UM PIROPO...
Na Guiné, como “piloto da caça”, no dia-a-dia o meu relacionamento com o pessoal da linha da frente dos Fiat G-91 era algo reduzido, limitando-se ao período imediatamente antes do voo e após este, o que não se prestava a um conhecimento profundo do pessoal que nos apoiava. Talvez o facto de ser um oficial do quadro habituado a alguma reserva no relacionamento hierárquico tenha contribuído também para esse distanciamento.
Por outro lado, o ambiente na Esquadra
dos AL-III era algo diferente, dada a coesão naturalmente desenvolvida entre a
tripulação – pilotos, mecânicos de bordo, atiradores do heli-canhão e as
enfermeiras paraquedistas, que complementavam a tripulação nas missões de
evacuação.
Embora com as limitações decorrentes
desse maior isolamento, os meus contactos no decorrer das missões foram
proporcionando um maior conhecimento do pessoal da linha da frente, o que
acabou por permitir uma maior aproximação aos mesmos fora das horas de serviço.
Lembro-me de, a convite de um deles, ter
assistido a várias sessões de ensaio de uma “banda de garagem” constituída por
mecânicos da FAP, e de em outras ocasiões ter participado em alguns convívios
por eles organizados.
Como ponto forte deste tempo relembro a
recepção que me foi feita à chegada à Base de Bissalanca, no regresso do
hospital, comemorando o excelente trabalho desenvolvido por todos na minha
recuperação na sequência do abate do meu avião.
Esse relacionamento mais informal que se foi desenvolvendo ao longo da minha comissão permitiu-me uma maior integração e aceitação no grupo, de tal modo que um dia recebi de um deles um piropo que terá constituído para o próprio a melhor apreciação que ele poderia fazer da minha pessoa: “O Senhor Capitão (*) é um tipo porreiro! Até parece miliciano!...”
Miguel Pessoa
(*) Embora em todas as minhas histórias da Guiné se fale sempre do Tenente Pessoa, a verdade é que os últimos oito meses da minha comissão os passei como Capitão, no período entre Novembro de 1973 e Agosto de 1974…
10 comentários:
E não é que ele tinha razão!!!
Parecias mesmo miliciano!!! eheheh
Tu, Miguel, apenas precisas de te pareceres como quem és, porque és um bom amigo, um bom militar, um bom Português, um homem verdadeiro, realmente ... "és um tipo porreiro!"
Grande a muito amigo abraço
Pois é, Miguel
Talvez, na altura, não tenhas entendido completamente porque:
- eras da F.A. ...
- talvez nunca tenhas tido que tratar com com um autêntico "chico" do Exército, porque os havia (e se não fosses do Q.P.).
Abraço
Alberto Branquinho
Não é por acaso que o Gang de Aveiro gosta de vos ter entre nós ( Tu e Giselda ). Sois de facto duas pessoas maravilhosas. Um Abraço e até breve.
Manuel Reis
Não tenha dúvidas Miguel, de que é "Um tipo porreiro" e a minha amiga Giselda também.
Amigos do peito e sempre prontos a ajudar.
A história de se parecer ou não como um miliciano, não sei bem.
Que os oficiais milicianos, também eram amigos porreiros, eram.
Saúde amigos, para irmos trocando estes piropos.
Um grande abraço.
Mª Arminda
Analisar “porreirismos” dentro de uma perspectiva da vida militar é objetivo passível de opiniões radicalmente divergentes.
Divergentes e subjectivas.
Nos extremos opostos desta escala de análise haverá os que por total falta de vocação (facto a não estranhar em alguns milicianos cumprindo um serviço militar obrigatório)tinham sérias dificuldades em compreender,e aceitar,que as muitas especificidades da vida militar exigiam algumas normas de base distintas dos relacionamentos civis.
No outro extremo surgiam alguns que,servindo-se dos regulamentos e hierarquia, procuravam “mascarar” profundas faltas de segurança pessoal, ou complexos de poder compensadores da mesma.
Num contexto muito distinto do da “carreira das armas” o meu Camarada Miguel Pessoa têm sido o meu único contato regular com Portugal.
Há já largos anos têm tido a amizade,camaradagem, e não menos paciência, de acompanhar todas as muitas voltas e reviravoltas da minha vida de “exigrado”.
Não é de algum modo estranho para mim que outros Camaradas,em momentos e situações díspares,o tenham também olhado como o…gajo porreiro…. que realmente é!
Um abraço do J.Belo
Já era um gajo porreiro mas agora é porreirissimo . Um abraço para o casal strelado
Ora bem...
Neste "rosário" de loas ao "porreirismo", ao "milicianismo" do nosso incontornável Amigo Miguel Pessoa, não posso acrescentar mais nada, na medida em que acho que tudo já foi dito e subscrevo.
Reforço, isso sim, a honra que sinto em o ter como Amigo (um bocadito "pica miolos", mas muitas vezes com razão) e sem qualquer complexo de hierarquias militares digo que "do Quadro" ou "Miliciano" o Miguel será (seria) sempre o mesmo.
Mas, já agora, e só para destoar um pouco, interrogo-me se as "reservas no relacionamento" e o "distanciamento", não seriam também, talvez, nem que fosse um pouquinho, motivados por algum conhecimento dos estragos que foram feitos em viaturas que o Miguel utilizou e que assim, "distantes" e "reservados", evitavam serem possíveis novas vítimas....
Enfim, isto sou eu a especular, apenas isso.
Hélder Sousa
Não podia deixar de responder....sr Capitão, é verdade para mim foi sempre Tenente Pessoa.
Todos os de "cá de baixo" têm uma dívida eterna de gratidão a todos os que nos sobrevoaram e aterraram , em condições difíceis naquelas matas.
A minha eterna gratidão...
José Carvalho
Piratas de Guileje
A
Vivendo hoje quase à distância de uma galáxia da minha anterior vida militar veio-me à memória uma frase muito usada no Exército de então:
-Cognac é cognac….serviço é serviço!
Creio estar nela englobada toda a problemática nuanceada pelas palavras “milicianismos,chiquismos,porreirismos” e não menos”distanciamentos reservados”.
Frase aparentemente muito simples mas, quando relacionada com tropas vivendo na mata,dentro do arame farpado,isolada,em condições sanitárias,alimentares,de infra estruturas logísticas inacreditáveis,constituía a fundamental diferença entre uma tropa combatente e um…..bando armado!
Um abraço do J.Belo
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