quarta-feira, 21 de outubro de 2020

P1255: UMA QUESTÃO DE PERSPECTIVA...

O nosso camarigo José Belo já aqui nos contou alguns encontros seus com a fauna que o rodeia no seu cantinho na Lapónia sueca. Quanto a histórias de experiências incríveis com os animais ditos "selvagens", como se pode calcular com tantas décadas de por ali andar, primeiro em longas férias, depois como reformado (feriante eterno!), são inúmeras – refere-nos ele - e algumas nem se atreve a contar pois ele próprio nunca nelas viria a acreditar... Mas deixa-nos hoje aqui mais uma história de um encontro imediato ocorrido numa das suas saídas.

LINCE XXL…

José Belo
De todos os contactos que ao longo dos anos tenho tido com a fauna local, só o meu encontro com a ursa com filhos poderia ter acabado menos bem. Já contei a história neste blogue, no Post 930. Mas, como se pode compreender, desde então nunca mais voltei a esquecer a espingarda em casa!...

Neste momento em que escrevo, veio-me à memória um outro encontro menos agradável, desta vez com aquilo que então a mim me pareceu ser… um  enorme lince…
É uma história já antiga, pois ocorreu numa das primeiras vezes que aqui estive.

Pescam-se fantásticos salmões a bem poucas centenas de metros da casa. Eu (não como os timoratos pescadores das falésias lusitanas frente a ventos e mar revolto) recordo uma silenciosa e calmíssima manhã em que a superfície do lago a perder-se de vista não tinha um mínimo movimento.

Na margem, um grupo de enormes pedras serviam para calmamente me encostar enquanto segurava a cana de pesca.

Passado um bom par de horas (e um bom par de salmões) tenho uma estranha, mas forte, sensação de que alguém me está observando por de trás das costas.

Volto-me e vejo enorme lince (então a "alimária" pareceu-me gigantesca!!!) calmamente sentado, como gato caseiro, a cerca de dois metros acima da minha cabeça, no mesmo pedregulho em que eu apoiava as costas!

Durante  estes anos que se seguiram tenho encontrado bastantes linces por aqui, sendo os adultos nunca maiores do que um cão grande.

O gigantesco (!) lince, visto a dois metros acima da minha cabeça, mais não terá sido que... ilusão de perspectivas feita (para não lhe chamar... medo!)

Por aqui estes animais nunca atacam humanos, São mesmo dos mais difíceis de serem observados, tanto pelo seu camuflado  de inverno, como pela grande reserva que mostram quanto a aproximarem-se, principalmente quando os aqui indispensáveis cães estão envolvidos.

Causam estragos (económicos) por na Primavera matarem numerosas renas jovens, e no Inverno atacarem renas adultas.

O Estado sueco compensa estas perdas mediante pagamentos aos donos das manadas.
E, só à volta desta última frase poderia encher duas interessantes páginas sobre estes pagamentos estatais…

…E lá iríamos cair nas histórias de velhos à lareira!
Um abraço do
José Belo



2 comentários:

Hélder Valério disse...

Olá JBelo
Li na introdução de que haveria (há) histórias "Que são inúmeras – refere-nos ele - e algumas nem se atreve a contar pois ele próprio nunca nelas viria a acreditar..."

Bem, para esse tipo de situações talvez se possa enquadrar naquela perspectiva de que não será grave falar com as renas, por exemplo, mas a "coisa" já muda de figura quando elas respondem. Para esses casos será realmente de duvidar mas, confesso, não me custa acreditar que as renas possam responder e até também algumas árvores da floresta. O que será determinante são os assuntos que lhes possamos é a conversa que colocar. Pode também ser uma questão de fé, de acreditar que podem comunicar connosco. Claro que a solidão, o isolamento, ajudarão muito, mas é preciso insistir.

Olhar "de baixo para cima" e ver assim um gigante qualquer é uma situação recorrente. É essa a situação "normal, natural" que ocorria (e ainda ocorre) dos que estão na "mó de baixo" social no seu relacionamento com os chefes, os patrões, os que estão na "mó de cima".
Parecem grande e poderosos mas, muitas vezes, têm pés de barro.

Creio que o lince (o da foto é imponente) seria de tamanho "normal" mas também não fica mal se "crescer" um bocadinho mais.

Hélder Sousa

Anónimo disse...

Caro Amigo e Camarada Helder

Quanto às conversas com as renas nada terão a ver com o isolamento de muitas centenas de quilómetros,e muito menos com a”fé “ nessa possibilidade.
Unicamente se torna necessário (para qualquer um dos visitantes) um pequeno copo da vodka do meu alambique caseiro,a tal dos 90%de teor de álcool,para os DIÁLOGOS se tornarem....infindáveis!

Quanto às imagens criadas ao olhar-se de “baixo para cima” ,em todas as sociedades e ao longo de milénios ,lá se têm procurado soluções várias.
Umas com mais êxito que infelizmente outras.

Nos tempos que correm ,e nas sociedades envolventes,aparentemente são os “óculos com lentes progressivas” o método mais usado por muitos quanto a este problema....social!
E,mais um dos respeitosos abraços do
J.Belo