A GUERRA QUE
NUNCA EXISTIU?…
Juvenal Amado |
Talvez como consequência do abandono de
Medina de Boé e do grande espaço de progressão que ficou livre até à zona de Galomaro,
daí resultou em 6 mortes na CCS do 2912 na emboscada nas Duas Fontes em Outubro de 1971.
3491 Dulombi Fevereiro de 1972
Logo no período de transição teve um
encontro de frente durante uma patrulha com IN, do qual só por milagre não
resultaram baixas, mas cantis e casacos furados por balas foram vários tal a
violência de parte a parte.
3489 Cancolim
Depois seguiu-se Cancolim já depois de
duas flagelações, a 2 de Março de 1972. Cancolim foi fortemente atacada com
morteiros 82 mm tendo daí resultado a morte dos seguinte camaradas:
José
António Paulo – natural de Mirandela.
João
Amado – natural de Vieira de Leiria.
Domingos
de E. dos Santos Moreno - natural de Macedo de Cavaleiros.
(Assisti de perto a estas mortes uma vez
que estava no destacamento)
No
final de 1972 tinha 60 operacionais.
Não ficou por aí e assim, morreram em
combate, alguns já em 1973:
António
Martins Vaz- natural de Grijó da Parada / Bragança
Álvaro
Geraldes D. Ferrão – natural de Silvares / Fundão
Domingos
M.R. Peixoto- natural de Alto da Vila, Duas Igrejas / Paredes
Califo
Baldé - natural de Anhambé
Samba Seide - natural de Anhambé
Juntamos a este número duas deserções (Um
capitão e um Alferes) e a captura do soldado António Manuel Rodrigues, que veio
a fugir do cativeiro para o Saltinho, já nós estávamos para embarcar para a Metrópole.
3490
Saltinho
Alferes
Miliciano Armandino Silva Ribeiro - Magueija / Lamego
Furriel
Miliciano Francisco de Oliveira Santos – Ovar
1.º
Cabo Sérgio da Costa Pinto Rebelo - Vila Chã de São Roque / Oliveira de Azeméis
1.º
Cabo António Ferreira [da Cunha] - Cedofeita / Porto
Soldado
Bernardino Ramos de Oliveira - Pedroso / V. N. Gaia
Soldado
António Marques Pereira - Fátima / Ourém
Soldado
António de Moura Moreira - S. Cosme / Gondomar
Soldado
Zózimo de Azevedo - Alpendurada / Marco de Canaveses
Soldado
António Oliveira Azevedo - Moreira / Maia (**)
Milícia
Demba Jau - Cossé / Bafatá
Milícia
Adulai Bari - Pate Gibel / Bafatá
Trabalhador
Serifo Baldé - Saltinho / Bafatá
Juntamos a estes o soldado António
Baptista, feito prisioneiro, bem com os diversos feridos com mais ou menor
gravidade.
CCS
Manuel
Ribeiro Teixeira soldado PelRec - natural Cimo da Vila/ Varziela Felgueiras,
morre numa mina na estrada para o Saltinho, mesmo à minha frente.
Milicia
Mamassaliu Baldé - natural de Cossé
Mama
Samba Embaló - natural de Cossé
Milicia
Ilda Bari - natural de Cossé
Alberto Araújo Mota alferes Transm. - Natural
de Curral, Pico de Regalados / Vila Verde
Este último, evacuado com hepatite,
morre 2 dias depois em Bissau. Antes tinha sido evacuado o rádio-montador
Carlos Filipe e aos 20 meses de comissão é igualmente evacuado com a mesma
maleita o alferes da ferrugem Amadeu.
Para fechar o ano de 1972, foi a CCS violentamente atacada ao arame no dia 1 de Dezembro.
O Unimog do Falé |
Em 1973, mina na estrada do Dulombi
destrói Unimog e fere gravemente o meu camarada Falé, que é evacuado e já não
volta (História já aqui publicada – Post 1223, 15 de Abril de 2020).
De referir minas na estrada do Dulombi e
ataques em Bangacia, Campata, Cansamba -
tudo na região das Duas Fontes (entre 6 e 9 km de Galomaro).
Posteriormente a CCS bem como Cancolim
foram reforçados com pelotões de Dulombi em retracção, que também reforçam operacionalmente
Nova Lamego. Fomos também ajudados com grupos de intervenção independentes, bem
como pára-quedistas.
