ÍNDIA - COMBATER DO OUTRO LADO DO MUNDO
Aproveitando a realização de uma sessão das "Tertúlias dos Combatentes" no mesmo dia do 33º convívio da Tabanca do Centro, um pequeno grupo de camarigos de Lisboa/Setúbel optou por ficar por Leiria e assistir à referida sessão, que tinha como tema a Índia. Esta sessão tinha particular interesse para a Maria Arminda Santos, ainda hoje com fortes recordações dos episódios que viveu nessa época quando da invasão daquele território pelas forças indianas.
A Maria Arminda foi em 1961 uma das enfermeiras paraquedistas nomeadas para o acompanhamento
de mulheres e crianças, famílias de militares a prestar serviço nesse
território, que estavam a ser retiradas de Goa através de uma ponte aérea
que era assegurada pelos TAIP, sendo esse pessoal posteriormente evacuado para Lisboa em aviões da TAP.
Lembrava-se ainda do facto de então ter escapado por pouco de ser feita prisioneira pelas forças invasoras.
A sessão, que decorreu nas instalações da Livraria Arquivo, foi moderada pelo Cap. Lourenço Faria e contou com os depoimentos de Jaime Antunes Pereira Reis e António Borges da Cunha, relatando um a experiência traumatizante de um militar apanhado em plena invasão, o outro focando aspectos da vida interessante passada nos territórios da Índia Portuguesa antes daqueles acontecimentos e, posteriormente, os contactos retomados com os amigos que ali tinham sido deixados.
Da Tabanca do Centro, correndo o risco de esquecermos algum nome, estavam: Maria Arminda Santos, Giselda e Miguel Pessoa, José Seara, Vitor Caseiro, Agostinho Gaspar, Carlos Santos, Paulo Moreno e, claro, o Mário Ley Garcia, da Liga de Combatentes.
No período de perguntas/respostas no final, teve a Maria Arminda a oportunidade de resumidamente descrever alguns dos aspectos que tinham rodeado a sua missão. Lembrámo-nos então de em Outubro de 2011 ter sido publicado no blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné" um texto bastante completo em que a nossa camariga Maria Arminda relatava pormenorizadamente a sua experiência de então.
É esse texto que vamos agora recuperar para publicação neste blogue, com a devida vénia à autora e à Tabanca Grande, que o publicou originalmente.
Embora extenso, optámos por não dividir o texto em partes pois poderia prejudicar a sua leitura.
Os editores
MISSÃO À ÍNDIA
Foi no dia 18 de Dezembro, de 1961 que a
Índia foi invadida pelas tropas da União Indiana no governo do seu
primeiro-ministro, o Pandita Nehru, como à data se dizia.
Hoje vou recuar no tempo e relembrar porque
tal facto fez parte da minha vivência cheia de emoções, que não se apagaram da
minha memória.
Prestava serviço em Angola, Luanda, como
enfermeira pára-quedista, onde tinha sido colocada; tinha ali chegado a 12 de
Outubro de 1961 na companhia das minhas colegas, Maria da Nazaré e Maria
Zulmira – já falecidas - chegando a Maria de Lourdes, também apelidada de
Lurdinhas, pelo seu aspecto físico mais franzino, cerca de duas semanas depois.
Terá sido entre os dias catorze a dezasseis
de Dezembro que nos soou que se encontrava de prevenção uma companhia de
pára-quedistas para a hipótese de ser necessário enviá-la para o Estado da
Índia Portuguesa; havia notícias de uma possível invasão daquele território por
parte dos Indianos, que estavam a concentrar as suas tropas nas nossas
fronteiras. A 2ª companhia, comandada à época, pelo Cap. pára-quedista
Heitor Almendra, a que estava destinada essa missão, partiria por via
aérea até à Beira, através do canal de Moçambique, por ser geograficamente mais
próximo desse nosso território e haver habitualmente uma ligação entre Goa e
Moçambique assegurada pelos TAIP (Transportes Aéreos da Índia Portuguesa).
Dissemos que se fosse necessário também nos
oferecíamos para ir; tínhamos a consciência de que por certo não poderíamos ir
todas, dado o trabalho a desenvolver em Luanda. Trabalhávamos nos postos de
socorros das companhias, íamos em missões de vacinação às tropas estacionadas
na Base Aérea do Negage e outros locais, dávamos apoio ao bloco operatório do
hospital militar e na Direcção do serviço de Saúde da Força Aérea, onde também
eram tratadas as famílias dos militares e pessoal civil. Acresce ainda que
assegurávamos o acompanhamento de feridos e doentes, nas denominadas
“Evacuações Aéreas” entre Luanda e Lisboa.
