segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

P1333: FACILITANDO O PASTOREIO DOS GRANDES REBANHOS

A SUÉCIA CONSTRUIRÁ PONTES PARA AS RENAS ATRAVESSAREM ESTRADAS E FERROVIAS

'Renoducts' ajudará animais que precisam ir mais longe por comida devido ao aquecimento global

                           

Pastoreio de renas no reservatório hidroelétrico de Parki, Jokkmokk, Suécia.

Fotografia: IBL/REX/Shutterstock  Jon Henley

A Suécia vai construir até uma dúzia de pontes para que as renas possam cruzar com segurança as linhas ferroviárias e as principais estradas do norte do país, à medida que o aquecimento global as obriga a ir mais longe em busca de comida.

A emissora pública Sveriges Radio disse que a autoridade de transporte pretende começar a trabalhar na primeira das novas pontes, denominadas “renoducts”, uma junção de ren (renas) e viaduto, ainda em 2021 perto da cidade oriental de Umea.

“Em um clima em mudança com condições difíceis de neve, será extremamente importante encontrar e ter acesso a pastagens alternativas”, disse à emissora Per Sandström, ecologista paisagista da universidade sueca de ciências agrícolas.

O aquecimento global está tendo um impacto devastador nas 250.000 renas da Suécia e nos 4.500 proprietários indígenas Sami que estão autorizados a pastoreá-las, com algumas pastagens de inverno ainda a recuperar de secas e incêndios florestais sem precedentes .

Os animais também estão tendo dificuldades no inverno para alcançar o líquen, que é uma parte fundamental de sua dieta. Enquanto os verões mais quentes ajudam o líquen a crescer, os invernos mais quentes e húmidos estão levando ao aparecimento de chuvas em vez de neve nos meses mais frios do Ártico.

Isso significa que quando as temperaturas caem abaixo de zero, camadas impenetráveis ​​de gelo se formam no solo - que normalmente seria coberto por uma crosta de neve muito mais macia - deixando as renas incapazes de sentir o cheiro da comida ou cavar para chegar até ela.

Cada vez mais os animais, criados pela sua carne, peles e chifres, têm de se deslocar mais longe em busca de comida, sendo obrigados a atravessar linhas ferroviárias ou estradas principais que muitas vezes são vedadas, ou onde correm o risco de serem atropelados e mortos.

As doze pontes planeadas nos condados do norte de Norrbotten e Västerbotten devem aliviar a situação – e também significa que as autoridades não são mais obrigadas a fechar a principal rodovia norte-sul E4 quando um rebanho está em movimento.

“Estou ansioso para que possamos atravessar sem perturbações”, disse um pastor de renas, Tobias Jonsson, à emissora, acrescentando que ele e seus colegas pastores foram consultados sobre a localização das pontes e seu projecto.

“Conseguimos garantir, por exemplo, que as pontes estivessem abertas no topo”, disse ele. “Há cercas de 2 metros de altura nas laterais, para que as renas não possam pular. Mas era importante para eles que não parecesse que estavam entrando em um túnel. Eles não querem ficar presos.”

Informação enviada pelo nosso camarada

 José Belo

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

P1332: OS QUE POR LÁ FICARAM...

Um texto escrito já há uns anos pelo nosso camarada Juvenal Amado e publicado então no blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné", que aqui reproduzimos com a devida vénia à Tabanca Grande e ao seu autor.

FILHOS DO VENTO… OU DA VENTANIA

Os jornais todos os dias mostram situações de pais que abandonam os filhos ou os matam. Há mesmo uns jornais especializados nessas notícias e que as desencantam em todo o lado. Chama-se a isso jornalismo do terror, desgraças e dos maus costumes.

Estamos num país dito civilizado com obrigatoriedade escolar bem longe da média escolar de há 40/50 anos atrás. No entanto estes casos continuam.

Naquele tempo, fizeram o que era mais fácil, que foi abandonar à sua sorte filhos que seriam mal olhados numa sociedade onde o preconceito social condenava os responsáveis por estas situações a algum estigma, especialmente no Portugal profundo das pequenas vilas e aldeias, dominadas por conceitos morais, raciais e éticos a roçar em muitos casos tempos bem anteriores ao Século XX. E lá diz o ditado que pena que não se vê, não se sente!

O que era perfeitamente aceitável lá, mergulhados que estávamos numa guerra em que se vivia grande parte da comissão, numa lógica de um dia de cada vez, tornava-se intolerável junto das namoradas ou esposas após o regresso e na moral de então.

