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Algures no estuário do Tejo,
a montante,
em enseada perdida na vasa,
ouvem-se madeiras ranger,
bater de cordames,
espaldanar de velas.
Algures no estuário do Tejo há vozes abafadas,
ordens secas,
passadas fortes em invisível convés.
Sombras furtivas vigiam da gávea......
Algures no estuário do Tejo,
a montante,
entre bancos de névoa há uma nau ancorada!
Algures no estuário do Tejo marinheiros de outrora.....
aguardam!
Sol poente sobre a barra.
Ventos de limo e sal.
Silenciosa armada em regresso......
Naus, Caravelas, Galeões, vapores e até modernos Paquetes,
voltam de mares longínquos,
de naufrágios esquecidos,
de viagens de pesadelo............
Os mortos das descobertas,
das guarnicões de Marrocos,
do Forte da Mina,
de Ormuz,de Malaca,
de Goa,
da China,
das Capitanias,
dos bandeirantes da Amazónia,
de Marracuene,
Chaimite,
das trincheiras da Flandres,
dos desterrados em Angola e na ilha maldita do Sal,
das picadas dos Dembos,
do Rovuma,
de Gamdenbel e Madina do Boé..............
Algures no estuário do Tejo,
a montante,
os raios vermelhos do poente reflectem-se em bandeiras esfarrapadas,
armaduras amolgadas, espadas quebradas,
elmos sangrentos de Alcácer Quibir,
nos corpos macilentos dos exilados,
em camuflados empastados em sangue e lama,
em camisolas de pescadores desbotadas pelos ventos gelados da Groenlândia,
em fatos de macaco rotos e remendados
dos emigrantes perdidos na solidão de todos os atalhos do Mundo...................
Algures no estuário do Tejo,
a montante,
em enseada perdida na vasa,
cobertos de neblinas estão os que.........ficaram!
Os que desesperando...esperaram!
Mães, noivas, filhos, irmãos, amigos.
ALGURES NO ESTUÁRIO DO TEJO ARDE UMA NAU ANCORADA!
Abisko/19 Maio 2010/J.Belo.
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Nota:
O José Belo, ao meu pedido de colaboração a todos os camarigos, respondeu-me com este belíssimo texto/poema.
Obrigado José Belo!
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