Nessa manhã tratámos da esposa do Senhor
Cor. Magro, que a acompanhava, e com quem desabafámos sobre a hipótese da nossa
ida à Índia, ao que o mesmo respondeu com ar de troça: “Falam assim mas sabem
que não vão, porque se tivessem que ir, se calhar não quereriam”. É claro que
estava a brincar connosco pois, além de conhecer o nosso empenho, era acima de
tudo nosso amigo. A conversa ficou por ali e combinou-se que à noite, eles
viriam a nossa casa, para fazermos o tratamento à senhora.
O dia passou-se tranquilamente e não mais
se ouviu falar da saída dos Páras, nem do seu embarque. Após o jantar a Nazaré
e eu fomos chamadas à 2ª companhia (sedeada em Belo Horizonte), a mesma que
estava de prevenção, onde alguns militares apresentavam sintomas de paludismo.
Um avião DC-6 da Força Aérea estava a essa
hora prestes a partir para Lisboa, com passageiros sem feridos ou doentes, pelo
que nenhuma de nós previa viajar nesse voo. Acontece que um rádio chegado pouco
tempo antes ao comando da Região Aérea, tinha entretanto dado instruções para embarcarmos
com urgência nesse transporte a Nazaré e eu, ficando atrasada a hora de saída
do DC-6 até ao nosso embarque.
O capitão pára-quedista Jerónimo Gonçalves dirigiu-se
a nossa casa e tendo encontrado a Zulmira e a Lurdinhas, disse-lhes que “tínhamos
que embarcar imediatamente no avião que aguardava a nossa chegada para partir”
e informou-as de que “iríamos para a Índia”. Como ainda não tínhamos chegado o oficial
saiu ao nosso encontro, enquanto as duas preparavam as nossas bagagens com
algumas peças de roupa, umas a mais e outras a menos.
Daí a pouco chegámos nós nas calmas, muito
longe de imaginar o que se estava a passar; ao vermos a Zulmira, excitadíssima,
gritar-nos do alto da janela da pensão da dona Maximina, onde habitávamos,
“despachem-se e subam depressa que têm que ir para a Índia”. Começámos a rir,
pensando que elas nos estavam a pregar uma partida. Perante as malas de viagem
prontas e as palavras do oficial é que ficámos convencidas e, tal como
estávamos vestidas, despedimo-nos apressadamente sem tempo sequer para ver as
roupas que nos tinham emalado, para um clima que não conhecíamos.
Na saída deparámo-nos com o senhor Coronel
Magro, que vinha com a esposa levar a injecção; vendo todo aquele aparato e a
nossa pressa interpelou-nos, acabando por saber naquele momento o nosso
destino. Escusado será dizer que o senhor ficou perplexo, visto ser um dos
comandantes da Região Aérea, mas como o rádio tinha chegado fora do horário
normal, não tinha dele conhecimento. Despediu-se de nós, desejando-nos que a
missão decorresse bem e ainda brincou acerca da conversa que tínhamos tido de
manhã.
A pressa foi tanta que, chegadas à placa,
entregámos as malas ao oficial responsável pela carga de embarque de
passageiros e muito lestas nos vimos dentro do avião, sem que o restante
pessoal se apercebesse. Foi o capº. Jerónimo Gonçalves quem comunicou ao Senhor
General Resende que já estávamos a bordo, a aguardar pelos restantes
passageiros; O Gen. Resende era o responsável máximo da Força Aérea em Angola e
possivelmente teria recebido a comunicação directa de Lisboa, tendo-se deslocado
propositadamente ao aeroporto, para se despedir de nós. Pedimos desculpa pelo
lapso e despedimo-nos do Senhor General, com certa estranheza, dado o insólito
da situação.
No decurso da viagem para Lisboa comentámos
entre nós, que não levávamos nenhum dinheiro nem roupa quente. Íamos com um
vestido leve e de manga curta, dado que naquela data em Angola era verão e na
metrópole inverno. Depois de quase vinte horas de viagem, com escalas em S.
Tomé e na Guiné, chegámos ao aeroporto da Portela cerca das dezassete horas,
com um dia gélido, de apenas quatro graus, segundo nos disseram.
Esperavam-nos o Senhor Coronel Kaúlza de
Arriaga, Secretário de Estado da Aeronáutica e esposa a Senhora Dona Mª do
Carmo Arriaga. Acompanhavam-no o seu chefe de gabinete, Tenente-coronel Troni e
um dos oficiais às ordens, o Alferes Francisco Pinto Balsemão; o outro era o
Alferes Francisco Vanzeller, que nós também já conhecíamos.
Pensávamos que teríamos tempo de arranjar
alguma roupa mais apropriada, mas enganámo-nos. Fomos de imediato com o alferes
Balsemão à Embaixada do Paquistão, para tratar do passaporte e do visto, sendo
entretanto informadas de que iríamos para Carachi.