Quando escrevi em 2008 sobre a minha ida
a Buruntuma (agora republicado neste Blogue – Post 1228 de 13 de Maio) limitei-me
a expressar a inquietação que tal viagem me tinha causado, bem como toda a
situação que se passava e representava no evoluir da guerra, naqueles anos entre
a minha chegada e a minha quase esperada e desejada partida.
O nosso terceiro Natal na Guiné... |
Ora, tendo o meu batalhão chegado à
Guiné na véspera de Natal de 1971, a sua partida só se viria a efectivar em 28
de Março de 1974. Escrevo isto, para situar o período em que se situam as minhas
narrativas e assim, dar a perspectiva da alteração e da intensidade da guerra a
que estivemos sujeitos. A violência bem como o equipamento utilizado contra nós
foram assim sendo alterados de região para região.
Enquanto o alcance da nossa artilharia
era ultrapassado largamente pelo alcance da artilharia do PAIGC, também nos
vimos privados da normal utilização de meios aéreos pese a grande coragem dos
pilotos, que se forçaram a voar após serem confrontados com uma arma da qual
ignoravam tudo, ou quase tudo.
E passo
a citar o General António Martins de Matos no seu livro “Voando
Sobre Um Ninho de Strelas”:
A guerra estava a entrar numa nova fase,
nada de emboscadas e confrontos directos mas sim de duelos de artilharia; e
seria de esperar o aparecimento de uma aviação rebelde/mercenária.
Duelos de artilharia? Interroga-se o
autor. A grande maioria desses obuses que estavam no Sul eram autênticos monos
da II Guerra com alcance não superior a 14000 metros. Na maioria dos quartéis
da Guiné só tinham direito a morteiros 81 mm (4.000 metros) e ainda 11
morteiros 105 mm espalhados por diversos sítios de alcance igual.
O PAIGC usava o 120 (5.700 metros),
depois havia os foguetes 122 mm (20.000 metros) e a breve trecho emprestados
por Sekou Touré, peças de 130 mm (27.000 metros); e enquanto a artilharia
utilizada pela guerrilha só podia ser posta em causa pela intervenção da nossa
Força Aérea, estas últimas peças fariam fogo directamente do Senegal e da Guiné
Conakri e sete dos nossos aquartelamentos ficariam assim debaixo de fogo,
Em Janeiro de 1974 o PAIGC decidiu
acabar com Copá, Buruntuma e Canquelifá.
Com foguetes 122 mm podiam bombardear enquanto lanchavam, porque o único
risco era o aparecimento da FAP. Mas Copá ficava a 200 km de Bissau - limite do
raio de acção dos Fiat G-91, que tinham que optar por levar combustível ou
bombas. Mesmo assim tinham que fazer
contas - ou aterravam em Nova Lamego ou chegavam a Bissau com quase ou mesmo
com motor apagado.
No final do mês Copá tinha 30 combatentes.
Entretanto mais um Fiat G-91 é abatido
sobre Copá (sobre o problema dos Strelas ler o capitulo 23 sobre a total
ignorância sobre essa nova arma com que se defrontaram os pilotos, quando
afinal já havia alguma informação há meses guardada a sete chaves por alguém
que, não tendo resposta prática para o problema, resolveu escondê-lo).
Sobre as lesões que os pilotos
adquiriram ao ejectar-se dos seus aviões atingidos, talvez seja bom lançar o
repto aos nossos camaradas, que tiveram que o fazer pondo em risco da própria
vida, ou pelo o menos de ficarem numa cadeira de rodas para sempre, mas que mesmo
assim voltaram a entrar nas aeronaves para cumprir missões naquelas condições.
Tudo isto para relembrar que aquela
guerra era intensificada consoante interesse do PAIGC, uma vez que lhe chegavam
abastecimentos cada vez de maior qualidade e quantidade, enquanto nós há muito
enfermávamos de uma penúria franciscana.
Está claro que opiniões são como o
umbigo, porque todos temos um, mas de nada vale reescrever a história, negar
hoje o que o era a realidade da altura e
pior que isso, chamar parvos ou choramingas aos outros, como alguém deu a
entender há dias - porque no tempo dele passeava por lá sem problemas.
O que parece é que o PAIGC tinha conhecimentos estratégicos, que eram
encarados sobranceiramente pelos nosso militares; e quando o JD pôs em causa a
perigosidade da coluna para Buruntuma, não pensou nos centenas de militares que
fizeram protecção à coluna em todo o percurso, para além das Chaimites, Whaits
e tropa na coluna. O PAIGC ia-se mesmo
meter na boca do lobo e já era certo, que o alvo não seria Buruntuma mas sim Canquelifá.
