PÔR-DO SOL EM MATO CÃO
Lá longe,
na direcção do Atlântico,
na direcção da foz do Geba,
põe-se o Sol da Guiné.
A terra já vermelha de si própria,
torna-se agora cor de sangue vivo
e pinta toda a paisagem.
O momento é mágico!
Há uma quietude,
uma paz, uma serenidade,
neste momento.
Parece que a natureza ajoelha
e presta vassalagem
ao astro rei.
Neste momento cessa a guerra,
não há explosões,
nem tiros,
nem gritos,
e as bênçãos do calor do sol
afastam as maldições.
Lá no fundo da descida,
do planalto do Mato Cão,
ouve-se o Geba murmurar,
pintado da cor do Céu,
correndo lentamente,
atirando-se para o mar,
abrindo já os seus braços
à espera do macaréu.
A noite chega enfim,
envolta num calor espesso,
tingida de um escuro breu.
A natureza deita-se,
num lento e doce torpor.
Tudo se aquieta,
tudo se acalma,
excepto o coração,
que quer ver mais longe,
mais para dentro da mata,
para saber se descansa,
ou tem de ficar alerta.
Calam-se as vozes em surdina,
apagam-se as poucas fogueiras,
é hora do corpo repousar,
envolvido pela noite,
enquanto a memória avança,
num frenesim sem “parança”
lembrando o que está longe,
mais longe que a vista alcança.
O sono vence a lembrança,
fecham-se os olhos cansados.
Amanhã é outro dia,
em que o Sol regressará,
e com ele a doce esperança,
de faltar menos um dia,
para sair da Guiné,
deixando tudo p’ra trás
menos o pôr-do-sol,
que torna a terra vermelha,
pintada da cor do sangue,
que a memória sempre traz.
Monte Real, 2 de Março de 2010
Joaquim Mexia Alves
4 comentários:
Uma bela moldura cerca o teu poema Joaquim a vida é mesmo assim , ama-se cada momento.
Abraço
ESpectaculat. Gostei. Um abraço.
Meu bom amigo Joaquim
É só para te dizer que gostei muito do poema.
Feito com "alma", com sentimento, com bom sentido de observação.
Sem mágoas, nem lamentos, apenas o olhar das circunstâncias.
Devo dizer que para além dos vermelhos da terra e do que retiveste nos pôr-do-sol, me lembro melhor dos lilás e outros tons de roxo nesses momentos. Talvez por olhar um pouco depois de ti...
Um abraço.
Hélder Sousa
Gostei e recordo também os vários tons do pôr do sol que não se esquece.
Vê-lo no interior do território, é bem diferente que observá-lo da cidade.
Visto com o sentimento e pelo o olhar de um poeta eis o resultado.
Lindo Poema.
Um abraço amigo.
M Arminda
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