segunda-feira, 27 de setembro de 2021

P1312: MAS TUDO ACABOU BEM...

                                         É UMA INJUSTIÇA!...

Talvez se recordem de haver, há muitos anos atrás, uma série de desenhos animados com o Calimero, um patinho preto que usava uma casca de ovo à laia de chapéu, e que passava o tempo a lastimar-se de tudo o que lhe acontecia: “É uma injustiça! É uma injustiça!”.

Foi um pouco assim com uma decisão das chefias que me fez sentir que não tinha sido tratado em plano de igualdade com outros meus camaradas.

Mas vamos começar pelo princípio: Iniciei a minha comissão na Guiné em Novembro de 1972 e, apenas quatro meses depois de lá ter chegado, fui recambiado para Lisboa para recuperar das mazelas sofridas na ejecção de um avião Fiat G-91 atingido por um míssil.

Naquele tempo a medicina aeronáutica ainda estava um pouco incipiente e o Hospital da Força Aérea ainda não existia. Assim, a minha recuperação passou pelo Serviço de Ortopedia do Hospital Militar (do Exército), que tratou razoavelmente da recuperação da minha perna partida. O mesmo não posso dizer de outros dois aspectos importantes que foram descurados: A recuperação da minha coluna, que tinha sofrido uma compressão de vértebras de 2 centímetros (perdi 2 cms de altura, que não recuperei…) e o apoio psicológico para ultrapassar o stress da situação vivida, agravado pela necessidade de me adaptar à ideia de voltar a operar no mesmo teatro de operações.


O "corpo do delito" - O Fiat G-91 5413 abatido em 25 de Março de 1973 na zona do Guileje
(Desenho do Paulo Moreno, créditos reservados)

O facto é que esses dois aspectos acabaram por ficar à minha conta no meu regresso á Guiné quatro meses depois – e se no primeiro caso pouco pude fazer para além de ver a coluna a piorar com o tempo, já a readaptação à actividade aérea foi ultrapassada com grande esforço da minha parte, sem nenhum acompanhamento profissional e dependendo unicamente de mim e da possível solidariedade dos outros camaradas.

No ano de 1973 acabei por não gozar férias, para compensar o tempo perdido na minha recuperação; e em 1974 as únicas férias que gozei na comissão acabaram por coincidir com o período revolucionário pós-25 de Abril… Tinha chegado a Lisboa em 22 de Abril de 1974…

Calculam o meu espanto quando, no regresso à Guiné, fui informado de que os meus três camaradas que se tinham igualmente ejectado, tinham “passado” pela Guiné para fazerem o desquite e encerrarem a sua comissão de serviço. Parece que a argumentação terá sido a dificuldade de adaptação dos pilotos à actividade aérea depois dos traumas psicológicos sofridos…

Naturalmente perguntei: “Então e eu?!...”. - “Ah, pois. Parece que consideraram que tu podias continuar, que já tinhas passado a parte difícil…” (Na altura eu já tinha feito cerca de mais 9 meses de comissão, fazendo das tripas coração e readaptando-me como possível às rotinas do dia-a-dia).

A irritação acabou por me passar. A actividade aérea passou a ser mais reduzida na fase final da minha comissão (depois do 25 de Abril), não passei por situações de grande risco e, chegado o termo da minha comissão, em meados de Agosto de 1974, pude regressar à metrópole com a satisfação do dever cumprido… e sem dever nada a ninguém…

Mas ainda hoje penso quais foram os critérios para um tratamento diferente entre pessoas que tinham passado pelo mesmo, e sem me ter sido transmitida uma palavra sequer sobre o assunto…

Miguel Pessoa

 

 

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

P1311: ENGANANDO OS INCAUTOS...

           O CONTO DO VIGÁRIO E A GUERRA COLONIAL

Há gente capaz de tudo.

Com um esquema bem urdido, bem montado, acercam-se das pessoas que na sua vida simples nunca pensam que o diabo pode estar atrás da porta e, zás, são enganadas por vezes com coisas, de tão simples e credíveis, que ninguém se atreve a pôr em causa.