Um funcionário da Embaixada pediu-me mesmo se
eu não me importava de levar uma encomenda com um relógio de pulso, um presente
para a mulher - que se encontrava na parte oriental do Paquistão – a quem eu
podia enviar a encomenda directamente do aeroporto de Carachi. Aceitei fazer
esse favor ao senhor e fiquei com a encomenda.
Terminadas estas formalidades o alferes
levou-nos de seguida para o local onde íamos jantar e entregou-me um envelope
com dólares, para as nossas despesas, com a recomendação de que não levássemos
nada que nos pudesse identificar como militares e que estivéssemos de novo no
aeroporto às vinte e uma horas, para seguirmos viagem a bordo de um avião da
TAP (um Super Constellation).
Após essas diligências dirigimo-nos ao Lar
das enfermeiras do Hospital de Santa Maria, onde tínhamos trabalhado, e de onde
tínhamos saído poucos meses antes. Ali jantámos, revemos colegas, arranjámos
roupa adequada para a época e aproveitámos para telefonar à família, sem lhes
darmos conta do porquê da nossa vinda e do destino seguinte. Inventámos para
todos, que tínhamos vindo trazer doentes, mas por sermos poucas e haver
necessidade de voltar, partiríamos de novo após o jantar, não dando tempo para
uma visita. A minha família vivia em Setúbal mas, morando a da Nazaré na
capital, mesmo assim ela não os foi visitar, tal “o secretismo”.
Todos acreditaram, mas umas amigas mais
próximas fizeram questão de nos levar ao aeroporto e aí se despedirem.
Esperava-nos o Ten-coronel Troni, que ao ver as acompanhantes disse “que já não
embarcávamos, mas que tínhamos que ir com ele”. Não percebemos na altura essa
mudança brusca de procedimento. Afinal fomos para ali ao lado, ao aeroporto
militar de Figo Maduro. Foi a maneira das nossas amigas regressaram sem nós,
não tendo desconfiado de nada.
Fomos então informadas do conteúdo da
missão. Íamos para o Paquistão Ocidental para a cidade de Carachi, onde já se
encontravam há alguns dias as nossas colegas a Mª do Céu e Mª Ivone, que
estavam muito cansadas; nós íamos revezá-las no seu trabalho, como reforço, no
acompanhamento de mulheres e crianças, famílias de militares a prestar serviço
nesse território, que estavam a ser retiradas, de Goa, através da ponte aérea
assegurada pelos TAIP e posteriormente evacuadas para Lisboa pelos aviões da
TAP. Estavam nessa missão o chefe da mesma, um representante do nosso
Ministério do Ultramar, o Dr. Espinheira, o Major médico da Força Aérea, Dr.
Fernandes Tender e o sº. Rodrigues, Relações Públicas da TAP.
Colocaram-nos na zona da 1ª classe do
avião, comunicando-nos que qualquer pergunta do pessoal de bordo sobre a nossa
presença deveria ser remetida para o piloto, comandante Magro (que viemos a
saber posteriormente ser irmão do Coronel que estava em Luanda). Fomos
informadas de que só sairíamos, definitivamente, em Carachi.
Passado pouco tempo sentaram-se atrás de
nós cinco ou seis homens trajando à civil; soubemos mais tarde tratar-se de
oficiais e sargentos do nosso exército, da arma de engenharia, enviados à
pressa nessa missão. Ouvimos o ruído de um carro, que pude divisar da janela do
avião, um carro grande, com capota de lona vi encostar ao avião, não tendo
conseguido detectar mais pormenores. Passado pouco tempo arrancámos para a
placa do estacionamento do aeroporto, para a entrada do pessoal de cabine, duas
hospedeiras e um comissário de bordo que, penso eu, só nesse momento souberam
para onde iam voar, porque nos perguntaram pelos bilhetes; respondi-lhes que
perguntassem ao comandante o avião.
Por volta das onze da noite locais
descolámos rumo ao nosso destino. Nessa altura, disse à Nazaré: “Com todo este
aparato, achas que nos vai acontecer alguma coisa? Uma das hospedeiras deu-nos
cobertores para nos taparmos e dois banquinhos para descanso das pernas, pois a
viagem ia ser longa e nós, poucas horas antes, tínhamos chegado dum local bem
distante. Dormimos tranquilamente algum tempo, até porque estávamos muito
cansadas e havia que recuperar forças para o que viesse.
Recordo-me que quando acordei para não mais
dormir até à chegada no outro dia já de noite, talvez por volta das vinte horas
locais, ter sobrevoado as costas da Itália, Grécia, Turquia, as Ilhas de Rodes
e Chipre, até fazermos a primeira paragem no Líbano, na cidade de Beirute, onde
almoçámos e o avião foi reabastecido.
