OS MEUS FANTASMAS
Tenho
as noites povoadas
de
estranhos fantasmas
que
se arremetem contra mim
e
não me deixam descansar.
Vêm
de longe
estes
fantasmas,
de
longe no tempo,
e
no espaço até,
vêm
de África,
vêm
de terras da Guiné.
Por
vezes atormentam-me,
fazem-me
sofrer,
fazem-me
chorar.
Por
outras vezes contudo,
fazem-me
rir,
obrigam-me
a viver,
povoam
o meu sonhar.
Há
noites em que acordo,
encharcado
em suor,
ou
serão lágrimas de dor,
que
molham o meu travesseiro?
Mas
outras noites há também,
em
que adormeço pacifico,
como
que envolvido na paz,
embalado
no amor.
Durante
o dia aquietam-se,
não
saem a terreiro,
passeiam-se
comigo,
é
certo,
mas
não se fazem notados,
nem
pela forma,
nem
pelo cheiro,
(não
há nenhum que se afoite),
mantêm-se
adormecidos,
como
que a ganharem forças,
para
me fazerem companhia…
à
noite!
É
o cheiro da terra quente,
o
pôr-do-sol encarnado,
o
macaréu apressado,
que
abafa o grito da gente,
que
se tinge de coragem
à
falta de outro fado.
Trato-os
por tu,
são
meus,
embora
eu muito suspeite,
que
também atormentam outros,
ao
longo de cada noite,
mal
dormidas,
mal
sonhadas,
misturadas
de suores,
e
de lágrimas choradas,
compondo
um quadro pintado
das
mais violentas cores,
um
quadro longo, longo,
que
nunca está acabado.
Deito-me
com eles,
os
meus fantasmas,
já
fazem parte de mim,
do
meu dormir,
do
meu sonhar,
são
como um despertador
que
não me deixa dormir,
que
me obrigam a lembrar,
o
que foi o meu viver,
por
terras dessa Guiné.
Dizem-me ao ouvido,
baixinho,
que
não querem atormentar,
nem
sequer o meu existir,
nem
tão pouco o meu viver,
mas
apenas querem gritar,
bem
alto,
para
que todos ouçam,
o
que os outros que por aqui andam,
fazem
questão de esquecer.
Joaquim Mexia Alves
27.12.91
3 comentários:
Camarigo Joaquim, obrigado por este teu puro e verdadeiro testemunho, desculpa-me por este meu sensível desabafo, mais uma vez fui apanhado numa emboscada, fiquei com o meu rosto molhado com muitas gotas, penso que sejam de lágrimas misturadas com suor,pois, todos nós COMBATENTES DO ULTRAMAR, pertencemos a uma geração sofrida, que nos tempos que correm muitos querem e teimam em chamar mentira ás nossas verdades, mas, o que todos nós sabemos é que, essas verdades nunca deixaram de ser ditas, contadas e gritadas em alto e bom som com todas as forças vindas do nosso peito «coração» e nossos pulmões, enquanto existir um COMBATENTE DO ULTRAMAR, lembrem-se esses que teimam em dizer que as nossas verdades são mentiras, que os COMBATENTES DO ULTRAMAR, sempre foram, são e serão enquanto vivos forem, MUITO UNIDOS, MUITO IRMÃOS, POIS, SÓ ELES SE ENTENDEM MESMO SÓ NO OLHAR, JOAQUIM,MEU IRMÃO DE GUERRA,eu Manel Kambuta dos Dembos Norte de Angola, agradeço que continua a escrever e a deitar estas verdades cá para fora, verdades que nos continuam a corroer o nosso sempre forte esqueleto, mas, com as nossas forças e amizades criadas nos palcos de guerra, se vamos ajudando e socorrendo uns aos outros, eu que o diga, mais uma vez te peço meu IRMÃO, continua, estas palavras escritas são ajudas que a todos nós, gostamos de ler e recordar, e, ficamos aliviados. UM FORTE ABRAÇO DO MANEL KAMBUTA DOS DEMBOS PARA TODOS OS CAMARIGOS, E, «SEMPRE PARA A FRENTE QUE ATRÁS VEM JENTE».
Os Fantasmas de todos nós...
Muito bonito e verdadeiro.
Um abraço Camarigo Joaquim
Vasco
Um testemunho com "marca registada".
Obrigado Joaquim Mexia Alves.
Abraço continuado.
JERO
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