RECORDANDO
MENTIRAS “MALANDRAS”
DOS TEMPOS DA GUERRA DA GUINÉ
JERO |
O Dia das Mentiras - dia das petas, dia
dos tolos ou dia dos bobos - é uma celebração anual em alguns países
europeus e ocidentais, comemorada em 1 de Abril, pregando partidas e
espalhando boatos como
formas de assinalar a data. Uma delas diz que a brincadeira surgiu
na França.
Desde o começo do século XVI o Ano Novo era festejado no dia 25 de Março,
data que marcava a chegada da primavera.
As festas duravam uma semana e terminavam no dia 1 de Abril.
Em 1564, depois da adopção
do calendário gregoriano, o rei Carlos IX de França determinou que o ano novo seria
comemorado no dia 1 de Janeiro. Alguns franceses resistiram
à mudança e continuaram a seguir o calendário antigo, pelo qual o ano se
iniciaria a 1 de Abril.
Gozadores passaram então a ridicularizá-los, a
enviar presentes esquisitos e convites para festas que não
existiam. Essas brincadeiras ficaram conhecidas como plaisanteries.
Em países de língua
inglesa o dia da mentira costuma ser conhecido como April Fools' Day, Dia dos Tolos (de Abril); na Itália e
na França é
chamado respectivamente pesce
d'aprile e poisson d'avril,
literalmente peixe de abril.
Na Alemanha o
primeiro de april como Aprilschertz primeiramente
foi registado na Baviera em 1618, sendo que essa
popular tradição germânica certamente foi introduzida no Brasil pelas primeiras
levas de imigrantes alemães que se assentaram permanentemente no Rio Grande do
Sul a partir de 1824. Segundo a tradição,
além de contar mentiras, existe o costume de se enviar uma pessoa desavisada a
cumprir tarefas sem fundamento ou levar informações sem nexo para outrem.
E é tempo de colaborarmos com a história
(quase) mundial do tema que, pela mão de militares portugueses, também chegou à
Guiné nos tempos da Guerra do Ultramar.
Já tínhamos quase um ano de comissão na Guiné
(os militares da C.Caç.675 tinham desembarcado em Bissau em 13 de Maio de 1964)
quando o 1º de Abril de 1965 “chegou” a Binta (no Norte da Guiné)
O “Dia das Mentiras” foi comemorado de várias
maneiras graças ao engenho e arte de um militar que na C.Caç. 675 passou à
história com o nome de guerra do “30”!
E passamos à narrativa dos factos que tive a
sorte de recordar ao vivo e a cores porque estive há pouco tempo com o
“artista” principal…
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Mário Pinto, o "30" |
Estão passados mais de 50 anos e reencontrei o
“30”, alcunha com que passou à história o então soldado Mário Alberto Monteiro
Pinto, que nasceu em 15 de Julho de 1941 em Couto, freguesia de Santo Cristina,
bem perto de Santo Tirso.
Mário Pinto, soldado-atirador com o nº.
2330/63, foi uma figura muito popular na Companhia não só por ser um excelente
especialista do morteiro 60, que manuseava com destreza e mestria, mas
principalmente pelo seu invulgar sentido de humor, com que animava as hostes…
Algumas das suas
“partidas” – que aconteceram durante a noite - ficaram registadas no “Diário”
da Companhia como a “história do mangueiro”, “a caça aos gambuzinos” e da ”armadilha
para caçar uma hiena”.
A primeira das histórias acabava com um balde
de água em cima do candidato a um encontro íntimo com uma nativa debaixo de um
mangueiro. A dos gambuzinos (“mais velha do que a Sé de Braga”) mas que ainda
fez com que alguns menos avisados caíssem numa vala muito mal amanhada.
E, finalmente, “a da hiena” - que é requintada
e de que vale a pena contar alguns pormenores.
O ”Alcântara”, alfacinha com a mania de espertalhão,
foi convencido a cavar um buraco com mais de um metro de profundidade para
montar uma armadinha a uma hiena que nunca apareceu e se deve ter ficado a rir
algures na selva africana.
Esta história deu a volta ao quartel e o
“Alcântara” não ficou muito bem na fotografia e terá perdido alguma da sua
cotação de lisboeta vivido e “prá-frentex”.
Até que um dia, ou melhor uma noite, calhou a
vez ao “30” de ser alvo de uma “partida”, com sentido de humor
de gosto muito duvidoso…
Quando se deitou na cama (com mosquiteiro) na
sua caserna mal iluminada sentiu algo de estranho nas costas
e encontrou debaixo da manta uma jiboia morta.
Não se livrou de um valente susto e do nojo de
ter ficado com as suas costas cheias de sangue mas… momentos depois estava
sereno. Pegou no réptil, que teria uns 4 metros de comprimento, e arrastou-o
para fora da caserna.
Nunca
soube quem foi o autor da partida mas ainda hoje aposta no ”Alcântara”. Sem
rancores de qualquer espécie. E com um sorriso...
O Mário Pinto, mais conhecido pelo “30”,
não sabia então como todos nós, que Binta iria fazer parte das nossas vidas
«até ao fim do mundo»!
Vem aí mais um convívio do mês de Maio se o
Covid-19 se for embora mas, desde já, seguem 30 abraços para o Mário Pinto.
JERO.
1 comentário:
Nem o "30" me fez um comentário ! Ora gaita.
Lá se foi uma história para o caixote...
Fiquem bem que eu vou dormir a sesta.
JERO
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