Penso que o conto do vigário é a trafulhice em que quase toda a gente pensa que nunca cai. Mas estamos enganados e lá vem o dia em que baixamos a guarda, abrimos as defesas e, pronto, somos enganados pela mais estapafúrdia das encenações.

Uns são enganados pela sua ambição, outros são enganados pela sua noção de solidariedade e outros pelas suas fraquezas, pelo seu amor aos que estão longe. Tudo serve para enganar os incautos.

Veio este assunto à lembrança pois também alguém da minha família foi em tempos enganado, quando a mentira fez tocar as campainhas do seu desvelo, da sua preocupação quando eu estava a cumprir o meu tempo militar na Guiné.

Um dia, lá para o fim de ‘73, apresentou-se em casa dos meus pais um individuo praticamente da minha idade, que se apresentou como meu amigo, igualmente a cumprir comissão comigo na Guiné.

Pobre coração da minha mãe - deu um salto, franqueou as portas e bebeu avidamente o que ele dizia. Que me conhecia muito bem, que eu mandava cumprimentos e que também lhe tinha transmitido alguns pedidos de coisas que pretendia que ele me levasse.

A minha mãe estava sozinha em casa e ofereceu-lhe almoço, ao que ele disse que não tinha tempo pois ia apanhar o comboio no Valado dos Frades para Lisboa, de forma a embarcar novamente para a Guiné. A minha mãe foi recolher o que ele dizia que eu lhe tinha pedido, embora estranhando pois nunca lhes pedia nada nas cartas, lá arranjou meias, cuecas e mais que ele inventou, juntou alguns chouriços,  uma garrafa de ginja David Pinto,  pois sabia bem a saudade que tinha desses petiscos.

Aproveitou para me mandar umas fotos a cores de um rolo, que tinha mandado para ser revelado e deu-lhe o dinheiro todo que tinha em casa, pois também eu o tinha solicitado. Está claro que não deu muito, pois era coisa que não abundava lá em casa, mas deu-lhe o que lhe fazia falta,  de certo.

Já que ele não podia almoçar, fez-lhe um farnel para ele comer no comboio e, ala que se faz tarde, ele foi-se embora.

Tudo isto se passou de manhã e, quando o meu pai chegou a casa para almoçar, ela contou-lhe ainda toda eufórica o que se tinha passado, pois não era todos os dias que se tinha contacto com um amigo do filho, que lhe tinha ido dar de viva voz noticias suas. Ele disse-lhe logo, “Já foste enganada!”.

Foram logo à praça dos táxis, onde perguntaram pelo sujeito; logo o taxista,  até nosso vizinho, se apresentou como tendo sido ele a ir levá-lo, acrescentando que o dito tinha deixado esquecido um embrulho no banco de trás, que não sabia de quem era.

O que já se temia, ficou logo ali comprovado.

A minha mãe fartou-se de chorar, apesar das tentativas do meu pai para minorar a importância do acontecido. As cuecas e meias voltaram para a respectiva gaveta, o resto desapareceu, como também desapareceu o dinheiro…

Costuma-se desejar, quando nos enganam com dinheiro, que o patacão lhes sirva para o médico ou para a farmácia. Fraca, forte ou inútil a vingança, mas que parece que nos conforta, à falta de uma justiça mais imediata e vigorosa.

É que na maioria dos casos é aquela que se consegue arranjar…

Veio-se depois a saber que não foi só a minha mãe enganada pelo individuo que explorou os sentimentos e as saudades de quem tinha os filhos longe.

Crime e Castigo é uma obra de Fiódor Dostoiévski e conta a história de um criminoso que não consegue viver com o sentimento de culpa pelo crime que cometeu. Era bom que isso acontecesse aos criminosos, o Mundo seria um lugar muito melhor de se viver sem dúvida nenhuma.

Juvenal Amado

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

P1310: DESENRASCANDO-ME À BOLEIA...

                                AS MINHAS VIAGENS

Inspirado pelos relatos que tenho lido das viagens que alguns amigos têm feito, achei que também poderia ser interessante dar-vos a conhecer algumas que fiz.

Espero que o amigo Branquinho não considere que estarei a “falar de mim e do meu umbigo”, mas isso será injusto considerar desse modo, na medida em que, tratando-se de factos ocorridos comigo, é inevitável que não me inclua no relato, a menos que arranjasse um personagem para me substituir, algum “alter ego”.