Toda aquela vista aérea me encantou, pois
foi feita com condições atmosféricas favoráveis e o mar mediterrâneo por baixo
de nós, de tons de verde e azul, fascinou-me. A aproximação ao Líbano
mostrava-nos uma cidade que me parecia ser linda. Não deu na ida para a
apreciarmos, mas na vinda pudemos visitá-la. Ao sairmos para o restaurante
reparámos então no avião seguiam umas dezenas de rapazes, que tinham em comum
peças de vestuário iguais: nuns, eram as camisas, noutros as gravatas, ou
sapatos e até as meias. Não nos foi difícil de adivinhar que se tratava de
militares.
A vida é um misto de acasos e emoções.
Aconteceu que na nossa mesa se sentou, entre outros, um jovem que na minha
frente me olhava, parecendo rebuscar na sua memória a minha fisionomia, para
chegar à conclusão de onde me conhecia. Porém, eu com a minha memória de
elefante, que afirmam que tenho, reconheci-o de imediato. Comíamos em silêncio,
quando o rapaz mete conversa e me diz conhecer-me, embora não se lembre donde.
Sorri nessa altura e perguntei-lhe se não tinha uma cicatriz, por cima do ombro
direito, respondendo-me afirmativamente, muito espantado. De repente, exclama
“Srª enfermeira Lopes Pereira, o que faz aqui no meio de nós?” ao que lhe
respondi, que ia no mesmo passeio turístico que ele. Ficou espantado e de
repente começou a falar do que os jornais tinham noticiado sobre as primeiras
mulheres pára-quedistas e eu pedi-lhe que se calasse. Tinha estado internado no
meu serviço no Hospital de Santa Maria, meses antes de ir para a tropa e por
esse facto, estava muito presente na minha memória.
Despedi-me dele em Carachi; continuou
viagem para Goa, ficou prisioneiro e nunca mais o vi. Prestes a chegarmos ao
Paquistão o comandante mandou avisar-me que possivelmente teria que seguir
directamente para Goa e assim sendo, não nos deixava em Carachi. Eu como mais
antiga, era a interlocutora, respondendo que as ordens que recebera eram para
ficar ali e não noutro lado.
Não sabíamos o que se estava a passar mas o
comandante, via rádio, sabia que o assalto ao aeroporto podia estar eminente. A
invasão já tinha começado e o avião dos TAIP, que deveria estar em Carachi,
para fazer o transporte do material de guerra e os militares para Goa, que
connosco tinham viajado, não tinha conseguido sair, pelo que o nosso avião fez
uma paragem técnica. O pessoal saiu para comer e voltar para continuar a
viagem. Nós ficámos em Carachi e, talvez por volta da meia-noite, soubemos que
o aeroporto em Goa tinha sido bombardeado; desconhecíamos o que acontecera ao
avião e a todos os que iam a bordo, incluindo a tripulação.
Na viagem até Carachi fomos muito bem
tratadas pelo pessoal de cabine, de cujos nomes tenho pena de não me recordar.
O comissário de bordo, ao conversar connosco, contou-nos que era casado e que
esperava ser pai do primeiro filho, pois a mulher estava grávida de seis meses.
Quando se soube que o bombardeamento tinha sido no desembarque em Goa, as
palavras do comissário não me saíam do pensamento, embora estivesse preocupada
com todos os que iam naquele avião, com menos sorte que nós.
Ninguém no grupo sabia da missão, que
aquele avião ia chegar e o que transportava. Carachi era uma cidade de
espionagem intensa e estava em guerra há anos com a União Indiana, por integração
do território de Caxemira, cuja posse ambos reivindicavam. Se o governo indiano
soubesse desta missão, da ajuda e das facilidades de manobra que o governo
paquistanês nos tinha concedido, por certo nos teriam abatido, daí todo o
grande secretismo à volta deste voo.
A Mª do Céu quando viu chegar o avião e
este se imobilizou, disse ao Dr. Tender: “parece a Mª Arminda que vem ali à
janela, mas não pode ser, porque ela está, em Angola”. Foi um espanto para
todos a nossa chegada - os homens pareciam pertencer a grupos desportivos, até
transportavam alguns sacos de rede com bolas, o que eu e a Nazaré não tínhamos
visto, na paragem em Beirute e ficámos espantadas e convictas de que se tratava
de uma missão secreta.
Aquela noite foi um pesadelo, não nos
deitámos, apesar do alojamento disponibilizado ser nas instalações do
aeroporto, num piso térreo, que as várias companhias estrangeiras que nele
operavam tinham para descanso das tripulações. O nosso era da Companhia da KLM.
Apesar de muito cansadas permanecemos por ali a fim de sabermos mais algumas
informações através dos paquistaneses, porque de Lisboa ainda menos se sabia e
de Goa, nem pensar. Mais nada se soube e foi com forte angústia que por ali
fomos ficando, em alerta a novos acontecimentos.
