Vivendo num local isolado na Lapónia sueca, no extremo norte do país e com o vizinho mais próximo a quase 300 quilómetros (...), é natural que os contactos mais habituais que o nosso camarada José Belo tem sejam com os seus animais (cães e renas), mas também com a variada fauna que vive em seu redor.
Esta é a história de um animal que de repente se tornou presença habitual no dia-a-dia deste nosso amigo.
UMA RAPOSA DE ESTIMAÇÃO
José Belo |
Há já alguns anos, não muitos,
apareceu-me inesperadamente frente à casa uma das bonitas raposas brancas que
por aqui abundam.
Estranhei a "coragem" do
animal ao atravessar, aparentemente sem receio, um local onde tenho um canil
com 10 cães de trenó mais dois corpulentos cães de guarda. A barulheira que
estes fazem quando sentem qualquer animal nas proximidades é sempre incrível. Aparentemente
a raposa tinha consciência que estes, de, dentro dos canis, nada podiam fazer…
além do barulho...
Comecei por colocar pedaços de
comida frente à porta da casa durante alguns dias. Sou surpreendido pelo animal,
que passou a vir visitar-me diariamente. E... à hora certa! Estas visitas
tornaram-se rapidamente em duas vezes por dia, uma pela manhã, outra
precisamente no fim do dia.
Punha a comida numa das tigelas
reservadas para os cães, até que, por curiosidade, aproximei-me lentamente do
animal com uma salsicha na mão. Parou de comer, olhou-me bem nos olhos, mas não
fugiu. Aproximou-se, lenta mas confiadamente e, com extremo cuidado para me não
tocar na mão com os dentes, foi comendo a salsicha que continuei a segurar.
Com a longa experiência que tenho dos
meus cães sei que qualquer deles arrancaria bruscamente (!) a salsicha da minha
mão, sem se preocupar com os meus dedos. E eles conhecem-me de há muito…
O cuidado e lentidão da raposa a comer
"à mão" ainda hoje me faz pensar.
As semanas foram passando e estes
encontros tornaram-se numa rotina.
Num dia do curto Verão local e devido à
agradável temperatura tínhamos a porta das traseiras da casa aberta. Enquanto
estava a dar de comer aos cães no canil, oiço um grito (bem irritado) por parte
da minha mulher que estava dentro de casa. A minha mulher acabara de encontrar,
sentada calmamente num sofá do corredor que leva à cozinha, a minha amiga
raposa…
Depois de acalorada discussão (e as
suecas para além de serem bonitas sabem bem discutir!) lá veio o tão normal ultimato
do tipo: “Ou a raposa dentro de casa ou eu... fora de casa!"
Na altura, e já casado há umas boas décadas,
confesso que ainda pensei duas vezes! Mas como entre casais o vencedor é sempre
o mesmo, a minha raposa lá passou a receber as suas refeições a uma
"neutral" distância de 100 metros da casa.
Veio o Inverno e na Primavera seguinte a raposa não voltou. Bastante a procurei na densa floresta envolvente.
Gostaria ainda hoje de acreditar que não
morreu. Mas...
José Belo
4 comentários:
Caro JB
Li a história e devo dizer que também eu cheguei ao fim a "querer acreditar que não morreu", pois um bichinho assim, tão bonito, tão determinado e tão cheio de personalidade, ao ponto de tentar "conquista" um lugar em casa, deveria ter podido "seguir o seu caminho".
Sei (quero dizer... imagino) que esses lugares são difíceis, inóspitos, cheios de situações em que deverá impor-se a "lei da natureza" mas mesmo assim também alimentei a esperança que se "tivesse safado".
Gostei principalmente da forma como se processou a aproximação e os "ganhos de confiança". Quase um namoro.
Abraço
Hélder Sousa
Obrigado José Belo, Juvenal Amado, Jero, Hélder e sobretudo Miguel Pessoa.
Deu-me uma camada de ócio, (acompanhada de uns problemazitos), de tal modo que não me apetece fazer nada, mas prometo que vou "renascer" e dar a minha parca contribuição ao nosso ponto de encontro.
Esperam que estejam todos bem que eu por mim nem sei se sim ou se não!!!!
Claro que estou bem mas só me apetece cantar como na Guiné: ..... tirem-me daqui que estou farto desta merda!!!!
Abraços grande e apertados do
Joaquim
E desculpem se me esqueci de algum nome mas está no coração.
Nós vamos esperar com a maior calma possível. Eu cá cá por mim já comecei a dar uns pontapés nas porta e uns murtos nas paredes ( a brincar) . Isto não sei se vai correr bem mas nós vamos voltar e a raposa do J. Belo também. O Zé Brás também teve uma raposa de estimação que apareceu sempre muito magra mas foi aparecendo três anos seguidos. Joaquim animate homem
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