SOBREVIVENDO…
Estávamos
no início de 1970. Eu tinha terminado o meu curso de pilotagem no T-37 poucos
meses antes - em Novembro de 1969 - e tinha passado de Sintra para a Ota, para
aí frequentar o Curso de Instrução Complementar para Aviões de Caça, no T-33
(imagem ao lado).
Ainda
não tínhamos recebido até aí grande instrução sobre técnicas de sobrevivência no caso
de um acidente ou abate (isso se tivéssemos ficado vivos, claro…).
Foi
precisamente na BA2 (Ota) que o pessoal do meu curso mais uma série de pilotos
arregimentados em diversos locais acabou por receber um curso ad-hoc ministrado por dois técnicos
americanos que se deslocaram ao nosso país para nos transmitirem alguma da sua
experiência nessa matéria (alguma do Vietnam, certamente).
Foi
assim que tomámos contacto com a preparação de armadilhas para capturar
pequenos animais, aprendemos a acender um fogo com paus e cordas, a fazer um abrigo
com restos do paraquedas, a utilizar uma pistola (mais propriamente uma caneta)
de very-lights, a ser recuperados por
um guincho no AL-III e, o mais penoso de tudo, a sobreviver na água.
Para
essas últimas sessões deslocámo-nos então para a zona da piscina de oficiais da
Base. E, se percebermos que o curso se efectuou no início do ano – talvez
Fevereiro, já não me recordo bem – podem calcular o frio que rapámos naquela
água, bem gelada…
Dentro
da piscina tomámos contacto com as técnicas de entrada na água a partir da
prancha dos 3 metros, a subida para os barcos insufláveis (de 1, 7 e 20
lugares) e a sua utilização e manutenção (sim, que os barcos insufláveis também
perdem ar e há que mantê-los a flutuar…) e, técnica que muitos leigos poderão
achar menos importante, a saber desenvencilhar-nos da calote do paraquedas, que
tem a mania de cair por cima do piloto quando entra na água. Nesse caso, manter
a calma é essencial para sairmos debaixo daquela armadilha, que já terá
provocado algumas mortes por afogamento nessas situações.
Enfim, não sendo demasiado exigente, lá acabámos o curso, não sem terem surgido algumas situações um pouco caricatas cuja lembrança ainda hoje me faz sorrir. Assim de repente recordo duas…
Outra
com muito menos graça, mas que acabou por correr bem, passou-se com outro
camarada de curso que, afectado pelo frio passado dentro de água, entrou em
hipotermia e quase que se ia apagando. Valeu-lhe o apoio imediato do médico da
Base, que o socorreu.
E o caricato surgiu quando, vendo dificultados os seus
esforços para reanimar o rapaz, o médico decidiu deitar-se ao seu lado, para o
aquecer com o calor do seu corpo. E o facto é que esse nosso camarada lá foi
recuperando as cores, sem lhe terem ficado quaisquer mazelas…
Nos
anos seguintes esses cursos foram sendo sistematicamente melhorados, passando
para áreas próprias na BA6 e em Tróia, a que se acrescentou posteriormente um
curso de Fuga e Evasão, ministrado na zona da Malcata (Beira Baixa). Mas sobre
esse curso que também fiz (em 1984, 10 anos depois de ter acabado a guerra em
África…) talvez um dia ainda escreva qualquer coisa neste blogue.
Miguel Pessoa
Nota: Algumas imagens retiradas, com a devida vénia, de
forumdefesa.com
defesanacionalpt.blogspot.com
2 comentários:
Para que não se pense que era tudo facilidades!!!
Abraços
Meu Överste (Coronel em Sueco)
Afinal os invejosos "palmípedes" da Infantaria sonhando(!) com confortáveis Messes de Oficiais da F.Aérea,boa comida e ,näo menos, as bebidas com gelo , desconheciam alguns destes detalhes.
("G'anda" médico com o seu sistema de aquecimento...quase Lapäo...quase!)
Um grande abraco do José Belo.
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