P.S. - Publico os nomes dos nossos
mortos porque lembrá-los é honrá-los e é uma obrigação registar os nomes de
quem na flor da idade nos deixou.
Um abraço
Juvenal Amado
8 comentários:
Caro Juvenal
Dizes aí que as opiniões são como ou umbigos, cada qual tem um.
É verdade!
Dizes também que achaste por bem publicar os nomes dos que morreram como forma não só de os honrar e homenagear como também contribuir para que não caiam precocemente na vala do esquecimento.
Acho que fizeste bem.
Quantos às outras explicações podem servir para uns se inteirarem de como se foram vivendo esses tempos.
Para outros servirá para relembrar.
Para outros ainda servirão para as objecções do costume.
É um "novo normal".
Hélder Sousa
Acho que este post, apesar de todas as tragédias que o mesmo encerra, foi útil para que alguma pessoas, que ainda têm d+úvidas, possam reconhecer que a guerra existiu mesmo e, por estes e outras factos, seria dificil ser ganha pela força das armas. Obrigao Juvenal. Paz às almas de todos os camaradas que por lá deram as suas vidas ingloriamente.
O António Tavares que pertenceu à CCS 2912 que nós fomos render sobre a emboscada das Duas Fontes fez-me chegar a correcção sobre o numero de mortos e assim:
Na emboscada morreram 5 militares e posteriormente três dos feridos que foram evacuados vieram a falecer em resultado dos ferimentos.
Os mortos foram oito e não seis como eu tinha inicialmente escrito.
Da parte do Ex Alferes Luís Dias que chegou a comandar a companhia do Dulombi chegaram-me estas informações mais precisas sobre a actividade operacional do Batalhão 3872.
CURIOSIDADES OU NOTAS SOBRE A NOSSA ZONA
Podemos verificar que os 4 quartéis do Batalhão sofreram 22 Ataques/Flagelações (CCS-1; CCAÇ3489-12; CCAÇ3490-0 e CCAÇ3491-9) e que as Tabancas das nossas populações em redor dos nossos aquartelamentos sofreram 23 Ataques/Flagelações, sendo que 9 deles foram contra populações indefesas e num acto de salteadores de estrada, o IN roubou dinheiro e bens a 16 elementos da população que transitavam na picada Saltinho-Galomaro.
BCAÇ3872
FLAGELAÇÕES E ATAQUES AOS NOSSOS QUARTÉIS
CCAÇ3489 -CANCOLIM
8 FLAGELAÇÕES EM 1972 (1 delas c/ 3 mortos, 5 feridos graves e 5 feridos ligeiros
2 FLAGELAÇÕES EM 1973
2 FLAGELAÇÕES EM 1974
CCAÇ3490 – SALTINHO
Não sofreram quaisquer ataques ou flagelações durante a comissão
CACAÇ3491 – DULOMBI
3 FLAGELAÇÕES EM 1972
4 FLAGELAÇÕES EM 1973
2 FLAGELAÇÕES EM 1974
CCS – GALOMARO
1 Ataque/flagelação em 1972 c/1 IN morto confirmado e prováveis feridos IN
MINAS ACTIVADAS E DETECTADAS
Cancolim: Mina A/P reforçada accionada c/ 1 morto e 1 ferido + mina A/C accionada c/12 feridos graves, 1 ferido lfigeiro e 2 feridos pop. + 2 minas A/P levantadas
Saltinho: 3 minas A/C levantadas e 1 A/P levantada
Dulombi: 2 minas A/C levantadas e 2 minas A/P levantadas
Galomaro: 1 mina A/P reforçada accionada c/1 morto+ 1 mina A/C reforçada accionada c/ 1 ferido grave
EMBOSCADAS/CONTACTOS/FLAGELAÇÕES AUTO
CCAÇ3489 – 1 contacto com o IN, após flagelação ao quartel, em 1972+ 1 emboscada aos milícias em Anambé, em 1973 c/ 2 mortos e 1 ferido
CCAÇ3490 – 1 emboscada no Quirafo c/ 9 mortos+1 milícia e 2 civis+ 1 militar capturado. 1 Emboscada c/feridos e mortos do IN+ 1 contacto do IN c/ milícias de Cansamange
Continuação:
CCAÇ3491 – Flagelação numa operação no Fiofioli+1 emboscada/contacto com 4 feridos ligeiros nossos e mortos do IN(s/confirmação de quantos, mas a rádio do PAIGc referiu que tínhamos tido 8 mortos e eles também tinha tido mortos+ 1 Emboscada/Flagelação junto à recolha de águas no Dulombi+ 2 flagelações a coluna de escolta e protecção na estrada Piche-Buruntuma.
