domingo, 14 de julho de 2013

P352: O PORQUÊ DO "CAMARIGO"



"CAMARIGO" 


Uma tentativa de explicação para a palavra “camarigo”.

Em primeiro lugar o óbvio!

Camarigo é a junção das palavras camarada com amigo!

Quando comecei a frequentar a Tabanca Grande, (já lá vão uns anos), comecei também a descobrir melhor uma relação com os ex-combatentes da Guiné, que não se restringia apenas àqueles com quem tinha estado, mas se alargava a todos os outros que lá estavam, não só na altura, mas também antes e depois.

O termo utilizado pelos militares para se tratarem uns aos outros é camarada, o que está certo sem dúvida, com vemos no dicionário.

Camarada: companheiro de quarto; colega; parceiro; condiscípulo; indivíduos do mesmo ofício; tratamento entre militares e entre filiados de certos partidos políticos…


Ora isto parecia-me pouco, para definir a relação que nos une como ex-combatentes, e até também porque verdadeiramente já não somos militares.

Mas fomos realmente companheiros de quarto, (ainda o somos quando os mesmos sonhos ou pesadelos nos envolvem à noite), e parceiros, e colegas e sei lá mais o quê.

Mas somos muito mais do que isso!

Somos sentimento e emoção e não é raro num reencontro, numa história contada ou lida, virem-nos as lágrimas aos olhos e apetecer-nos abraçar com força aquele que conta a história, para lhe dizer que sabemos bem o que foi, o que é, e muito provavelmente o que continuará a ser.

Ora isso vai muito para além da camaradagem, pois revela sentimentos de afectividade, de compreensão, de conhecimento, enfim numa palavra: de amizade.

Quando um de nós sofre, não sofre apenas um camarada, sofre também um amigo, por isso sofremos todos com ele, mesmo que não o conheçamos pessoalmente!

Quando um de nós se alegra, não se alegra apenas um camarada, alegra-se também um amigo, por isso nos alegramos todos com ele, mesmo que não o conheçamos pessoalmente!

Quando um de nós morre, não morre apenas um camarada, morre também um amigo, por isso morremos nós também um pouco, mesmo que não o conheçamos pessoalmente!

Lá longe, na Guiné, muitos de nós desabafaram com certeza aos ouvidos do outro, as alegrias e as tristezas de uma vida que se fazia longe de nós.

Um filho que nascia, uma mãe ou um pai que morria, um namoro que acabava, uma dúvida, uma incerteza, um desespero e uma alegria, enfim tudo aquilo que faz parte da vida e que tantas vezes ia parar ao ombro do que estava ao nosso lado, do que estava connosco.

E hoje isso ainda acontece, quando nos encontramos, ou quando nos procuramos num telefonema, ou numa visita oportuna.

Então era preciso para mim, procurar maneira de revelar com uma palavra aquilo que ia descobrindo, aquilo que ia tomando lugar no meu coração.

Porque o amigo também não chegava para definir essa relação:

Amigo: aquele que estima outra pessoa ou é por ela estimado; partidário; amásio; amante; afeiçoado…

E o óbvio apareceu diante de mim.

Somos camaradas, mas somos mais do que isso, somos amigos!

Somos assim camaradas e amigos, ou seja, somos CAMARIGOS!

 
É isso que eu sinto e é isso que sempre pretendo transmitir em cada encontro e em cada momento em que estamos juntos e não só.

Tenho um coração mole, (graças a Deus), a lágrima fácil, e os braços com uma “tendência compulsiva” para se abrirem, por isso arranjei a palavra que servisse para expressar os meus sentimentos em relação a todos vós.

Por isso gosto de vos tratar pelo nome próprio, para estar mais perto de vós e me sentir mais perto de vós!

Por isso também, aqui fica o meu forte, enorme e camarigo abraço para todos vós.


                                                                                          Joaquim Mexia Alves
Foto 1: combustoes.blogspot.com
Foto 2: Miguel Pessoa
(Com a devida vénia)

8 comentários:

admor disse...

Um grande abraço de solidariedade ao Camarigo Joaquim Mexia e a todos os outros Camarigos.

Adriano Moreira

manuel maia disse...

CAMARIGOS,


Nunca por nunca, a meu ver obviamente, uma palavra conseguiu reunir tanto "sumo" como esta que o Joaquim criou, fruto da junção de duas que todos conhecíamos mas que individualmente não conseguiam abarcar a parafernália de sentimentos que nos unem enquanto ex combatentes...

