quarta-feira, 26 de agosto de 2020

P1247: COZINHA GOURMET...


O PETISCO DO JOSÉ ORABÉ

Fazia-se noite no Mato Cão e eu lá fui dar a minha voltinha pelas duas ou três tabancas dos soldados, entre os abrigos (se é que se podia chamar àquilo abrigos), para dar as minhas boas noites ao pessoal e assegurar a minha presença ali no meio deles, tanto mais que passado pouco tempo seria noite escura, pois o Mato Cão não sabia o que era luz!

Ao passar junto da tabanca do José Orabé (se a memória me não falha), fui atraído por um cheiro carregado de paladar que saía duma qualquer panela à porta da tabanca.

O cheiro inconfundível do óleo de palma a cozinhar pequenos pedaços de carne.

Não resisti e pedi ao Orabé que me deixasse experimentar, o que ele muito atrapalhado quis negar.

Mas Alferes é Alferes e o direito “imperou” e lá experimentei uma espécie de coxa de um qualquer animal de um sabor extraordinário.

Claro que lhe perguntei o que era aquilo ao que ele veementemente se negou a informar… e só depois de muita insistência e o exercício de alguma autoridade me foi fornecida então a proveniência do manjar.

De cara no chão disse-me o Orabé: São ratos da mata, Alfero!!!

A Guiné era a Guiné e como tal o petisco não deixou de ser petisco - que não me importava nada de o repetir um dia!!!!

Joaquim Mexia Alves

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

P1246: A EVITAR NO VERÃO


BICHOS POUCO RECOMENDÁVEIS…


José Belo
Custa a acreditar que no Círculo Polar Ártico as carraças existam em abundância nas curtas semanas  que dura o Verão local. Sobrevivem aos 40 graus negativos e à escuridão, espalhando-se agora por todos os animais que vivem na floresta (e são muitos!). Desde as manadas de renas aos alces, ursos, gazelas, linces, raposas, etc.

Os cães usam nesta época coleiras especiais impregnadas  com um produto químico contra a carraça.

São curtas as semanas em que estão activas mas podem causar sérios problemas de saúde para toda a vida. A doença chama-se aqui borelia; não sei como aí será denominada, mas creio que tem o mesmo nome.

As renas e os outros animais movem-se em distâncias enormes desde o norte da Rússia ao Atlântico e nos últimos anos têm transportado uma espécie de carraça que não existia na Escandinávia, para a mordedura da qual não há o mínimo remédio.

Nas florestas e estepes estas carraças, transportadas tanto pelos rebanhos de milhares de renas como pela muito numerosa fauna selvagem, são um verdadeiro flagelo durante as 3 semanas do Verão local.

As febres, graves inflamações cerebrais, borelia, etc, causam doenças crónicas, algumas delas mortais pela não existência de tratamento para as mesmas. Todos os que por aqui vivem se vacinam durante anos sucessivos, mas infelizmente as novas espécies de carraças trazidas ultimamente desde as estepes russas ultrapassam os efeitos das vacinas existentes.

Este pequeno animal resiste não só aos quarenta graus negativos dos nossos Invernos como aos nove meses de contínua neve no solo (Um pouco como os geniais políticos lusitanos que a tudo sobrevivem).

Precisamente neste período do ano chegam do estrangeiro numerosos “ranchos” de trabalhadores (muitos tailandeses) contratados pelas fábricas de frutos enlatados para colherem uma quantidade de toneladas das mais variadas bagas aqui existentes e muito apreciadas como compotas, marmeladas, geleias, ou nas variantes de frescas ou congeladas. As exportações para a Alemanha, entre outros, são enormes.


Depois de introdução às realidades do mato selvagem envolvente feita normalmente por um capataz lapão, tudo transmitido no noticiário da TV local, um dos tailandeses preocupado com a numerosa fauna selvagem que iria encontrar pergunta ao lapão:
- Qual é o animal mais perigoso passível de ser encontrado nas florestas locais?

O lapão,depois de uma longa pausa meditativa (quase a “modos que” alentejana) responde: - A carraça!

