quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

P1265: UM CONTO DE NATAL

                           UMA COMEMORAÇÃO DIFERENTE

Olhavam um para o outro com a tristeza nos olhos.

Como seria possível, com a situação de pandemia, juntar os seus dois filhos e as suas famílias no Natal, como sempre faziam todos os anos?

Vivendo longe uns dos outros, era a única noite do ano em que a família toda se juntava, pais, filhos e netos.

Decidiram então propor a todos que cada um tomasse a decisão de vir (ou não), passar o Natal, na certeza de que a sala da casa, sendo grande, dava para todos estarem à distância necessária com as máscaras colocadas.

Seria muito estranho, mas ao menos, poderiam olhar-se nos olhos.

Quanto à ceia de Natal, haveria uma mesa no meio da sala, e cada um iria servir-se e voltava para o lugar marcado para cada família - e afastados uns dos outros.

Quanto mais pensavam naquilo, mais achavam estranha a situação, mas ficaram felizes quando todos disseram que viriam, então, passar o Natal.

O dia 24 chegou e com ele começaram a chegar os filhos e as suas famílias, para dar vida aquele casarão enorme, que normalmente estava vazio só com eles os dois.

Foram muito emocionais as chegadas, tanto mais que os cumprimentos eram “longínquos”, para não colocar em risco quer as crianças, quer os mais velhos.

Era uma coisa muito confusa pois pareciam famílias dentro de uma família!

Quando chegou a hora da ceia e já estavam todos na sala nos lugares previamente designados para cada família, (com as crianças um pouco irrequietas, o que era normal), ele, o pai da família, pediu a todos que, depois de irem buscar a comida e quando tirassem as máscaras para comer, fizessem um momento em que todos olhariam uns para os outros e sorririam de modo a que se pudessem ver sem a barreira da máscara.

E assim foi.

Depois de se servirem, estando todos nos seus lugares, tiraram as máscaras e olharam uns para os outros, sorrindo e com algumas lágrimas incontidas correndo por algumas caras.

As crianças, claro que achavam tudo aquilo muito estranho, mas a visão dos presentes junto ao presépio ultrapassava a sua estranheza.

Então ele, o pai da família, pediu a todos que rezassem um Pai Nosso pela família e também por todos os que não tinham Natal.

E foi extraordinário, porque parecia que todos estavam de mãos dadas e que uma só voz fazia subir a oração ao Céu.

E o mais pequenito, que já falava, gritou de alegria: Que bom é o Natal!

                                               Joaquim Mexia Alves

3 comentários:

Anónimo disse...

Amigo Joaquim.
Lindo e emocionante esta sua descrição da noite de Natal, que poderia ser adotada por outros.
O principal, não serão os pratos que comporão a ceia dessa noite, mas sim o reencontro dos sorrisos, dos olhares e dos afetos, que o uso das máscaras, também nos privam.
Votos de um Santo Natal e em Paz, formulando votos para que a Novo Ano, a todos traga, a normalidade e a tranquilidade, às suas vidas.
Com um beijinho amigo.
Mª Arminda Santos

Juvenal Amado disse...

Um abraço Joaquim tudo bom para ti e família. Boas Festas que ano quem vem ajude a esquecer este

Hélder Valério disse...

Caro Joaquim, só agora li este teu texto "datado".
Datado pela "data", o Natal, mas também pelos tempos que se vivem.
Claro que é triste a situação vivida mas, como na canção, "tudo isto existe, tudo isto é triste"... mas tem que ser assim, disciplinadamente, metodicamente.
Estranho foi, concerteza, mas também deve ter sido uma forma de educação para os mais novos.
E que dizer do espírito inventivo que se manifestou?
Confirma-se, mais uma vez, que quando se quer, arranjam-se soluções e até parece que, afinal não só foi a contento de todos como foi catalizador para uma mais forte e emotiva comunhão entre os presentes e os ausentes.

Abraço e um bom Ano Novo.

Hélder Sousa