Todos nós temos amigos fora das fileiras da tropa, e todos temos consciência que somos diferentes...

Somos diferentes dos camaradas que como nós combateram em Angola ou Moçambique, que se limitam ao almoço anual de confraternização e por aí se quedam,somos diferentes na ligação que nos une...

Criamos as tabancas como centros difusores de amizade para além de locais de congregação de vivências...

E proliferam por esta país afora como a de Matosinhos(a primeira em termos fundacionais e à qual me sinto também ligado, até pela proximidade...)a dos Melros, em Melres -Gondomar- a da Linha ali paredes meias com Lisboa, e esta Tabanca do Centro que também considero minha,pese embora a distância a que me me encontro,e que para além de rampa de lançamento do meu segundo livro, "GUINÉ TERRA QUE APRENDEMOS A AMAR", foi também o seu motor de arranque como reconhecidamente agradeço...

Em boa hora o Joaquim Mexia Alves,o Vasco da Gama,o Manuel Reis,e o Juvenal Amado, aquando do regresso do convivio em Matosinhos na apresentação do meu primeiro livro " HISTÓRIA DE PORTUGAL EM SEXTILHAS", decidiram EDIFICAR esta Tabanca sita na Pensão Montanha, conforme o Joaquim teve oportunidade de nos informar em 22DE MAIO... Daí para cá com o exaustivo e qualificado trabalho do Miguel Pessoa, com o apoio de almirante,do Jero, e no fundo de tantos quantos sois "habituées", deu-se o surgimento da revista karas e a difusão para todo o mundo cibernauta desta realidade que é a solidariedade,a amizade, a ligação entre ex-combatentes guinéus.

Obrigado pois a todos e em especial ao "pai da expressão" por que é a propósito dela que falo.

Um abraço "camarigo" a todos.

mm

JOSE CASIMIRO CARVALHO disse...

Um dia...quiçá, a palavra conste no Dicionário Etimológico. Já tenho esclarecido muitos camarigos os porquê desta palavra com o a qual os premeio, e a origem da mesma. Um abraço ao Autor da mesmo...

Anónimo disse...

Boa noite Joaquim
Quem escreve assim é um grande ser humano.Obrigado Camarigo.Abraço cisterciense, JERO

Hélder Valério disse...

Caro 'camarigo' Joaquim

Embora tardiamente em relação à sua saída, aqui deixo o meu comentário.

Tudo muito bem explicadinho e de forma que todos podem entender. Com todo o sentimento.

Abraço
Hélder Sousa

Anónimo disse...

Camarigo Joaquim. Esta belíssima, união das palavras de (camarada+amigo), em tão boa hora, por si idealizada, é tudo isso que muito bem sente e descreve, neste seu texto. Fazem todos parte dum "Grupo muito especial", que se eterniza pelas vivências passadas e pelos encontros e escritos que vão acontecendo e que serão um legado para as atuais e futuras gerações. Um abraço da camariga. Mª Arminda

Henrique Cerqueira disse...

Caro Mexia Alves.
Permita-me que comente este assunto ou seja sobre o termo Camarigo.
Em tempos e no blogue do Luís Graça eu fiz um comentário sobre esta palavra e na realidade eu não estava de acordo com o termo porque achava eu no meu entender que era aplicada num sentido que a mim induzia "afastamento" do género :"chega para lá que mal te conheço " e então a palavra Camarigo soava-me sempre com esse sentido.
Bom , agora que o Mexia explica de forma tão clara e sincera eu sinto-me um pouco culpado pelo juízo que fazia a esse termo.Assim sendo resta-me me penitenciar e agradecer ao Mexia Alves a sua descrição sobre a palavra Camarigo. Normalmente participo no blogue do Luís Graça mas nunca deixo de dar uma leitura a este divertido blogue Tabanca Centro e ás vezes salivar um pouco com o vosso famoso cozido á Portuguesa.
Um abraço
Henrique Cerqueira

joaquim disse...

Caro Henrique Cerqueira

Obrigado pelo teu comentário.

Realmente o termo é dito exactamente com o sentido contrário, ou seja, de uma maior proximidade, que talvez o "simples" camarada não consiga expressar.

Quando quiseres vem comer connosco o cozido pois serás muito bem recebido.

É sempre na última Quarta feira de cada mês, excepto agora Julho e Agosto.

Um abraço
Joaquim Mexia Alves