quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

P1273: PRAGMATISMO SUECO...

Avançamos com a reprodução de um texto publicado há uns tempos no blogue “Luís Graça & Camaradas da Guiné”, da autoria do nosso camarigo José Belo, um luso-lapão exigrado* há muitos anos na Suécia, de onde periodicamente nos envia notícias.

Embora tendo merecido alguns comentários negativos sobre as medidas avançadas pelas autoridades suecas, não queremos deixar de vos pôr em contacto com esta realidade de uma sociedade que privilegia os aspectos económicos, técnicos e ambientais com um pragmatismo que muitos de nós, neste cantinho, poderão não compreender e  aceitar.

CREMAÇÃO E AQUECIMENTO CENTRAL

Já decorreu mais de uma década sobre o início do processo e, curioso, procurei saber como teria decorrido este projeto. 
Ingenuamente considerei que o mesmo tivesse sido abandonado devido a “explosão” de abaixo assinados opondo-se ao mesmo.

A economia, a técnica, os pragmatismos políticos, demonstram mais uma vez serem mais fortes que outros valores secundários...

Solução económica utilizada por algumas Comunas (nome dado às Câmaras Municipais) na sua busca de diminuir os elevados custos do aquecimento central, gratuito para o cidadão mas, tendo em conta os prolongados invernos com temperaturas bem negativas, extremamente onerosos para o Estado.

A Comuna da cidade de Halmstad, entre outras, apresentou como solução económica o aproveitamento das elevadas temperaturas produzidas aquando do uso dos crematórios.

Esta energia é enviada diretamente para as redes centrais do aquecimento das cidades que, deste modo, economizam avultadas somas tendo em conta ser a cremação a forma de funeral mais utilizado na Escandinávia.

O cidadão, confortavelmente instalado no seu sofá frente a uma TV, com temperatura caseira (gratuita) de 22 graus centígrados, deveria ser levado a meditar que tal bem-estar mais não é que o resultante da cremação da avó, pai, irmão, filho ou neto, amigo ou conhecido.

Mais do que macabro na sua simplicidade económica-funcional será o facto de seres humanos serem  mais ou menos usados como “lenha “ complementar...

Como seria de esperar, tanto os especialistas técnicos das redes de aquecimento como os responsáveis pela cremação garantem que a energia reenviada desde os crematórios para a rede central mais não é que o calor resultante das altas temperaturas necessárias sendo a “comparticipação” dos corpos queimados não percentualmente representativa.

E, muito modernamente, acabam os esclarecimentos com a indispensável referência a quanto de positivo é para o meio ambiente o aproveitamento total deste tipo de energia, diminuindo a necessidade de utilização de complementares poluentes .

Economicamente recomendável!

Tecnicamente recomendável!

Ambientalmente recomendável!

Será exagero sentir um certo “desconforto moral” quanto ao tipo de lenha secundária usada?

José Belo

* Para quem tiver dúvidas sobre o termo “exigrado”, consulte a Centropédia na coluna da direita deste blogue, no referente a “Lapão (ou Luso-Lapão)”.

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