Entretanto encontrava-se ali estacionado
outro avião da TAP que iria transportar algumas crianças e as últimas mulheres e
que aguardava partida para Lisboa; entre elas estava uma grávida, em fim de
gestação. Foi decidido que seguiriam nesse voo a Céu e a Ivone e que ficaríamos
nós, Nazaré e eu. com os restantes elementos da missão, até chegarem ordens de
Lisboa. A ansiedade que nos tomou, também tomou a parturiente, que começou a
dar sinais evidentes de que o parto podia ocorrer a qualquer momento - o que
teria acontecido, se o avião tivesse ido para o ar. Foi de imediato acompanhada
pela Mª do Céu e internada numa clínica obstétrica local, tendo nascido uma
menina. O pai, um sargento enfermeiro do exército, foi, como todos os outros
militares, feito prisioneiro e só veio a conhecê-la, meses depois, quando da
sua libertação.
No dia seguinte continuávamos sem notícias,
nem de Goa nem de Lisboa. Nessa tarde o Dr. Tender foi confrontado com
telefonemas anónimos, em que o interlocutor perguntava se ele era militar, bem
como o restante grupo. Essa ocorrência deixou-nos a todos um pouco apreensivos,
pois tínhamos sabido que algum tempo antes uma hospedeira da TWA tinha sido
assassinada. Quando o avião estava prestes a sair, o comandante foi avisado de
que deveria aguardar, porque estavam a caminho dois aviões, que conseguiram
descolar de Goa, em condições muito desfavoráveis e escapar ao controle dos
radares indianos.
Foi com grande alegria que vimos chegar a
tripulação, com o avião que nos transportara, bem como o dos TAIP, que não
tinha podido anteriormente descolar de Goa, trazendo o pessoal civil que
trabalhava no aeroporto e o director da Emissora de Goa. Com os novos
acontecimentos ficámos todos em Carachi, até a senhora ter alta; no dia vinte à
tardinha, o avião dos TAIP (ainda com marcas dos estilhaços de bombas) iniciou a
viagem de regresso, transportando-nos a nós e a todas as pessoas que tinham
conseguido fugir, as restantes mulheres e crianças e a nossa nova passageira
recém-nascida.
O avião da TAP ficou no aeroporto, para
reparação, tinha sofrido mais estilhaços que o nosso. O que nos trouxe,
pilotado pelo comandante Solano de Almeida, era um DC4, muito mais lento, um
quadrimotor a hélice, enquanto a primeira aeronave era turbo-hélice e mais rápido.
Soubemos de imediato, que seria uma viagem muito mais demorada e com escalas
pelo meio. Preocupava-nos além dos condicionalismos existentes, o bem-estar de
todos os que estavam a bordo, até porque alguns dos passageiros estavam
psicologicamente abalados. Tinham embarcado à pressa, apenas com a roupa que
traziam na altura vestida. Acima de tudo preocupava-nos a recém-nascida e a sua
mãe. Passámos desde então a assumir o papel de enfermeiras hospedeiras, o que
teve a virtude de nos trazer distraídas e ocupadas.
Saímos na noite do dia vinte e a primeira
paragem foi na Síria, em Damasco, apenas para reabastecimento; daí seguimos
para o Líbano rumo à cidade de Beirute, onde pernoitámos, sobretudo para
descanso da tripulação, que era única para toda a viagem. Este percurso,
segundo o que os pilotos nos disseram, foi mais demorado porque o avião tinha
que subir lentamente acima dos montes da cordilheira do Líbano, que separa este
país da Síria, não sendo as condições as mais favoráveis, pelo que teve que
subir em espiral até atingir a altitude de segurança.
No dia seguinte, vinte e um à noite,
descolámos para mais um percurso; mas a paragem na cidade de Beirute tinha-me permitido
visitá-la, pois era linda e com duas zonas distintas: uma parte mais antiga, no
centro, e outra, nova, de enormes edifícios, que lhe valeu pela sua imponência
a designação da “Riviera do Oriente”.
Aterrámos em Beirute já era escuro, com mau
tempo e chuva intensa; e foi debaixo desta, que a Nazaré e eu deixámos o hotel
onde estávamos alojados e procurámos uma farmácia próxima para comprar,
material de penso a fim de tratarmos o cordão umbilical da bebé, que ainda não
tinha caído. Escusado será dizer que sem qualquer protecção e a água a entrar
no pescoço e a sair nos calcanhares, nos deixou molhadas até aos ossos, mas foi
por uma boa causa.
Aproximava-se o Natal e a cidade com
enfeites alusivos ao mesmo, com cedros e pinheiros de montanha, fascinou-me.
Actualmente e com o grau de destruição que caiu sobre a mesma, a paisagem deve
ser muito diferente e alguns daqueles imponentes edifícios da zona moderna,
penso que foram em parte destruídos nos conflitos mais recentes, a avaliar
palas imagens televisivas que nos têm sido mostradas nos últimos anos.
