INÍCIO DO REGRESSO A CASA
JERO |
Em
17 de Abril de 1966 foi rendido o nosso 1º Pelotão, de
Guidage, pelo 3º. Grupo da Companhia de Artilharia do 731. Em Binta já há uns
dias que decorria a transmissão da carga da «675» para a Companhia que nos iria
render na «quadrícula». Torrava-se no aquartelamento. O calor era infernal, mesmo
para os veteranos.
O nosso Comandante de
Companhia, Tenente Pedro Cruz, bem avisava o Alferes «maçarico» da C.Caç. 1550
para se pôr a pau com o calor. Transpirava no armazém coberto de zinco e, de
tronco nu, ia recebendo o material do nosso cabo-quarteleiro. No dia seguinte
estava mesmo «cozido»... Não acrescentamos «mal pago» porque Alferes... para
1º emprego... não era mau de todo!
A malta ia arrumando os seus "pertences" em caixas, caixinhas e caixotes e, finalmente, chegou o dia da partida. A despedida foi emocionante. A "aldeia" em peso veio despedir-se da «675».
Lágrimas
e mais lágrimas selaram uma vida em comum. Com muitos sacrifícios mas também
com momentos inesquecíveis que a todos nos marcaria pela vida fora. Binta
ficava para trás... Aqueles momentos da despedida seriam para mais tarde
recordar.
A
estrada para Farim era bem conhecida de todos. Quantas vezes percorremos
aquele itinerário! Chegámos a Farim e ao Batalhão sem problemas de maior.
Chegámos sem problemas porque os «ditos» (os problemas) estavam lá à nossa
espera.
As
ordens eram para entregar as armas e seguir numa coluna para Bissau, com
passagem pelo Óio, com «passaporte de turista». Que «presente» envenenado!
Desarmados, apreciando a paisagem e tirando fotografias !!!
É
verdade que seríamos escoltados por um pelotão mas passar pelo Óio «desarmado»
era coisa que nunca nos tinha passado pela cabeça. A «nossa» relação com o
Batalhão 733 nunca tinha sido das melhores e estava a acabar mal.
Viveram-se
momentos difíceis (para não empregar palavras mais vernáculas) mas os nossos
oficiais lá conseguiram levar a sua avante. Seguimos para Bissau com as nossas
armas. Foi uma viagem de nervos, muitos nervos. Chegámos ao nosso destino já de
noite. Estoirados. Com os nervos em franja. O nível de simpatias pelo Batalhão
733 não era, propriamente, elevado.
A
malta encostou «às boxes» e os nossos oficiais foram tentar entregar o nosso
armamento. Mas havia «baile de gala» no
Quartel da Amura e... ninguém nos esperava...
Para
escândalo público o nosso Tenente Cruz apareceu de camuflado e de cara
enfarruscada no baile e ... lá «conseguiu levar a carta a Garcia» ! Um amável
Tenente-Coronel, de impecável farda branca, passou a noite «por conta» da “675”
e conseguiu-se entregar o armamento até às tantas da manhã.
Uma
ideia esquisita que retemos desse dia memorável (em que para «quase» todos nós
acabou a guerra) foi a de que ninguém em Bissau nos esperava. Ninguém contava
com a chegada da Companhia de Caçadores 675!
E...
finalmente o embarque no «UÍGE» e o início do regresso a casa. Já lá vão mais
de 50 anos. Como o tempo passa !
José Eduardo Oliveira
JERO
2 comentários:
Se o tempo passa ... amigo Jero... Também digo o mesmo.
Como podem estar tão presentes nas nossas memórias acontecimentos que nos marcaram!..
História interessante e com final feliz, dada as circunstâncias do regresso.
Lá estragaram o convívio do oficial que forçadamente os teve que receber. Contrastes da guerra...Uns a combater, outros a confraternizar...
Um abraço.
M Arminda
Grato pelo seu comentário, querida amiga Maria Arminda. Par quem não andou "por lá" será uma história difícil de acreditar...Mas aconteceu mesmo. Uns a combater...outros a bailar.Ironias da vida. Abraço GRANDE de Alcobaça, JERO
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