CCS – Contacto entre forças milícias e o IN, após ataque a Campata c/elemento IN capturado.
ATAQUES A TABANCAS EM AUTO-DEFESA E TABANCAS INDEFESAS
- Tabanca indefesa de Bambadinca/Cancolim, em 25/1/72;
- Tabanca indefesa de Mali Bula/Galomaro, em 1/2/72;
- Tabanca de Umaro Cossé/Galomaro, c/ 2 feridos civis, em 7/12/72;
- Tabanca de Campata/Galomaro, em 20/6/72;
- Tabanca indefesa de Sinchã Mamadu/Saltinho, na mesma data de 20/6/72;
- Tabancas indefesas de Sana Jau e Bonere/Saltinho, em 30/6/72;
- Tabanca de Cassamange/Saltinho, em 15/7/72;
- Tabanca indefesa de Guerleer/Galomaro, c/ morte de 3 prisioneiros civis e 1 ferido grave, em 27/7/72;
- Tabanca de Patê Gibele/Galomaro c/ 1 sarg. milícia morto+1 ferido grave e 2 feridos ligeiros da pop., em 11/8/72;
- Tabanca de Anambé/Cancolim c/1 morto (CCAÇ3489)+ 3 feridos também da mesma CCAÇ, que ali estava de reforço, em 5/9/72;
- Tabanca de Sinchã Maunde Bucô/Saltinho, c/ 3 feridos IN confirmados, em 20/9/72;
- Tabanca de indefesa de Bujo Fulpe/Galomaro, em 26/9/72;
- Tabanca ainda indefesa de Bangacia/Galomaro, com 1 milícia e 2 civis mortos, no mesmo dia (26/9/72);
- Tabanca de Dulô Gengele/Galomaro, com 3 mortos IN confirmados e 3 mortos civis (que tinham sido feitos prisioneiros antes do ataque e que foram abatidos+ 1 ferido grave e 1 ferido ligeiro dos milícias e 4 feridos graves da pop e 5 feridos ligeiros da pop., em 17/10/72;
- Tabanca indefesa de Sarancho/Galomaro, com 2 mortos civis e 2 feridos civis;
- Tabanca indefesa de Samba Cumbera/Galomaro, c/ 1 ferido grave da pop., em 13/11/72;
- Tabanca de Cansamange/Saltinho, 17/12/72;
- Picada Saltinho-Galomaro c/ 16 elementos da pop. capturados e roubados dos seus haveres (dinheiro), em 18/1/73;
- Tabanca de Bangacia/Galomaro, c/ 2 mortos civis+2 feridos civis+2 feridos milícicias, em 1/2/73;
- Tabanca de Campata/Galomaro, c/5 mortos do IN e 1 capturado+ 3 mortos milícias e 3 mortos civis, em 16/3/73;
- Tabanca de Sinchã Maunde Bucô/Saltinho, em 14/5/73;
- Tabanca de Bangacia/Galomaro, em 18/9/73;
. Tabanca de Madina Bucô, em 20/1/74.
Mensagem deixada por Raul Castro em 21 de Maio de 2020:
Bom dia a Todos.
Parabens ao Juvenal pela descrição feita. A Guiné foi um osso duro de roer e muitos que ali morreram ou que ficaram deficientes, são a prova disso
Forte abraço
Raul Castro
Não sei o Castro se lembra, mas belo dia ia ia levar os para-quedistas a Nova Lamego e tinha havido um ataque a uma tabanca com emboscada no caminho de Bafatá para lá. Cruzei-me com ele, que estava sentado no banco central de um Unimogue, possivelmente para fazer patrulha depois do ataque onde foi fortemente atingida uma Chaimite.
Curiosamente, o António Ferreira, 1º cabo radiotelegrafista da CCAÇ 3490/BCAÇ 3872, frequentamos na mesma altura o curso/especialidade no Rtm Porto, eramos da mesma companhia 2º semestre 1971. Tenho uma vaga ideia de sua pessoa.
Sousa de Castro
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