As febres, graves inflamações cerebrais, borelia, etc, causam doenças crónicas, algumas delas mortais pela não existência de tratamento para as mesmas. Todos os que por aqui vivem se vacinam durante anos sucessivos, mas infelizmente as novas espécies de carraças trazidas ultimamente desde as estepes russas ultrapassam os efeitos das vacinas existentes.

Desde o extremo sul da Europa até aqui já bem dentro do Círculo Polar as víboras existem!... Parece incrível mas, com as temperaturas do inverno, a escuridão e os metros de neve e gelo no solo, estes animais entram em hibernação e acordam no mês de Junho.

Estando activas nesse curto período, é recomendável ter-se em casa ampolas de soro antiofídico. A mordedura num adulto saudável não costuma causar perigo de vida, mas quanto às crianças a coisa pode ser francamente grave.

Quanto aos nossos inseparáveis cães, o problema também é sério pois são normalmente mordidos no focinho.

As injeções de soro antiofídico também são aplicáveis às “alimárias”. De qualquer modo a vastíssima área da Lapónia está bem coberta pelos helicópteros ambulância em casos de gravidade.

Enfim... a Lapónia não se resume a renas… e vodka!

José Belo


quarta-feira, 12 de agosto de 2020

P1245: SERÁ QUE HÁ PREDESTINAÇÃO? OU COINCIDÊNCIAS?


CONTA-ME COMO FOI
OU: APRENDER A SER TSF…

Helder Valério Sousa
Há uns anos passou na RTP1, aos domingos à noite, uma série que salvo erro se chamava “Conta-me como foi”, que em certa medida retratava a evolução histórica da sociedade portuguesa percorrendo os anos 60 e entrando nos anos 70 do século passado.

A história centrava-se numa família lisboeta e aparentava ser narrada pelo filho mais novo dessa família, o qual à data frequentava a escola primária e que, juntamente com dois colegas e vizinhos, estava permanentemente envolvido em sarilhos, problemas e situações caricatas devido à sua grande curiosidade, espírito inventivo e ansiedade de aprender mais.

O pai do rapaz era funcionário público e ainda biscatava numa tipografia, estando depois a trabalhar no ramo imobiliário (na fase de desenvolvimento da construção desregrada), a mãe evoluiu de dona-de-casa para empreendedora no ramo das modistas, a avó (mãe da mãe) estava sempre presente e pronta a ajudar em tudo o que fosse necessário.

Havia ainda um irmão mais velho, estudante universitário já envolvido em movimentos estudantis e em vésperas de poder ingressar no serviço militar, e uma irmã apostada em alcançar a sua emancipação, com atitudes que a levavam a contrariar as ordens do pai – uma viagem a Inglaterra mal aceite pela família e experimentando depois a vida de teatro, também alvo de muitas reacções familiares.

Mas vou ficar por aqui na narrativa e enquadramento da série porque isto, em si mesmo, pode exacerbar os ânimos dos bernardos e argumentarem que não tem nada a ver com o Blogue. Não será bem verdade porque a época retratada era a época que todos nós vivemos; o que pode ser contestado é o percurso narrativo, que podia ser qualquer outro, mas que ainda assim, para mim, estava muito bem.

Afinal, a que propósito é que vem tudo isto?

É que por acaso, num dos episódios, quando os três rapazes estavam conversando com um jovem do bairro já mobilizado para a Guiné, procuraram saber como poderiam depois manter o contacto. Lá veio a indicação de que seria através dos rádios, através das transmissões

Perguntando daqui, pesquisando dali, o senhor do quiosque arranjou-lhes um livro com o alfabeto morse, falou-lhes do telégrafo e eles foram procurar a ajuda do professor para encontrarem a melhor forma de tratar do assunto; depois, com a ajuda de alguém que lhes disponibilizou equipamento de telegrafia, inclusive uma chave de morse, lá foram montando umas comunicações para funcionar entre as casas de dois deles.

Pois não é que me revi quase totalmente na situação? E sabem porquê?

