segunda-feira, 12 de julho de 2021

P1301: MOMENTOS MÁGICOS

                          PÔR-DO SOL EM MATO CÃO

 

Lá longe,

na direcção do Atlântico,

na direcção da foz do Geba,

põe-se o Sol da Guiné.

 

A terra já vermelha de si própria,

torna-se agora cor de sangue vivo

e pinta toda a paisagem.

 

O momento é mágico!

 

Há uma quietude,

uma paz, uma serenidade,

neste momento.

 

Parece que a natureza ajoelha

e presta vassalagem

ao astro rei.

 

Neste momento cessa a guerra,

não há explosões,

nem tiros,

nem gritos,

e as bênçãos do calor do sol

afastam as maldições.

 

Lá no fundo da descida,

do planalto do Mato Cão,

ouve-se o Geba murmurar,

pintado da cor do Céu,

correndo lentamente,

atirando-se para o mar,

abrindo já os seus braços

à espera do macaréu.

 

A noite chega enfim,

envolta num calor espesso,

tingida de um escuro breu.

 

A natureza deita-se,

num lento e doce torpor.

Tudo se aquieta,

tudo se acalma,

excepto o coração,

que quer ver mais longe,

mais para dentro da mata,

para saber se descansa,

ou tem de ficar alerta.

 

Calam-se as vozes em surdina,

apagam-se as poucas fogueiras,

é hora do corpo repousar,

envolvido pela noite,

enquanto a memória avança,

num frenesim sem “parança”

lembrando o que está longe,

mais longe que a vista alcança.

 

O sono vence a lembrança,

fecham-se os olhos cansados.

 

Amanhã é outro dia,

em que o Sol regressará,

e com ele a doce esperança,

de faltar menos um dia,

para sair da Guiné,

deixando tudo p’ra trás

menos o pôr-do-sol,

que torna a terra vermelha,

pintada da cor do sangue,

que a memória sempre traz.

Monte Real, 2 de Março de 2010

Joaquim Mexia Alves

4 comentários:

Juvenal Amado disse...

Uma bela moldura cerca o teu poema Joaquim a vida é mesmo assim , ama-se cada momento.
Abraço

Carlos Pinheiro disse...

ESpectaculat. Gostei. Um abraço.

Hélder Valério disse...

Meu bom amigo Joaquim

É só para te dizer que gostei muito do poema.
Feito com "alma", com sentimento, com bom sentido de observação.
Sem mágoas, nem lamentos, apenas o olhar das circunstâncias.

Devo dizer que para além dos vermelhos da terra e do que retiveste nos pôr-do-sol, me lembro melhor dos lilás e outros tons de roxo nesses momentos. Talvez por olhar um pouco depois de ti...
Um abraço.

Hélder Sousa

Anónimo disse...


Gostei e recordo também os vários tons do pôr do sol que não se esquece.
Vê-lo no interior do território, é bem diferente que observá-lo da cidade.
Visto com o sentimento e pelo o olhar de um poeta eis o resultado.
Lindo Poema.
Um abraço amigo.
M Arminda