Na permanência em Carachi, também fui, mas
sozinha, ao centro da cidade, tendo utilizado um riquechó, tipo lambreta com
capota de lona, onde o dono levava uma esteira. Era cerca do meio-dia e para
meu desespero, chegou a um local onde se encontravam vários veículos iguais,
mandou-me descer e apontou-me a zona para onde eu me deveria deslocar a pé.
Dito isto, puxa pela esteira e virou-se ao que julguei ser para Meca e com os
outros, ficou a fazer as suas orações.
Eu ficara num local onde se situavam os
Bancos e assim vestida à ocidental a cruzar-me com os naturais, as mulheres de
saris e lenços na cabeça, os homens de calças largas e de turbantes, fizeram-me
ter algum receio, até porque me veio ao pensamento a história da hospedeira
raptada e assassinada, anteriormente à nossa chegada.
Achei a cidade suja; uns vendedores
ambulantes nuns carros do tipo dos da venda de castanhas em Portugal,
comercializavam um caldo espécie de sopa, ao mesmo tempo que mascavam uma pasta
encarnada, que muitas vezes cuspiam para o chão, o que me enojou fortemente e
me fez retardar a saciação da fome, que começava a sentir. O trânsito era
caótico, com carros sempre a apitar no meio de veículos motorizados, onde
também passavam como meio de transporte, vacas e camelos. Uma verdadeira
babilónia, que gostei de apreciar, pela sua excentricidade.
A Nazaré aproveitou o dia para visitar uma
religiosa sua amiga, que se encontrava num convento no deserto, a uns
quilómetros de distância, tendo feito também só, o percurso num táxi que alugou
no aeroporto. Finda a visita, a religiosa com outras Irmãs, veio trazê-la na
sua viatura por receio e porque era preciso chamar da cidade, um novo
transporte.
Na
véspera à tarde ela e eu já tínhamos andado num táxi da marca Gogomobil, que
era pequeníssimo, conduzido por um homem, muito alto e com um mau aspecto, que
dizia saber onde ficava o convento, mas na realidade não sabia. Quando o vimos
sair da estrada e meter para um bairro da periferia quase sem luz, onde os
homens nas soleiras das portas e fumando os seus cachimbos, descansavam
acompanhados de alguns camelos, começamos a ter receio de prosseguir a viagem.
Estava prestes a anoitecer e o condutor por informação que outro lhe dera,
dizia-nos que esse convento ficava no meio do deserto. Pedimos-lhe então a
conta e apanhamos outro carro, que ali estava e regressámos ao aeroporto,
felizmente sem mais incidentes. Esta missão foi um misto de aventuras e
emoções, mas ainda não tinha terminado.
Descolámos então de Beirute, no dia vinte e
um de manhã, desejosos de chegar a Lisboa; nesse percurso apanhámos tanta
turbulência que julgávamos que o avião ia cair. Alguns passageiros começaram a
ficar assustados e o nosso médico, o Dr. Tender, quase que desmaiou. O susto
por que passámos foi tão grande, que resolvemos fazer o baptismo da menina,
“sob condição”, fórmula existente na Igreja Católica para situações de
urgência, como morte iminente, não invalidando um baptismo, a posteriori, por
um sacerdote. A menina a partir daquele momento foi por nós, considerada nossa
afilhada.
Após muitas horas de voo, aterrámos debaixo
de chuva intensa em Palma de Maiorca, conscientes do perigo que tínhamos corrido,
sabendo dos buracos feitos pelos estilhaços na fuselagem do avião na sequência
do bombardeamento do aeroporto de Goa. Na viagem um dos tripulantes de nome
Vinhas, com quem mais tarde viemos a contactar de perto e com quem voámos muitas
vezes, porque era um navegador da Força Aérea, mostrou-nos um estilhaço de uma
das bombas lançadas, que tinha apanhado antes de fugir.
Nessa noite pernoitámos na ilha, de onde saímos
no dia seguinte, vinte e dois, com um sol radioso, que nos permitiu desfrutar a
linda vista aérea e nos animou o espírito. Lisboa estava mais próxima e até já
sentíamos o cheiro do Natal.
No final desse dia, avistámos a nossa
capital e todos nos animámos; porém, ao sairmos do avião fiquei impressionada
com o mar de gente que aguardava a nossa chegada, na ânsia de saberem mais
notícias dos acontecimentos e de familiares que tinham sido feitos
prisioneiros. A televisão mostrou no noticiário essa chegada e a minha família
viu-me aparecer na saída e desfez as dúvidas com que tinha ficado na semana
anterior.
Quando em Portugal se soube da invasão dos
nossos territórios na Índia, a minha cunhada, tinha dito para o meu irmão: “A
tua irmã não voltou para Angola, foi de certeza para a Índia”. E tinha razão,
foi por um acaso que não fui lá parar, porque talvez não tivesse tido a sorte
de regressar.