Porque quando frequentava o 1.º ano do então Curso de Montador Electricista na Escola Comercial e Industrial de Vila Franca de Xira, eu e o meu vizinho do andar de baixo (o João Cunha) fizemos quase exactamente o mesmo.

Ele tinha um primo que trabalhava nos CTT e que nos arranjou uns equipamentos (chaves de morse e ponteiras de escrita em tambor), o que nos permitiu fazer uma ligação entre as nossas casas, através de fios lançados exteriormente e passando pelas janelas. 

As bobinas foram feitas por mim na Oficina de Electricidade e lembro-me que tínhamos um conjunto de pilhas que permitiam fornecer ao equipamento a energia necessária.

Foi muito engraçado, tínhamos o conhecimento do código morse e obviamente que o utilizávamos para comunicar coisas que só nós entendíamos (pelo menos nas redondezas isso era verdade). E esses pequenos segredos tornavam-nos importantes.

Não sei exactamente a importância que isso possa ter tido no meu enquadramento na vida militar, se foi alguma predestinação, se o facto de eu ter referido o conhecimento do código morse quando dos testes psicotécnicos teve algum efeito decisivo, ou se foi qualquer outra coisa.


A verdade é que no final da recruta, no 1.º Ciclo do CSM, em Santarém, saiu a minha especialidade e lá estava indicado TSF, assim, simplesmente, e fui o único em todos os elementos que compuseram a 3.ª incorporação de 1969.

Acreditem ou não, na ocasião nada me ocorreu, até porque não estava a ver o que é que aquilo queria dizer, nem souberam (ou quiseram) informar-me; apenas quando fiquei com a guia de marcha para o BT (Batalhão de Telegrafistas) é que percebi o que poderia significar e só nessa ocasião é que me veio à lembrança que já tinha sido telegrafista

Sempre é bom treinar!...

Portanto, coloca-se a questão:. Há predestinação? Há coincidências?

Hélder Valério Sousa
Fur Mil Transmissões TSF

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

P1244: VIZINHOS AMISTOSOS


Mais uma espécie com que o nosso camarigo José Belo costuma cruzar-se nas suas deambulações, lá no isolamento do seu refúgio na Lapónia. Afinal estes e outros animais são a sua companhia habitual… e os vizinhos mais próximos que tem…

“CORVOS DE GUARDA”…

José Belo
São comuns em toda a Suécia, Noruega e Finlândia, principalmente nas zonas mais a norte destes países, umas aves da mesma família que os corvos, mas com um tamanho quando adultos cerca de 3 vezes superior.

Os corvos vulgares existentes na Escandinávia não são negros como os de outras paragens, mas sim de uma penugem cinzenta acastanhada. Em contrapartida estes "Korpar", de seu nome em sueco, têm a cor  dos nossos corvos mantendo-a todo o ano, independentemente das vulgares camuflagens adaptativas à cor da neve de outros animais aqui na Lapónia.

Sendo o corvo vulgar considerado um dos mais inteligentes animais, estes Korpar conseguem de longe ser superiores.

Poisados em locais com uma boa visão de tudo o que se passa em seu redor, seguem atentamente (todo o dia) as actividades humanas da casa,  ou quinta, por eles escolhida. 

Como atentos "cães de guarda" reagem com os seus gritos intensos quando surgem visitantes não familiares ao local, não o fazendo se são os habitantes normais da casa quem se movimenta.

Quanto às pessoas por eles bem reconhecidas, os sons que provocam variam sempre de acordo com o indivíduo que observam. Estes sons são de tal modo diferentes consoante as pessoas que vivem na casa, que é impossível não os "compreender" em pouco tempo.

A sua contínua atenção a tudo  o que seja actividades humanas fez com que, na época dos Vikings, estas aves fossem consideradas as favoritas do deus superior da mitologia de então (Odin).

Segundo  tradição profunda este usava-os como mensageiros informadores de tudo o que os humanos iam fazendo.

Eram de tal modo considerados entre os Vikings que dois deles, os favoritos de Odin tinham nomes próprios, "Hugin" e "Munin".

José Belo