quarta-feira, 7 de outubro de 2020

P1253: A PROPÓSITO DE UM RELÓGIO...

COMPRAS NA GUINÉ HÁ 50 ANOS


Carlos Pinheiro
O meu Seiko 5 (five) parou ao fim de 50 anos...

Comprei-o na Guiné, na Casa Costa Pinheiro, em Bissau, onde trabalhava no escritório nas minhas horas vagas.

Já não me lembro quanto dei por ele mas não era barato - mas era e foi muito bom durante estes cinquenta anos. Foi a peça que lá comprei que durou mais anos.Comprei lá também um transístor SONY que não sei quanto tempo durou porque um camarada apropriou-se dele enquanto eu estava a tomar o último banho da Guiné, poucas horas antes de seguir para o cais - de regresso a casa depois de 25 meses e 10 dias de Guiné.

Também comprei uma máquina fotográfica FUJICA que durou ainda bastantes anos mas certamente por deficiência de uso também um dia parou mesmo de tirar retratos.

Mas o Seiko 5 deixou-me hoje ao fim de tantos anos.

A Casa Costa Pinheiro era talvez a maior casa comercial logo a seguir à Casa Gouveia da CUF. Importava de tudo e tudo vendia em quantidades impressionantes.

Eram os automóveis Toyota Corolla, os Crown, as carrinhas Hi-Lux e as Staut e acima de tudo os camiões Toyota que por cá nunca apareceram.

Eram os relógios Seiko - como facilmente do texto se pode deduzir - bem como todos o material Sony, desde os pequenos transístores até aos mais potentes gravadores profissionais (de fita como era uso naqueles tempos) e, claro, as máquinas fotográficas Fujica e respectivos acessórios mais os indispensáveis rolos.

Eram as motas e as motorizadas Suzuki que nessa altura começaram a superar a Honda.

Era o material de som Nivico, mas também o Garrard, para grandes salões e para profissionais.

Eram os produtos de beleza da Max Factor para as senhoras... a Colgate Palmolive que toda a gente usava nos quartéis - excepto nas operações no mato, claro - as esferográficas BIC que tantos milhares de aerogramas encheram de noticias, os tapetes da Issing Trading de Itália, que a malta comprava como recordação, eram os discos da Ansónia dos EUA, com os merengues a toda a prova, as porcelanas da Prago Export da Checoslováquia depois de ter também importado, em anos anteriores, os automóveis Skoda.

Enfim. Era uma casa muito grande se bem que não dava muito nas vistas, mas facturava muito bem.

Tantos milhares de letras ali preenchi referentes às vendas a prestações, especialmente dos carros e das motorizadas e motas. As letras ficavam em carteira e os juros ficavam em casa sem intervenção do BNU que na altura era o único Banco da Guiné.

Nas madrugadas em que o Boeing da TAP ia a Bissau e voltava para Lisboa, era o dia e a noite toda a fazer-se correio para os mais variados fornecedores por esse mundo fora e para as mais variadas companhias de seguros, porque parte importante das mercadorias perdia-se na viagem entre Lisboa e Bissau, sabe-se lá porquê. Mas as Companhias, depois do exame prévio na Alfandega e com a confirmação do Agente das seguradoras, garantiam a cobertura dos prejuízos.

E tudo isto para dizer que o meu Seiko 5 parou, ao fim destes 50 anos de vida e de trabalho sem parar... até que parou de vez. É a vida…

Carlos Pinheiro

 

6 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro Carlos

Em termos de aquisições de materiais/equipamentos também os fiz, em Bissau.
Na casa "Salgado & Tomé" (salvo erro era assim que se chamava), e que ficava numa esquina ali perto do Zé D'Amura, comprei pouco tempo antes de regressar um Tissot, também salvo erro PR15.
Ainda não me desfiz dele mas não sei onde o guardei porque entretanto mudei de casa e pelo meio deixei de usar relógio.
Numa casa que não tenho ideia qual foi, mas talvez no Pintosinho, comprei uma ventoinha "Termozetta" que só deixou de trabalhar durante as viagens de Bissau para Piche e vice versa e em Bissau quando falhava a energia. Quando me vim embora deixei-a (com alguma pena) ao meu substituto e quando "lhe disse adeus ainda trabalhava".
Quando vim embora comprei, na véspera, numa casa de que agora não recordo o nome mas que ficava ali ao lado, ou por baixo, da "Pensão Central", um serviço de chá e outro de café chineses, do tipo "grão de arroz". Ainda duram.
No Taufic Saad comprei uma máquina fotográfica tipo "reflex" da marca "Yashica" (não recordo o modelo), também para trazer para Portugal. Ainda fiz algumas fotos, depois o turbilhão da vida foi afastando os momentos de fotos e acabou por se deteriorar.

E quanto a esses materiais, foi tudo.

Hélder Sousa

Juvenal Amado disse...

Comprei um seiko a prestaçoes lindo mas já em Alcobaça.
A vida dele foi muito mais curta. Uma vez a jogar futebol de salão levei uma bolada nele que andei a apanhar os bocados no ring junto à Câmara Municipal . Ainda o mandei arranjar mas a sina dele estava lida.

Um abraço

Hélder Valério disse...

Caros amigos, impõe-se uma correção.

A máquina fotográfica que comprei foi uma KOWA.
A Yashica era o alvo mas na ocasião tive que me contentar com a "gama baixa"....
Ainda reportando-me aos relógios o que tinha antes era um Cauny Prima, naturalmente de contrabando.

Hélder Sousa

Miguel disse...

Caro Helder
Estás com sorte, que esse "crime" já prescreveu...
Ab. Miguel Pessoa

Hélder Valério disse...

Caros amigos

Tenho a sorte de ter muitos "conhecidos", a maioria dos quais reputo de "amigos".
Mas que mais se pode desejar quando, para os nossos deslizes, se pode contar com Pessoa amiga que nos ameniza a consciência?
É um privilégio!
Na verdade nada mais se pode desejar.

Hélder Sousa

Carlos Pinheiro disse...

Faz bem à memória recordar velhos tempos e momentos, mesmo que simples, também ajudam a memória a funcionar.
Um abraço colectivo para todo o pessoal mas... virtual.