Viagens de barco fiz algumas. Coisa pouca, ou de pouca expressão. 

Travessias do Tejo, entre Tancos e Almourol, entre Lisboa (Terreiro do Paço) e Cacilhas ou Barreiro, ou entre Lisboa (Belém) e Trafaria, travessias do Sado entre Setúbal e Tróia, travessias do Guadiana entre Vila Real de Santo António e Ayamonte. Também fiz o que por aqui temos chamado de “o cruzeiro das nossas vidas” de Lisboa a Bissau. E aí, na Guiné, do Xime a Bissau. Mas também fiz alguns percursos no Mar Egeu, de Atenas (Pireu) a Mykonos, depois a Rhodes, depois a Patmos, depois Kusadasi e regresso ao Pireu. Em todo o caso, nada comparado com as viagens de “volta ao Mundo” que fomos vendo e lendo por aí.

Mas o que venho relatar são “viagens à boleia”. Outros tempos em que isso era possível sem a carga de perigos (vários) que hoje em dia nos fazem desaconselhar aos nossos familiares de se aventurarem nessas coisas.

No verão de 1968, depois de ter ido “às sortes” em Santarém, e na posse de algumas economias que consegui da apanha do tomate (para as fábricas da “Idal” e da “Sugal”), foi-me possível aproveitar as facilidades do “turismo estudantil” e, com um amigo de Vila Franca, José Carlos, de seu nome, resolvemos viajar em 14 de Agosto até Paris (viagem no “Sud-Express”), depois até Londres (com “voo económico”, cerca de 100$00 da época, de “Paris - Le Bourget”) e depois de Londres para Lisboa, em 11 de Setembro, que custou, lembro bem, 1.020$00.

Não são estas viagens que vos quero transmitir, mas sim as boleias que apanhámos de Paris para a fronteira da Bélgica, da fronteira para Bruxelas e no regresso da capital belga a Paris. Cada qual com as suas particularidades.

A 1ª das três boleias (de Paris até à fronteira da Bélgica)

Para essa, que foi a primeira delas, fomos até à autoestrada que ia para Lille, depois de cruzar a fronteira belga, iria para Tournai, mas não foi nada fácil apanhar boleia. Uma grande “seca” de cerca de 4 horas. Os carros vinham quase todos cheios de pessoas que regressavam de férias (estávamos no final de Agosto). O tempo ia passando, penosamente, até que em determinado momento, em que eu até estava de costas para o trânsito com um saco da TAP a tiracolo, com as letras e o logotipo bem visíveis, encosta uma viatura, apenas com o condutor, um homem de meia idade, e convida-nos a entrar depois de perguntar para onde queríamos ir.

Dadas as circunstâncias, eu e o José Carlos entreolhámo-nos interrogativamente, com alguma apreensão, mas lá aceitámos a oferta de transporte, tanto mais que a jornada já ia longa.

Após a entrada ficámos logo a perceber o que tinha motivado a paragem e a oferta de boleia. O nosso generoso benfeitor era um admirador confesso do regime político então vigente em Portugal, fez questão de o declarar, tendo referido que foi a identificação do saco da TAP que o motivou. Depois de inquirir o que é que nós estudávamos (eu em engenharia e o Zé Carlos em economia), lá nos aconselhou a mantermos a “fidelidade aos princípios da política governamental do nosso país e ao repúdio pelas ideias estrangeiras”.

Ele era um notário, que tinha ido levar a família a fazer férias algures na Normandia, mas teve que regressar a casa, perto da fronteira belga, a fim de terminar uns processos, daí que estivesse com disponibilidade de espaço e tempo para nos transportar.

Ao aproximar-se da sua casa, uma espécie de mansão, com cave, piso térreo, andar superior e sótão, passámos por algumas construções de tipo militar tendo ele aproveitado para revelar melhor os seus pontos de vista, esclarecendo serem restos da linha defensiva (“linha Maginot”) que “eles” (os franceses, seus alegados compatriotas), tinham construído para evitar uma invasão alemã (que tinha do outro lado a “linha Siegfried”) mas “os alemães fintaram-nos pois vieram por cima”, rindo-se gostosamente. Percebeu-se bem de que lado estava.

