sábado, 18 de março de 2017

P893: UMA ANÁLISE DO NOSSO CAMARIGO JOSÉ BELO...

INESPERADAMENTE, A MINHA PROFUNDA INVEJA DO AMIGO E CAMARADA MIGUEL PESSOA


O Miguel Pessoa na ida para uma missão
Hoje, ao começar o dia trocando alguns e-mails com o "Herr Överste" (Senhor Coronel em sueco) Miguel Pessoa, surgiu bruscamente no meu pensamento algo que até agora não tinha considerado com a devida atenção.

Nas conversas com antigos combatentes, sejam eles portugueses ou norte-americanos (também por lá vivo!), surge sempre a referência às frustrações sentidas quando se procura descrever aos familiares, amigos, ou simples conhecidos, as experiências e sentimentos de cada um aquando da passagem por teatros de guerra.

Sente-se sempre que este tipo de comunicação, na procura de explicações, sejam elas geográficas, sociais ou outras, é extremamente difícil de ser apreendido em todas as suas "variantes" por quem nos escuta.

Muitas vezes sente-se que não escutam... aparentam escutar!

A Giselda com a tripulação de alerta do AL-III
Isto sem se entrar em referências a situações concretas de combate, estas ultrapassam totalmente quem as não viveu.

Se a "comunicação" é difícil em Portugal, em famílias portuguesas, os que formam família no estrangeiro, com filhos quase automaticamente estrangeiros e com netos ainda mais estrangeiros que estes, torna as referências a uma guerra colonial como algo de pré-histórico... no melhor dos casos!

É sempre necessária infindável introdução quanto aos enquadramentos históricos e sociais, ao significado dos 400 anos de colonialismos vários, as consequências do longo período da ditadura no tipo muito específico de formação que, aos nascidos e educados nesses tempos, acabou por ser imbuída muito mais profundamente do que muitos hoje gostam de reconhecer.

Recuperação e evacuação do Miguel Pessoa, com o apoio da Giselda
MAS... no caso do Miguel Pessoa tudo é... diferente!
Casado com uma nossa Camarada de armas.

Uma evacuação atribulada da Giselda, com ida ao charco
Alguém que com ele COMPARTILHOU, no conjunto de difíceis situações de guerra, certamente inesquecíveis, mas (e principalmente!)... sem necessitarem das tais infindáveis explicações quanto a factos, quando, porquê e quem!

Confesso, mais uma vez, nunca ter pensado neste pequeno-grande "detalhe", em relação aos outros ex-combatentes.

Hoje em Portugal, em situação muito diferente quanto à paz e tipo de serviço militar, casamentos entre camaradas de armas não serão invulgares.

Mas... compartilhando o pior teatro de guerra das guerras de África, como o era a Guiné... ao mesmo tempo... nos mesmos locais... e em algumas situações incríveis... não haverá muitos... se alguns houver!

Será que em relação aos outros (a nós), tanto a Giselda como o Miguel terão consciência do privilégio que é esta não necessidade das tais tão limitativas "explicações"?

Um grande abraço do
José Belo


3 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro José Belo

Sem dúvida uma intrigante questão!
Também não tinha pensado nisso mas não restam dúvidas que o Miguel Pessoa e a Giselda são, por esse prisma, uns privilegiados.
Não precisam de grandes (de facto, nenhumas) introduções para situar 'no contexto' os seus interlocutores, sendo que na maioria dos casos são eles mesmos.
Desconfio até que, muitas vezes, os diferentes 'casos' que os envolvem, directamente ou lateralmente, possam ser referenciados por números... do género "e daquela vez que foste ao charco, lembras-te?" pode ser vantajoso em termos de tempo dizer "caso n.º 3"....

Mas, tirando a brincadeira, é bem verdade a caracterização que fazes do tipo de "diálogo" que há entre o que estes E.T.s (que somos nós...) e os mais novos, ou até nem isso. Realmente, muitas vezes parece que nos 'ouvem sem escutar' e agem e reagem sem envolvimento emocional, quase como que "deixa lá falar o velhinho, deixa-o desabafar e contar aquelas histórias mirabolantes, pode lá ter sido assim!".
Abraço
Hélder Sousa

Manuel Reis disse...


Caro José Belo

Neste teu texto referes-te à receptividade dos mais novos ao tema " Guerra Colonial". Não posso estar mais de acordo contigo e todos os anos posso testar essa realidade.

O tema " Guerra Colonial" é abordado, muito superficialmente, no programa de História dos alunos do 12º Ano. Embora me encontre na situação de aposentado sou todos os anos solicitado por colegas meus, professores de História, a dar uma aula de 2 horas para abordar o tema, por me encontrar numa situação privilegiada de ser uma testemunha que viveu e presenciou actos de guerra. Preparo a aula meticulosamente, com muito material de apoio de que destaco vídeos com filmagens de cenas de guerra. Procuro sensibilizar os alunos para colocarem questões. É visível que menos de metade da turma se interessa pela abordagem do tema e coloca questões.

Abraço.

Manuel Reis


Anónimo disse...



Aproveito este texto,dedicado com muita amizade e respeito, aos meus Camaradas Giselda e Miguel,para voltar as minhas últimas páginas do capítulo chamado Guiné e... encerrar o livro que me deu raízes e valores, que me acompanharäo até ao fim,chamado Portugal.

Um grande abraco do José Belo