamos nada, e agora são motivo para um sorriso que nos aparece na boca, para uma conversa, não só com os mais novos, mas também com os da nossa idade, conversas que a maior parte das vezes arrancam gargalhadas aos intervenientes e fazem as delícias dos mais novos que as ouvem.

Alguns desses mais novos até nos olham com aquele olhar de quem se espanta como o pai, o irmão, o amigo, fizeram aquelas coisas que estão a contar e, afinal, se divertiram tanto com coisas tão simples.

E quando avançamos para os acontecimentos mais arriscados, mas temerários, mais aventureiros, quase nos digladiamos amigavelmente a ver quem fez “pior”, mais arriscado, enquanto os mais novos ficam espantados com as loucuras que aquela gente de mais idade fez durante a vida.

Às vezes até ficamos todos orgulhosos quando os ouvimos contar aos amigos das suas idades, as aventuras do pai, do irmão ou do amigo!!!

E é curioso que não se cansam de ouvir repetidas essas histórias de um passado que não conheceram, e às vezes até são eles que no-las recordam, para que as repitamos, fazendo-o nós sempre com todo o gosto e acrescentando sempre um qualquer pormenor para dar mais sumo à história tantas vezes recontada.

A gente até pensa às vezes que devia escrever aquelas histórias, mas o que é verdade é que lidas perdem bastante do seu encanto e, claro, não lhes podemos acrescentar mais uma coisa ou outra que mesmo não sendo totalmente verdade, não são, com certeza, mentira e dão mais brilho à narrativa.

E o que é engraçado é que a gente só se vai lembrando destas coisas à medida que vamos fazendo anos, talvez assim a partir dos setenta, e por isso mesmo não vamos ficando mais velhos, vamos é acrescentado anos às histórias dos nossos anos!

Joaquim Mexia Alves