A FORÇA AÉREA SUECA
NO TEMPO DA GUERRA
FRIA
Depois de muito interessante estadia em Key West com muito jazz e não só, voltei à Suécia para participar num encontro de antigos juristas de Direito Internacional tanto americanos como suecos.
Precisamente na mesma altura em que a
Força Aérea Sueca tornou públicos documentos relacionados com as suas
actividades durante a Guerra Fria.
Poucos saberão que durante este período
a Força Aérea Sueca era considerada a quarta mais importante a nível mundial,
tanto em número de esquadrilhas e modernidade das mesmas, como quanto ao treino
dos pilotos.
Enquanto os americanos iam espiando o território Soviético a altitudes elevadas, a Força Aérea Sueca recebia “encomendas” por parte dos mesmos de fotos das bases soviéticas na área do Báltico e no extremo Norte.
Estes voos suecos deveriam ser efectuados à mínima altitude possível de modo a evitar os radares russos da época.
Os documentos agora tornados públicos
apresentam o número de 550 (!) pilotos suecos mortos por aviões e armas
antiaéreas soviéticas, mais 56 pilotos mortos em quedas provocadas por faltas
de combustível nos regressos das missões.
Independentemente da Guerra Fria ter sido prolongada estes números não deixam de ser surpreendentes. Principalmente tendo-se em conta a política oficial sueca de... neutralidade !
Estes documentos foram agora tornados públicos pela Força Aérea sueca e publicados nos jornais diários assim como na TV. Não terá sido por acaso que eles foram publicados nesta ocasião.
Nas últimas semanas tem havido intenso debate político baseado em informações seguras de que os americanos, por intermédio de agentes dinamarqueses (!), terem efectuado escutas intensivas dos telefones dos políticos governamentais suecos e noruegueses, assim como dos seus e-mails.
Isto numa altura em que a neutral Suécia
dedicou somas incríveis dedicadas a um profundo e abrangedor rearmamento dos
três Ramos das Forças Armadas, ao mesmo tempo que tem intensificado as manobras
bilaterais com os Estados Unidos (em território sueco!)assim como
permitir que os mesmos tenham vastos material de guerra armazenado
em depósitos em vários locais da Suécia.
O uso militar por parte dos Estados Unidos do espaço aéreo sueco está actualmente regularizado em termos equivalentes aos dos países da NATO, devendo recordar-se que a Suécia não faz parte da Organização.
Ao observar-se um mapa do Báltico
facilmente se verifica que a ilha sueca Gotland fica situada em local de
domínio estratégico de toda a região, fazendo face à base russa de Kalinnegrad.
As manobras militares russas no Báltico não fazem segredo de esta ilha ter interesse prioritário.
Isto em jogada política que permite a presença de militares americanos na ilha sob o pretexto de treinamento das guarnições suecas deste material.
É uma força “rotativa”, evitando o termo... permanente! E é dentro destas realidades que o Governo sueco veio a ter que enfrentar as provas das escutas telefónicas ao serviço dos States e daí TALVEZ (!) ter apresentado estes documentos.
Obs./// Os pilotos não abatidos pelos soviéticos, mas que morreram em acidentes, são justificados nos documentos por os mesmos terem ordens categóricas de não regressarem das suas missões em rotas que facilmente levassem à Suécia, principalmente se perseguidos.
A falta de combustível suficiente nessas
situações levou à maioria das mortes por... acidente.
Não existiam equipas de recuperação
relacionadas com o secretismo destas missões.
Uma abraço do
José Belo
3 comentários:
Caro amigo J.Belo
Espero que me perdoes por não me alongar em comentários, pelo menos para já, mas estas situações descritas, as passadas e as atuais apenas me suscitam um rasgado sorriso malicioso.
E, olha, sem querer e mesmo sem perceber porquê, lembrei-me imediatamente das "meninas de Moscovo".
Abraço
Hélder Sousa
Com amigos destes quem precisa de inimigos?
Não se deve esquecer que as animosidades entre a Suécia e a Rússia têm longas raízes históricas de mais de 10 séculos ,independentemente dos regimens políticos de ambos os países .
Desde o período em que a Suécia dominava o mar Báltico e todo o Norte Europeu as rivalidades com a Rússia têm sido uma constante.
Daí que todos os “incidentes” que se sucedem regularmente hoje em dia,envolvendo Marinhas e Forças Aéreas,deverão ser analisados dentro de uma longa perspectiva histórica.
É um livro ainda não encerrado,com todos os perigos que este facto acarreta.
Tanto os interesses norte-americanos como os da NATO mais não são que detalhes à margem desta narrativa histórica.
Realidades mal apercebidas no Sul europeu devido tanto às distâncias geográficas como à falta de notícias sobre as mesmas.
Nestas enormes distâncias do Círculo Polar Árctico, e da Laponia ,o facto de o meu vizinho mais próximo viver a 290 quilómetros da minha casa…não é nada!
Mas nos últimos anos tenho sido surpreendido pela passagem de colunas de blindados dos Marines norte-americanos junto à minha casa.
A Suécia não faz parte da NATO mas,de qualquer modo, fazendo Portugal parte da Aliança não é todos os dias que colunas militares americanas se passeiam entre….. os chaparros Alentejanos!
Um abraço do J.Belo
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