quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

P1262: PUXANDO PELA MEMÓRIA...


OS MEUS NATAIS NA GUINÉ

Hélder Valério Sousa
Inspirado por outros textos de camaradas, referentes à época natalícia durante a sua comissão de serviço, procurei relembrar os meus Natais passados durante o tempo da minha comissão militar de serviço por imposição na Guiné, um tanto para poder comparar com o que outros relataram mas outro tanto, e principalmente, para me “reencontrar”.

Ora, tendo chegado à Guiné em Novembro de 1970 e regressado em Novembro de 1972, é certo que os Natais de 1970 e de 1971 foram passados durante esse período e como por essas épocas não estive de férias, é então certo que foram passados lá…

O problema é que tenho pouca memória desses eventos. O Natal de 1970 foi passado “no mato”, em Piche, onde estive agregado ao BCAV 2922 desde o início de Dezembro desse ano até quase ao fim de Maio do ano seguinte.

Natal 1970 - Brinde
Desse Natal de 1970 muito pouco relembro. Procurei apoio de memória em dois camaradas que estiveram comigo no CSM em Santarém e que integravam o referido Batalhão - os então Furriéis Fernando Boto e Herlander Almeida - mas nada consegui que me pudesse ajudar.

O Boto disse-me que após a Guiné “apagou” todas essas memórias e que não me poderia valer. O Herlander foi no mesmo sentido, que não se lembra praticamente de nada, mas que agradece tudo o que eu tenho feito (escrito) e que, em certa medida, também o ajuda.

Quem poderia ser mais contributivo era o Luís Borrega, também membro da “Tabanca Grande” mas, entretanto, já falecido. Quando vivo foi um dos impulsionadores de encontros e convívios entre o pessoal das várias Companhias desse Batalhão e mesmo de encontros parcelares. Portanto, por aí também nada consegui…

Jantar Natal 1970
Contudo, tenho umas fotos que o Borrega em tempos me facultou e que julgo terem sido desse Natal de 1970 e de aqui junto duas delas.

Na que diz “Jantar Natal 1970” em que se vê uma travessa com leitão, reconheço o Furriel Mouta (Cripto), à esquerda. Eu sou o segundo do lado direito e lembro-me dos dois que estão de cada lado deste personagem que vos escreve mas, neste momento, não me recordo dos nomes. Na foto que diz “Brinde”, que se passa na mesma mesa, tem agora em primeiro plano do lado esquerdo o Luís Borrega, de camuflado, e à direita o Herlander, sendo que os restantes são os que estão na outra foto.

Não me recordo de pormenores mas tenho a ideia que foi uma noite passada com alegria, nesse jantar, com a protecção adequada no exterior. Depois, no recato, em solidão, os pensamentos voaram para longe, para junto dos familiares tentando visualizar como estariam de saúde e como estariam celebrando essa ocasião.

Já o Natal de 1971 foi passado em Bissau. Estava de serviço no meu turno na “Escuta” que, recordo bem, era das 19:00 de 24 às 01:00 já do dia 25.

Por tal motivo não participei no jantar colectivo que ocorreu na Messe de Sargentos do QG em Santa Luzia. Lembro-me de que comi mais cedo e tive direito a um reforço alimentar, composto por duas sandes de queijo e fiambre e uma lata de leite com chocolate… Dadas as circunstâncias não tenho nenhuma foto ilustrativa.

Recordo apenas que durante a solidão do turno tive tempo, muito tempo, para me interrogar sobre o que fazia ali, sobre o que e como seria o futuro após o fim da comissão, sobre o que e como poderia fazer para contribuir para que aquela guerra não se prolongasse indefinidamente.

Hélder Valério Sousa
Fur. Mil. Transmissões TSF

6 comentários:

Anónimo disse...

Casado mais de quarenta anos com médica professora em Psiquiatria recordo ouvi-la dizer inúmeras vezes:

-Alguns dos acontecimentos que esquecemos terão tido bem mais importância que muitos dos que nos recordamos.

Aplicável talvez (?) aos esquecimentos do Amigo e Camarada Helder.

Um abraço do
J.Belo

Juvenal Amado disse...

Caro Hélder
O Natal para além do simbolismo é uma data de partilha. Julgo que cada um de nós mostra o melhor que tem para dar. Lá era uma data nostálgica abafada por vezes com álcool e alguns excessos compreensíveis para quem nunca tinha passado um só longe da família . Eu passei 3 Natais na Guiné por isso e um acontecimento com muita relevância a data que aproxima . Um abraço e um bom Natal para todos

Valdemar Silva disse...

Hélder
Por incrível que pareça, dado que tenho fotografias de quase tudo "importante" do tempo que passei na Guiné, não tenho fotografias e também não tenho memória do Natal de 1969 passado em Canquelifá. O meu 4º. Pelotão tinha ido reforçar a guarnição de Canquelifá que tinha sido brutalmente atacada dias antes. Outro Pelotão da nossa CART.11 também em reforço de Dunane e Piche passaram por lá o Natal de 1969. Eu mais três Furriéis não esperamos pelo embarque fim da comissão da rapaziada metropolitana da Companhia em Janeiro de 1971 e viemos de avião TAP passar o Natal de 1970 em casa com a família.
Vinte e dois meses na Guiné só deu para um Natal, mas com os dezoito meses de cá, dá três anos e cinco meses de trota que se farta.
Um abraço e Bom Natal, assim como para todos os camaradas da Tabanca do Centro.
Valdemar Queiroz

Juvenal Amado disse...

Valdemar Queiroz por acaso era da tua companhia o furriel enfermeiro Lazarino?

Valdemar Silva disse...

Caro Juvenal
No meu tempo (1969-1970), o furriel enfermeiro da minha CART.11, era o Edmond (Carlos Alberto Edmond dos Santos). Talvez o Lazarino fosse quem substitui o Edmond a partir de Dezembro de 1970, mas não me lembro.

Abraço e Boas Festas
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

A época de Natal, passada fora do nosso grupo familiar e porque nos marca, fica consciente ou inconscientemente, retida na nossa memória.
Talvez um dia no Hélder, haja um clique que o faça recordar de pormenores que parecem estar esquecidos.
Este Natal de 2020, por certo ficará bem presente na nossa memória e na dos nossos descendentes, porque nos priva do melhor que o Natal tem, a Reunião Familiar, mas a lembrança dos nossos entes queridos e que já partiram, esta maldita pandemia, não nos roubará.
Um abraço.
Mª Arminda Santos