Também em Angola, quando se soube do
sucedido e o que acontecera ao nosso avião, a Zulmira e Lurdinhas, foram nessa
tarde à igreja do Carmo mandar rezar uma missa pelas nossas almas, convencidas
que tínhamos morrido nessa ocasião. Contaram-nos depois que a Zulmira dizia
para a Lurdinhas, ”Como é que vai ser agora, que grande responsabilidade só
ficámos as duas e ainda por cima perdemos as nossas grandes amigas”,
respondendo a outra que haveriam de se arranjar; e choravam ambas copiosamente,
até que o Dr. Varela - que as acompanhara - lhes disse que ia procurar saber
mais notícias, para as tranquilizar; não era fácil, pois as notícias não
chegavam a Luanda tão rapidamente, só pela comunicação oficial, por meio dos
chamados “Rádios”.
Graças a Deus que cheguei a esta data para recordar todas as emoções
vividas nessa missão, tendo todas nós sido condecoradas, pelo então Ministro do
Ultramar, Professor Adriano Moreira, com o Grau de Cavaleiro de Benemerência.
No dia seguinte depois de cumpridas as formalidades militares, fui à Baixa
comprar um casaco por causa do frio, mas tinha dificuldade em caminhar a
direito, parecia embriagada por efeito de tantas horas de voo.
No dia vinte e quatro passei no barco para
o outro lado do Tejo e com a chuva a cair, vi partir a última camioneta que me
levaria para Setúbal. Não podia ali ficar parada mais tempo naquele lamaçal,
isto porque o cais de embarque de Cacilhas, era de terra batida. Felizmente
apareceu um conterrâneo que estava nas mesmas condições, alugámos um táxi e
dividimos a meias a despesa e cheguei a casa. Foi o melhor presente que tive:
bater à porta dizer que era eu e não, o Pai Natal, abraçar os meus irmãos e
festejar essa quadra com a minha família. Depois do Ano Novo, apanhei com a
Nazaré outro avião, de regresso a Luanda.
Esta missão estava cumprida e foram muitas
as que realizei ao longo de quase dez anos de vida militar, a maioria nos ex-territórios
ultramarinos, de Angola, Guiné e Moçambique, entre outros.
Passados meses sobre a nossa missão, em
Maio dá-se início ao repatriamento dos prisioneiros, tendo sido para eles uma
eternidade o período em que ficaram privados da liberdade. Foram então nomeadas
para essa nova missão, a Mª Zulmira, e a Mª Ivone que rumaram para Carachi.
Porém, foi à Ivone que coube o papel de ir ao campo de prisioneiros, como
hospedeira da companhia francesa da UAT e acompanhar, entre outros, o General
Vassalo e Silva no seu regresso.
Começava outro capítulo da Nossa História
Colonial. Tínhamos perdido os territórios do Estado da Índia, a nossa “Jóia do
Império”, que tantas tormentas tinham dado aos nossos valorosos navegadores. Confesso
que tive pena, nós ficámos mais pobres, sentimentalmente e culturalmente, foi
uma perda que a muitos de nós deixou marcas, mas todos sabemos, não ter sido
possível, pelas armas, virar os acontecimentos, a nosso favor.
“FOI O COMEÇO DO FIM, DA NOSSA EXPANSÃO
ULTRAMARINA, NO ORIENTE E EM ÁFRICA E DO FIM DO NOSSO IMPÉRIO COLONIAL”.
Todos os anos, quando chega o dezoito de
Dezembro, recordo e revivo esta missão sem nunca ter esquecido aquela criança,
que hoje tem quarenta e nove anos. Algumas vezes perguntei à Ivone por ela e
manifestei vontade, de a procurar. Por parte da Ivone tinha havido um contacto
entre ambas, mas posteriormente, perdera-se. Nesta data, através de felizes
acasos, a minha amiga e colega enfermeira pára-quedista Rosa Serra conseguiu o
seu contacto e deu-mo. Finalmente sabia do seu paradeiro. Pude por isso
falar-lhe, dar-lhe os parabéns, por mais este aniversário, saber que se chama
Ivone Cruz, que é casada, tem uma filha e um filho e vive no Caramulo. A sua
mãe já faleceu, mas o seu pai embora idoso, ainda vive.
Assim como eu sempre digo,” A VIDA É OS
DIAS QUE NOS LEMBRAMOS”.
Espero que Deus me permita por mais alguns,
lembrar-me desta data, que para muitos, foi dolorosa e lhe possa continuar a
dar os parabéns.
Maria Arminda Santos
Ex: Tenente Enf. Pára-Quedista
Créditos:
Aeroportos da Portela e de Goa - "Restos de colecção"
DC-6 - "Pássaro de Ferro"
(Com a devida vénia)
Créditos:
Aeroportos da Portela e de Goa - "Restos de colecção"
DC-6 - "Pássaro de Ferro"
(Com a devida vénia)
7 comentários:
Este texto tem que ter comentários.
