segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

P1188: ADEQUADO À NOSSA GERAÇÃO...

Temos o prazer de reproduzir um poema escrito pelo nosso camarigo Juvenal Amado e recentemente publicado no blogue “Luís Graça & Camaradas da Guiné”. Decisão que nos agradou tomar dada a sensibilidade e emoção que emana do poema, a que acresce o facto de este belo texto já estar escondido nas “páginas seguintes” do blogue da Tabanca Grande. Teremos assim a possibilidade de partilhar com mais uns tantos camaradas um poema de grande sensibilidade que dirá muito a grande parte dos nossos camarigos, que passam ou já passaram por momentos idênticos.

Com a devida vénia ao Juvenal Amado e à Tabanca Grande, que publicou este poema.

Os editores

Juvenal Amado
“Caros camaradas,
É costume falarmos das agruras do nosso passado de militares mas hoje cabe-me falar das alegrias do presente, bem como de algumas dores nas costas.
Há um ano nasceu o meu neto Henrique, e como esse acontecimento veio transformar a minha vida de piloto experimental de sofás, bem como umas reconfortantes sestas, numa agitação de parques infantis, sopas e fruta esmagada, fraldas mijadas e, pior que isso, choradeiras e agora já com umas nódoas negras.
Não é nada que milhares de camaradas não tenham passado e perguntarão alguns para quê tanta tragédia. Mas para que servem os momentos felizes se não falarmos deles e dos seus actores, agora que estão aí as castanhas e a água-pé mais logo o vinho novo?
Assim sendo cá vai um poema que as cataratas me deixaram escrever.

Um abraço para todos
Juvenal Amado

PORQUE TARDASTE?


Porque tardaste tanto?
- Não conhecerás se não os meus olhos cansados

As minhas mãos que tremulam
O meu andar pesado e lento
As minhas barbas brancas
O meu cabelo raro.

-Porque tardaste tanto?
Miro-te
Não sabes ainda que o tempo será sempre pouco
Vou guardar o teu sono
Pois os dias em que te contemplo serão curtos
Não te assustes com o vento e trovoada
Que eu rezo a Santa Bárbara.
- Vou ajudar nos teus os primeiros passos
Vou magoar-me com o teu choro
Quero-te mostrar a beleza do mar
Ensinar-te o quanto é suave o odor das árvores
Por recompensa beberei o teu riso
Cada gargalhada tua será um hino.
- Só chegaste no meu entardecer
Fizeste-me renascer
Trouxeste-me amanheceres límpidos
- Porque demoraste tanto a chegar?
Só tenho amor para dar e estórias para te contar.

                                             Juvenal Amado

5 comentários:

Hélder Sousa disse...

Pois é, caros amigos

De facto quem poderá não se "reconhecer" na ternura e sensibilidade emanadas do poema?
Eu também sou um "avô tardio". Acho que também devo ter pensado que isso (de ser avô...) não me iria contemplar mas, quando finalmente aconteceu, foi uma grande alegria e essa alegria suplantou os sentimentos de desânimo.
Claro que foram substituídos por alguma apreensão sobre o que o futuro, neste momento tão carregado de sinais negativos, poderá trazer para a jovem criatura.
Mas, deve ter sido assim em todos os tempos.
Voltando ao poema... o Juvenal já nos tem habituado a ver nele um coração generoso, um "homem bom" e por isso o poema está perpassado desses sentimentos.

Foi bom ter relido este poema, esta declaração de amor ao neto, este lamento pelo tempo que ele sente que lhe pode faltar.

Abraço
Hélder Sousa

Carlos Pinheiro disse...

Parabéns pelo netinho e parabéns pelo lindo e sentido poema. Um grande abraço Juvenal e felicidades para o pimpolho e toda a familia. Carlos Pinheiro

joaquim disse...

Belíssimo Juvenal!!!

E mais não digo!

Um grande abraço
Joaquim

Zé Manel Cancela disse...

Lindo…..Lindissimo.Como eu te compreendo
amigo Juvenal…...Um grande abraço,e muitos parabens….

Anónimo disse...

Parabéns amigo Juvenal.
Lindo o poema que dedica ao seu neto.
Veio só agora...porque foi a hora certa.
Acredito que apesar da idade e dos cabelos brancos, terá ainda tempo para lhe ensinar algo.
Uma coisa é certa. Ele vai saber e aprender que o avô, o ama muito.
Votos de um feliz Natal para toda sua família. Bj, amigo

M Arminda