Insistiu em mostrar a casa e a propriedade, dizendo que conhecia bem o pessoal da fronteira, que depois nos ia lá levar e facilitar a passagem (o que aconteceu). No que se pode entender ser a traseira da construção habitacional (e escritório) tinha aí num quadrante do terreno uma piscina, noutro quadrante um “court” de ténis, noutro uma espécie de bosque com umas camas de rede estendidas entre árvores e no outro quadrante havia mais qualquer coisa que agora não recordo. Sei que na periferia envolvente de tudo isto tinha um género de estrada em terra batida que ele aproveitou para nos demonstrar a sua perícia a conduzir a viatura, fazendo uma condução rápida em várias voltas. Uma loucura!

Na visita à casa voltou a apreensão. “Visitar o sótão? Será que nos vai sequestrar lá? Visita à cave? Mas o que é que ele quer?”

Bem, mesmo com algumas reservas mentais e em atitude defensiva, lá fomos ao sótão. Dado que tudo em volta no exterior era mais ou menos plano, as vistas davam para alcançar distâncias significativas. Na descida à cave deparámo-nos com a produção de cerveja artesanal. Fomos contemplados com um saco de nozes e duas garrafas dessa cerveja caseira cada um (que bem foi a nossa “safa” lá mais à frente na noite) e fomos levados à fronteira onde depois de esclarecer os guardas franceses e os belgas que se tratavam de “estudantes amigos portugueses”, fizemos a passagem facilmente e depois das despedidas, lá seguiu a nossa jornada.

A 2ª das três boleias (algures da fronteira franco-belga até Bruxelas)

Entretanto a noite tinha-se aproximado, havia um género de lusco-fusco, e a boleia também não foi imediata, embora não chegasse a uma hora de demora.

Lá estávamos a pedir aos carros que passavam, até que parou uma furgonete que no imediato não deu para perceber bem o que era. Perguntaram, o condutor e a mulher, para onde íamos e lá nos disseram que ficavam na periferia de Bruxelas mas que nos levavam. Só quando a porta de deslizamento lateral da furgonete se abriu é que nos apercebemos da existência de 4 crianças vestidas à moda cigana (tal como depois verificámos também estarem os pais) mas lá confiámos e seguimos viagem com eles, conversando em francês sobre nós e sobre eles.

Tal como tinham dito deixaram-nos, por assim dizer, às portas de Bruxelas, mais ou menos como se fosse o Campo Grande e o nosso destino era a zona da Baixa, sendo que lá era perto da Ópera, e só nesse momento nos apercebemos que não tínhamos francos belgas (esquecimento imperdoável) para pagar elétrico (trolley) ou táxi e vá de vencer a distância palmilhando o caminho, comendo nozes e bebendo cerveja.

A 3ª das três boleias (de Bruxelas a Paris)

No terceiro dia, cumpridas a missão e a visita à capital belga, dispusemo-nos a regressar a Paris. Já nessa altura parece que “teremos sempre Paris….”

Para não variar procurámos obter boleia para a viagem. E desta vez não demorou muito até que um “Opel Commodore” parasse junto a nós e nos oferecesse o desejado transporte. Tratava-se de um jovem casal holandês, ele um engenheiro químico da “Dupont de Nemours” e ela não me recordo, que iam a Paris, que não conheciam e nem faziam ideia como chegar ao hotel de destino, para depois participar numa conferência qualquer.

Claro que, como portuguesitos desenrascados, dissemos logo que não havia problema, já conhecíamos as voltas a dar em Paris e que íamos dar as indicações para chegarem ao hotel com toda a facilidade. Depois tínhamos as cadernetas de tickets de Metro e íamos à nossa vida, ou seja, ao nosso alojamento da zona de Les Halles.

A viagem foi agradável, parámos para comer em estradas secundárias, lembro de beber a minha primeira Coca-Cola, e depois as coisas em Paris correram como lhes tínhamos dito. Chegaram ao Hotel, ficaram contentes, nós também e pronto, acabou a 3ª viagem.   

