segunda-feira, 16 de agosto de 2021

P1306: UM MODELO DE COMPARAÇÃO

                                  UM PIROPO...

Na Guiné, como “piloto da caça”, no dia-a-dia o meu relacionamento com o pessoal da linha da frente dos Fiat G-91 era algo reduzido, limitando-se ao período imediatamente antes do voo e após este, o que não se prestava a um conhecimento profundo do pessoal que nos apoiava. Talvez o facto de ser um oficial do quadro habituado a alguma reserva no relacionamento hierárquico tenha contribuído também para esse distanciamento.

Por outro lado, o ambiente na Esquadra dos AL-III era algo diferente, dada a coesão naturalmente desenvolvida entre a tripulação – pilotos, mecânicos de bordo, atiradores do heli-canhão e as enfermeiras paraquedistas, que complementavam a tripulação nas missões de evacuação.

Embora com as limitações decorrentes desse maior isolamento, os meus contactos no decorrer das missões foram proporcionando um maior conhecimento do pessoal da linha da frente, o que acabou por permitir uma maior aproximação aos mesmos fora das horas de serviço.

Lembro-me de, a convite de um deles, ter assistido a várias sessões de ensaio de uma “banda de garagem” constituída por mecânicos da FAP, e de em outras ocasiões ter participado em alguns convívios por eles organizados.

Como ponto forte deste tempo relembro a recepção que me foi feita à chegada à Base de Bissalanca, no regresso do hospital, comemorando o excelente trabalho desenvolvido por todos na minha recuperação na sequência do abate do meu avião.

Esse relacionamento mais informal que se foi desenvolvendo ao longo da minha comissão permitiu-me uma maior integração e aceitação no grupo, de tal modo que um dia recebi de um deles um piropo que terá constituído para o próprio a melhor apreciação que ele poderia fazer da minha pessoa: “O Senhor Capitão (*) é um tipo porreiro! Até parece miliciano!...”

Miguel Pessoa

(*) Embora em todas as minhas histórias da Guiné se fale sempre do Tenente Pessoa, a verdade é que os últimos oito meses da minha comissão os passei como Capitão, no período entre Novembro de 1973 e Agosto de 1974…

10 comentários:

joaquim disse...

E não é que ele tinha razão!!!
Parecias mesmo miliciano!!! eheheh

Tu, Miguel, apenas precisas de te pareceres como quem és, porque és um bom amigo, um bom militar, um bom Português, um homem verdadeiro, realmente ... "és um tipo porreiro!"

Grande a muito amigo abraço

Alberto Branquinho disse...


Pois é, Miguel

Talvez, na altura, não tenhas entendido completamente porque:

- eras da F.A. ...
- talvez nunca tenhas tido que tratar com com um autêntico "chico" do Exército, porque os havia (e se não fosses do Q.P.).

Abraço
Alberto Branquinho

Manuel Reis disse...

Não é por acaso que o Gang de Aveiro gosta de vos ter entre nós ( Tu e Giselda ). Sois de facto duas pessoas maravilhosas. Um Abraço e até breve.

Manuel Reis

Anónimo disse...

Não tenha dúvidas Miguel, de que é "Um tipo porreiro" e a minha amiga Giselda também.
Amigos do peito e sempre prontos a ajudar.
A história de se parecer ou não como um miliciano, não sei bem.
Que os oficiais milicianos, também eram amigos porreiros, eram.
Saúde amigos, para irmos trocando estes piropos.
Um grande abraço.
Mª Arminda

JB disse...

Analisar “porreirismos” dentro de uma perspectiva da vida militar é objetivo passível de opiniões radicalmente divergentes.
Divergentes e subjectivas.
Nos extremos opostos desta escala de análise haverá os que por total falta de vocação (facto a não estranhar em alguns milicianos cumprindo um serviço militar obrigatório)tinham sérias dificuldades em compreender,e aceitar,que as muitas especificidades da vida militar exigiam algumas normas de base distintas dos relacionamentos civis.
No outro extremo surgiam alguns que,servindo-se dos regulamentos e hierarquia, procuravam “mascarar” profundas faltas de segurança pessoal, ou complexos de poder compensadores da mesma.

Num contexto muito distinto do da “carreira das armas” o meu Camarada Miguel Pessoa têm sido o meu único contato regular com Portugal.
Há já largos anos têm tido a amizade,camaradagem, e não menos paciência, de acompanhar todas as muitas voltas e reviravoltas da minha vida de “exigrado”.
Não é de algum modo estranho para mim que outros Camaradas,em momentos e situações díspares,o tenham também olhado como o…gajo porreiro…. que realmente é!

Um abraço do J.Belo

Juvenal Amado disse...

Já era um gajo porreiro mas agora é porreirissimo . Um abraço para o casal strelado

Hélder Valério disse...

Ora bem...
Neste "rosário" de loas ao "porreirismo", ao "milicianismo" do nosso incontornável Amigo Miguel Pessoa, não posso acrescentar mais nada, na medida em que acho que tudo já foi dito e subscrevo.
Reforço, isso sim, a honra que sinto em o ter como Amigo (um bocadito "pica miolos", mas muitas vezes com razão) e sem qualquer complexo de hierarquias militares digo que "do Quadro" ou "Miliciano" o Miguel será (seria) sempre o mesmo.

Mas, já agora, e só para destoar um pouco, interrogo-me se as "reservas no relacionamento" e o "distanciamento", não seriam também, talvez, nem que fosse um pouquinho, motivados por algum conhecimento dos estragos que foram feitos em viaturas que o Miguel utilizou e que assim, "distantes" e "reservados", evitavam serem possíveis novas vítimas....

Enfim, isto sou eu a especular, apenas isso.

Hélder Sousa

JOSE CASIMIRO CARVALHO disse...

Não podia deixar de responder....sr Capitão, é verdade para mim foi sempre Tenente Pessoa.
Todos os de "cá de baixo" têm uma dívida eterna de gratidão a todos os que nos sobrevoaram e aterraram , em condições difíceis naquelas matas.
A minha eterna gratidão...
José Carvalho
Piratas de Guileje

JB disse...

A

JB disse...

Vivendo hoje quase à distância de uma galáxia da minha anterior vida militar veio-me à memória uma frase muito usada no Exército de então:

-Cognac é cognac….serviço é serviço!

Creio estar nela englobada toda a problemática nuanceada pelas palavras “milicianismos,chiquismos,porreirismos” e não menos”distanciamentos reservados”.

Frase aparentemente muito simples mas, quando relacionada com tropas vivendo na mata,dentro do arame farpado,isolada,em condições sanitárias,alimentares,de infra estruturas logísticas inacreditáveis,constituía a fundamental diferença entre uma tropa combatente e um…..bando armado!

Um abraço do J.Belo