Texto recebido de Manuel Lema Santos, sem
identificação do autor. Com a devida vénia ao nosso camarada e ao autor
desconhecido.
UM
ANIVERSÁRIO PERFEITO
A minha filha completou quinze anos e
organizámos a festa de aniversário com um baile num salão de festas para que
convidasse todos os seus amigos.
Nessa noite, à medida que iam chegando, sentavam-se no
lugar designado e em seguida ligavam os telemóveis e começavam a jogar ou a
conversar por meio de sms.
Era muito comovente vê-los concentrados no ecran dos
seus sóbrios e negros aparelhos, como especificava o convite “estilo desportivo
e elegante e telemóveis negros”.
Tão crescidos que
estão todos! Pensar que os conheço desde que começaram a falar... Ainda me
recordo da voz deles, alguns já não se lembram que falavam quando eram crianças
e falavam a olhar-se olhos nos olhos.
Faziam erros ao falar e eu não os
corrigia, claro, pensava que iriam crescer e aprender a falar correctamente.
Quando chegou o momento do baile, cada um colocou os
auriculares, escolheu a lista de músicas que mais gostava e entrou na pista de
dança. Dava a sensação de que todos dançavam ao som da mesma música.
A entrada de minha filha foi apoteótica, exultante de
emoção.
Cada um dos amigos tentava ser o primeiro a fazer chegar o seu sms de
felicitações, movendo os dedos a toda velocidade.
Os mais precavidos já tinham
a mensagem preparada e só precisavam de carregar em “ok”.
O telefone de minha
filha não parava de vibrar e como era impossível lê-los todos, guardou alguns
para mais tarde.
Aproximei-me dela e disse-lhe sem me dar conta:
- Feliz aniversário filhinha.
Ela olhou-me horrorizada e afastou-se de mim.
Preocupado, fui atrás dela e tentei perguntar-lhe se se passava alguma coisa, o que teria feito que a incomodara.
Puxou do telemóvel e mandou-me um sms:
-Qres me envrgoñr frnte ms amgs? Fzme o fvor, pra q
exst os tlms?
Não tive outro remédio senão ligar o meu telemóvel e mandar-lhe as minhas
felicitações por sms:
- Prdao Fliz anvers filnha Bj Papa.
Foi um aniversário perfeito!
Como o tempo passa e que "velho" estou. Pensar que quase lhe dei
um beijo!
2 comentários:
Tempos modernos?
Infelizmente, sim!
E, mais grave, não têm, na generalidade, percepção do mal que estão a fazer, a eles mesmos.
Hélder Sousa
Sinais dos tempos. Todos nós, mais uns que outros, somos atacados por estas modas que reduzem o contacto pessoal em detrimento do virtual.
A história é apesar de tudo excelente, tipo tragico-cómica.
Abraço do vosso leitor
Carlos Vinhal
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