ANIVERSÁRIO EM BISSAU
Há alguns dias atrás ocorreu o meu aniversário. Foi a 3 de Outubro.
Tendo
chegado à Guiné em Novembro de 1970 e regressado em Novembro de 1972, fácil é
perceber que passei os meus aniversários de 1971 e 72, ou seja os meus 23º e
24º aniversários, durante a comissão na Guiné e qualquer deles em Bissau.
Por
estes dias li um artigo com algumas recordações do Carlos Pinheiro nas suas
deambulações por Bissau e isso inspirou-me a repescar a recordação que se
segue.
Não
tenho a certeza em qual desses anos se passou o que a memória agora me
despertou, creio ter sido em 71 mas é só um palpite, embora o ano seja
irrelevante para o episódio.
Por
essa altura já estava em “permanência” em Bissau, no “Centro de Escuta” (os
meus seis meses de “mato” passados em Piche foram do início de Dezembro de 1970
ao final de Maio de 1971) e nessas ocupações funcionava em regime de turnos já
que o serviço era contínuo.
![]() |
Antes da ida para a Guiné, uma foto durante o estágio em Tancos, em 1971. O Manuel Martinho à esquerda em cima, o Helder Sousa à direita em baixo |
Pois no dia do meu aniversário fui com um dos meus amigos e camaradas de especialidade e do Serviço, um que na hora não estava de serviço tal como eu, um dos que costumo designar por “Ilustres TSF”, o Fur. Mil. Manuel Martinho, jantar ao “Solar do 10”.
Não
foi na parte do “Salão Nobre”, aquele com aspecto mais sumptuoso, interior, com
reposteiros escarlates, frequentado na maioria pelos oficiais da Marinha, mas
sim no espaço anexo, tipo logradouro interior, ao ar livre, embora coberto, sem
ser na totalidade, por uma espécie de toldos.
Recordo
bem que o prato escolhido foi uma das especialidades de lá, uma “Açorda à Santa
Teresinha”, a fazer lembrar uma “açorda de camarão” mas mais rica e com muitos
pickles incorporados. Para acompanhar bebemos um “Dão Grão Vasco” tinto.
Bem,
bebemos é uma força de expressão.
Em
certa altura do jantar, aí a meio, começam a cair uns grossos pingos de chuva e
em menos de nada já era o dilúvio que quem lá esteve se deve recordar. Aí ao
terceiro pingo foi de imediato agarrar no prato e “zarpar” para debaixo de um
alpendre, ficando na mesa a garrafa com rolha (vá lá, vá lá) mas os copos
ficaram a transbordar e o vinho que na ocasião lá estava ficou bem baptizado.
![]() |
O Manuel Martinho e o Hélder Sousa numa foto mais recente, num almoço de confraternização na Ribeira do Porto, em 2015. Desta vez o vinho não parece ter sido baptizado... |
Algum, pouco, tempo depois a chuvada passou, as mesas e cadeiras foram praticamente consideradas “operacionais” e ainda deu para acabar a açordinha…
Não
se trata de uma lembrança de uma grande operação, emboscada, nomadização ou
mesmo “golpe-de-mão”, mas espero que dê para alguns de nós se recordem dessas
grandes e inopinadas chuvadas, que hoje tanta falta fazem.
Lá
e cá!
Hélder Valério Sousa