As preocupações começavam a partir do momento em que pensávamos que íamos finalmente regressar. Esses e outros medos passavam assim a ser uma constante no nosso dia-a-dia. Como não correr riscos e como fugir dos resultados de uma convivência amorosa, que agora resultava numa trágica fotografia e na indecisão quanto ao caminho a seguir? Aparecer à namorada - quando não esposa - com um filho mestiço até fazia ganhar suores frios, porque aventura é aventura, champanhe é champanhe, mas um filho assim caído de repente era o diacho.

Conheci um caso de um militar que mentiu quanto ao à data do seu regresso à Metrópole e quando a pobre foi à procura dele com trouxa e tudo, já ele estava em casa. Felizmente desse caso não tinham resultado filhos, mas também conheci outra situação em que o militar avisou a família bem como namorada, que ia ser pai e que era sua intenção levar o bebé para casa quando regressasse. Na altura disse-me que a situação tinha sido aceite senão com alegria, com conformismo e que estariam à espera do filho dele. Infelizmente o bebé uma menina por sinal, acabou por falecer no parto, dado que sendo a mãe de Bangacia, só recorreu aos serviços médicos já tarde para salvar a filha. Vi então o militar com lágrimas nos olhos, que se compreendiam perfeitamente em função ao seu envolvimento emocional.

Sabemos que nem todos militares ou ex-militares que ficaram no território agiram como este meu camarada. Está à vista que a grande maioria não lhe seguiu o exemplo - e com a independência, resolveram vir embora e deixar filhos para trás.

Talvez até nem tivessem consciência do muito sofrimento que acarretava a sua resolução.

Essas crianças deixaram ser guineenses e muito menos portuguesas. Ficaram sem estatuto, por isso apátridas. Ninguém os queria.

Aos mestiços trataram de os mandar ter com os pais à Metrópole, pois já não eram puros para serem naturais da sociedade que os viu nascer.

“Vai para a terra do teu pai, “cutima” (*) filho di puta” (Também me mandaram a mim para esses sítios muitas vezes)!

Em Angola, por exemplo, fizeram-se cartoons com os aviões carregados de retornados e os mestiços pendurados nas asas do avião, do lado fora.

As ameaças eram muitas. A razão era abafada pela violência latente, nós sabemos que nas sociedades em ebulição os novos aderentes ou de fresca data às causas, são muitas vezes mais perigosos e menos racionais.

Filhos diferentes abandonados pelos pais, sujeitos a uma sociedade que se radicalizou, foram rejeitados e excluídos como um tumor que denunciava as mães e as famílias de colaboracionismo com as tropas colonialistas, que se tinham tornado peçonha.

Nas campanhas de reeducação que se seguiram, quem é que aceitava de bom modo o ser apontado por ter privado tão de perto com as tropas tugas, que se tinham ido com malas e bagagens embora ao fim de 11 ou 13 anos de guerra?

Hoje quantos se esqueceram do que deixaram para trás? Dificilmente temos os resultados imediatos dos nossos actos, porque se tivéssemos, muito das decisões que tomamos ficariam por tomar.

Quem corta uma linha de água com uma construção, pensa que se viu livre do inconveniente mas, mais tarde ou mais cedo, a água forçará a passagem com resultados funestos. Nessa altura desejamos não ter feito a parede ou lá o que seja - e já é tarde. Ficamos felizes quando os resultados não são irremediáveis.

Por vezes ainda vale a pena tentar remediar, fazer as pazes com a sua consciência e o passado, certo de que a juventude de então, não justifica a omissão de hoje.

Juvenal Amado

(*) Nota: Em devido tempo, um comentário feito posteriormente  pelo Cherno Baldé sobre esta frase, que aqui deixamos com a devida vénia ao autor:

O palavrão em língua fula não é mais nem menos que um insulto quase que vulgarizado, mas que e preciso saber utilizar correctamente (como sempre na vida).

“Koto-inama”é uma palava composta por “koto” = orgão sexual feminino e “Inama” (literalmente significa: da tua) da mãe de quem se dirige o insulto.

Mas atenção, esta forma de insulto só é  permitida  de cima para baixo e nunca o contrário. Nunca se diz a uma pessoa mais velha: “C… da-tua-mãe”…

Diz-se Koto quando se expressa de forma e tamanhos normais. Diz-se Kotiou kotal para expressar tamanho maior, grau superlativo absoluto sintético.

Cherno Baldé


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

P1331: CORVOS ENVOLVIDOS EM ESQUEMAS...