Revi/revivi, em escrita, o Caso da Índia. Este texto não só é um texto de antologia, mas uma página brilhante das nossas Enfermeiras Paraquedistas que, apesar de militares, sempre foram "pau para toda a obra". Bem merecem o título de ANJOS.
Por outro lado é curioso que, dalgum tempo a esta parte, "vêm a lume" nomes e locais onde esses nomes prestaram o seu serviço militar.
Sem desprimor para os respectivos Ramos, quase sempre, cairam na Marinha ou ba Força Aérea, e, no caso do Exército, em especialidades não "mobilizaveis".
Que têm de estranho esses nomes, já que muitos militares não foram mobilizados, é que, na actualidade recente, eram/são os "democratas" que, tentando livrar o povo do facismo que existiu, foram por eles "abençoados e acarinhados".
Não conhecia este texto da nossa Camariga Maria Arminda, ilustre frequentadora da Tabanca do Centro, que em boa hora aqui é publicado.
O meu comentário vai apenas no sentido de lhe agradecer a lição que me acaba de dar, pois ao ler a sua narrativa fiquei a conhecer episódios dos quais não fazia a menor ideia.
Mais uma palavra para dar os parabéns a quem apelidou de ANJOS, as nossas enfermeiras paraquedistas. Que bem se lhes cola tal epíteto!
Com estima, amizade e consideração
Vasco A. R. da Gama
Minha querida amiga Maria Arminda
Permita-me que te, (o tratamento por tu é voluntário, ambos somos combatentes), trate assim tão familiarmente, ou tão “intimamente” como quisermos pensar.
O teu relato é um manancial de ternura, de dedicação, de história.
Nele se respira o ser Português!
Poderia escrever aqui, palavras e mais palavras, sentidas sem dúvida, mas que nada acrescentariam ao que te quero dizer com uma palavra tão simples: OBRIGADO!
Obrigado por seres quem és, obrigado por fazeres parte das nossas vidas, obrigado pela entrega da tua vida aos combatentes, obrigado por outra palavra, essa apenas e só portuguesa a que aqui nos conduzes: SAUDADE!
E depois, é um testemunho “carregado” de fé, carregado de confiança, carregado de esperança.
Que bela a referência ao Baptismo «in articulo mortis» daquela criança!
Não, não precisava de ser novamente baptizada, nem o podia ser, pois já o tinha sido! E o Baptismo só é celebrado uma única vez. Mas apenas que o Baptismo fosse confirmado formalmente pela “entidade” eclesiástica.
Fico-me por aqui, e dou graças a Deus, por me ter dado a conhecer gente como tu.
Um enorme abraço, ou melhor, um beijo de amigo sincero, admirado, orgulhoso desta amizade.
Joaquim Mexia Alves
Meu caro amigo José Marcelino Martins
Compreendo-te.
Mas aqui, neste blogue, nesta Tabanca do Centro não "cabem" palavras como "democratas entre aspas", nem fascismo, nem outros "ismos", sejam eles de que lado forem.
Sei que me compreendes.
Um abraço amigo do
Joaquim Mexia Alves
Passou recentemente na RTP2, há menos de um mês, em dois ou três episódios toda a história da invasão indiana. Por sinal um trabalho com muita qualidade.
Para a Mª Arminda o meu obrigado por esta história de vida contada na 1ª pessoa.
BS
Amigos, matam-me do coração com os vossos comentários. Já se passaram 52 anos e aquela viagem, vem sempre à minha lembrança, quando se fala da India, Carachi ou Líbano. Obrigado ao amigo Mexia Alves, por relembrar e corrigir a confirmação do Batismo, "in articulo mortis". Mais tarde foi confirmado e foi a Ivone a madrinha. O amigo Miguel Pessoa, fez-me esta partida. Olhe que o Carnaval ainda não está à porta. Agradeço o tratamento especial que aqui me dedica, como se não tivesse outros afazeres!.. Um abraço para todos. Mª Arminda
CARA MARIA ARMINDA,
FIQUEI SIDERADO COM A QUALIDADE DO TEXTO AQUI INSERTO PRENHE DE REFERÊNCIAS E RICAMENTE PORMENORIZADO,ONDE O TRABALHO DAS ENFERMEIRAS PÁRA-QUEDISTAS NOS DÁ UMA VERDADEIRA NOÇÃO DO QUE FOI ESSE ESFORÇO A QUE TANTAS MULHERES DERAM CORPO.
O MEU AGRADECIMENTO POR TUDO,PELO SEU TRABALHO DESENVOLVIDO COMO MULHER/MILITAR E POR ESTE QUALIFICADÍSSIMO ESCRITO QUE ME FOI DADO LER,
ABRAÇO
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