Estes relatos tiveram apenas por alvo as boleias, não o que se viu, ou fez, ou visitou, tanto em Partis como em Bruxelas ou Londres, pois isso seriam outras histórias, mas esta aprendizagem do que era então “viver na Europa para lá dos Pirenéus” ajudou muito à tomada de consciência, ou à sua consolidação, do que era necessário fazer em Portugal.

Hélder Valério Sousa

Fur. Mil. Transmissões TSF

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

P1309: LEMBRANDO UM HOMEM DIGNO

           CARLOS DE AZEREDO, UM HOMEM DIGNO,

                      NOBRE E CORAJOSO


por José Belo

A citação do General Douglas McArthur aquando do seu discurso de despedida ao Congresso Norte Americano em 1951 bem se poderia aplicar à morte do Sr. General Carlos de Azeredo: “Old Soldiers never die; they just fade away” (Os velhos soldados nunca morrem simplesmente desaparecem).

Tendo servido em Aldeia Formosa e Mampata sob as ordens do então Major Carlos de Azeredo, fiquei a ele ligado por forte e respeitosa amizade pessoal.

Tive a honra de dar uma pequeníssima colaboração aquando da preparação do seu livro “Trabalhos e Dias de Um Soldado do Império”

Já há muito a viver na Suécia, fui contactado por um dos seus filhos que então o apoiava na recolha de “histórias” relacionadas com a sua presença no teatro de guerra da Guiné (contacto facilitado pelo meu Amigo e Camarada José Teixeira).

Entre outros, os detalhes relacionados com a ataque a partir de Aldeia Formosa a importante base inimiga situada na proximidade, mas bem já dentro da República da Guiné-Conakri.

Os ataques com canhões sem recuo, morteiros 120 e mesmo foguetões 1122, tanto a Aldeia Formosa como aos Destacamentos de Mampatá e Chamarra, assim como as inúmeras emboscadas às colunas de abastecimento Buba-Aldeia Formosa-Gandembel, eram efectuados por forças inimigas desta base.

Num período em que os mesmos se estavam a intensificar, o Major Azeredo ordenou ao Capitão de Artilharia Ricardo Rei, então responsável por uma bateria de obuses 14 sediada em Aldeia Formosa para elaborar um plano de fogos para um ataque a esta base.

O Capitão Rei, que era um operacional bastante agressivo, tinha evidente vontade de cumprir a ordem. Lembrou no entanto ao seu superior que tal ataque viria certamente a causar “turbulências” tanto a nível do Quartel General de Bissau, como no Comando-Chefe e, não menos, entre os políticos em Lisboa pelas previsíveis consequências internacionais.

A resposta do Major Azeredo foi simples: "Precisamente!"

Depois de preparação cuidadosa, as granadas foram durante a mesma noite “enfiadas” na base inimiga, com as inerentes consequências provocadas por uma bateria de obuses 14 quando sob comando competente .

Não muitas horas passadas, Spinola desembarca do seu helicóptero em Aldeia Formosa. Trazia uma expressão facial que nada de bom indicava. Realmente as “turbulências” previstas estavam a surgir.

Depois de vívida troca de opiniões com o Major Azeredo, o Comandante-Chefe aparentou acalmar-se. Talvez (!) o respeito pela coragem da frontalidade de Carlos de Azeredo, então não muito habitual entre alguns dos responsáveis militares.

De qualquer modo, ao regressar ao helicóptero disse em voz bem audível: "Continue!"

Talvez tivesse contribuído para a falta de consequências disciplinares, por muitos previstas, o facto de tanto Spinola como Carlos de Azeredo serem oficiais da Arma da Cavalaria e o Comandante-Chefe sempre que, em conversa, se referia a Carlos de Azeredo, o apodar de um “Puro Sangue”. Talvez (Spínola, nascido em 1910, era vinte anos mais velho que o Carlos de Azeredo).

Recomenda-se a leitura do livro “Trabalhos e Dias de Um Soldado do Império” não só pelos acontecimentos relacionados com a Guiné mas, e principalmente, com tudo o relatado por vários testemunhos de outros militares quanto ao procedimento honroso do então Capitão Carlos de Azeredo.


José Belo