Ainda a propósito do texto publicado na semana passada sobre os corvos “almeidas”, recebemos do nosso camarada José Belo uma actualização da situação, que revela a esperteza e oportunismo destas aves. Afinal, esquemas há-os em toda a parte, e os corvos - do norte ou do sul - não se livram da fama (e proveito) que têm…

 AFINAL… A ESPERTEZA DOS CORVOS NÃO É NOVIDADE!

Depois da saída do artigo anterior sobre os corvos “almeidas” há acontecimentos mais recentes que o completam e acabam por colocar a esperteza humana no seu lugar.

Quanto à exploração do trabalho dos corvos não se deve esquecer que a sua “actividade laboral” é exercida na sociedade sueca, ”domesticada”- como os corvos - por quase 100 anos de social democracia e de exemplares organizações sindicais que englobam literalmente quase tudo!

Só que as “alimárias”, depois de umas semanas de trabalho honesto para ganhar o seu sustento diário como funcionários camarários, entraram numa daquelas histórias…” de vitória em vitória até…”

Para evitar que os corvos introduzissem outro tipo de lixo na máquina, está foi dotada de aparelhagem detectora de nicotina.  só distribuindo a recompensa em comida após esta confirmação.

Não sabendo se os corvos terão efectuado visitas de estudo às actividades camarárias lá mais para o Sul, o facto é que, após curto período de tempo, aprenderam a introduzir o bico com a “beata” na caixa e rapidamente retirar a cabeça ainda com a “beata” no bico...

Repetindo o procedimento passaram a receber várias compensações em comida usando a mesma “beata”.

Vem à memória a frase de Michail Bakunin 1814-1876, filósofo, revolucionário e anarquista:

“Nada é mais desolador que um escravo satisfeito”!

José Belo

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

P1330: PROJECTO INOVADOR - CORVOS "ALMEIDAS"...

 O nosso camarigo luso-lapão José Belo divulga-nos uma notícia surgida

recentemente no “The Guardian” sobre um projecto avançado na “sua” Suécia,

texto  que reproduzimos com a devida vénia.

           EMPRESA SUECA USA CORVOS PARA

         RECOLHER PONTAS DE CIGARRO

 Corvídeos inteligentes tornam-se a mais nova arma na guerra de Södertälje contra o lixo das ruas.


Os corvos da Nova Caledônia são tão bons em raciocínio quanto uma criança humana de sete anos, sugere a pesquisa. Fotografia: Jolyon Troscianko/AP.  Daniel Boffey em Bruxelas

Corvos estão sendo recrutados para recolher pontas de cigarro descartadas nas ruas e praças de uma cidade sueca como parte de uma campanha de redução de custos.

As aves selvagens realizam a tarefa ao receber um pouco de comida para cada “pirisca” (*) que depositam em uma máquina sob medida projetada por uma startup em Södertälje, perto de Estocolmo.

“São aves selvagens que participam voluntariamente”, disse Christian Günther-Hanssen, fundador da Corvid Cleaning, empresa por trás do método.

A Fundação Keep Sweden Tidy diz que mais de 1 bilhão de pontas de cigarro são deixadas nas ruas da Suécia em cada ano, representando 62% de todo o lixo. Södertälje gasta 20 milhões de coroas suecas (£ 1,6 milhão) na limpeza das ruas.

Günther-Hanssen estima que seu método poderia economizar pelo menos 75% dos custos envolvidos na recolha de “beatas” de cigarro na cidade.

Södertälje está realizando um projeto piloto antes de potencialmente implantar a operação em toda a cidade.

Günther-Hanssen disse: “Eles são mais fáceis de ensinar e também há uma chance maior de aprenderem uns com os outros. Ao mesmo tempo, há um risco menor de eles comerem qualquer lixo por engano.

“A estimativa para o custo de apanhar pontas de cigarro hoje é de cerca de 80 öre [troco sueco] ou mais por ponta de cigarro, alguns dizem que duas coroas. Se os corvos apanharem pontas de cigarro, isso seria talvez 20 öre por ponta de cigarro. A economia para o município depende de quantas pontas de cigarro os corvos pegam.”

Tomas Thernström, estratega de resíduos do município de Södertälje, disse que o potencial do projecto depende de financiamento.

“Seria interessante ver se isso poderia funcionar em outros ambientes também. Também da perspectiva de que podemos ensinar os corvos a pegar pontas de cigarro, mas não podemos ensinar as pessoas a não as deitar para o chão... Esse é um pensamento interessante”, disse ele.

(*) “Beata”, ponta de cigarro