DIFERENÇAS
CULTURAIS
Aproveitando o repescar da memória
relativamente ao tempo do estágio em Tancos, relembro agora um outro episódio
passado, desta vez em Tomar.
Como, entretanto, consegui encontrar uma
foto tirada nesse tempo, e que se junta, podemos ver nela os futuros Furriéis
Milicianos Fernando Marques e Hélder Sousa, em baixo, da esquerda para a
direita e, em cima, pela mesma ordem, Manuel Martinho e Mário Miguel, todos
referidos na história anterior.
Para o caso, em mais um fim de tarde,
mais uma saída (algumas vezes também ficámos no “Perímetro”, na E.P.E., salvo
erro para ver algum filme que passava lá no cinema ou para outra coisa
qualquer) e desta vez o destino foi Tomar.
Um dia em que o tempo estava incerto, de
vez em quando chovia.
Lá seguimos para a linda cidade do Nabão
(onde havia também um Colégio famoso na época, salvo erro o “Nuno Álvares”,
onde pontuavam, dizia-se, alguns “filhos-família” que se tinham “baldado” em
outros locais de ensino).
Na procura de local de estacionamento para o já
referido “Morris” circulámos pelo interior histórico da cidade e, em certa
altura, numa daquelas ruas estreitas, há uma passadeira para peões e em jeito
de “passa-não-passa” estava uma jovem, bem bonita por sinal, com o seu
guarda-chuva fechado na mão (já não estava a chover na ocasião).
Eu e o Martinho íamos atrás no carro, o
condutor – o Marques – levava a seu lado o Miguel. Este camarada era um
jovem bem apessoado de Barcelos, com pinta de actor de cinema, com pinta de
membro de conjunto musical (à época a maior parte dos meus colegas de Curso TSF
eram, ou tinham sido, membros de vários desses conjuntos que corporizaram os
então famosos “concursos yé-yé” no Cinema Monumental, em Lisboa), com linguagem
e sotaque tipicamente nortenhos, com conceitos muitos próprios. Ora o Marques
resolve incitar o Miguel a “dizer um piropo à menina”…
Então, o Miguel, solícito e diligente,
puxa o melhor de si, abre o vidro e diz: “Ó Guidâinha, vai meia de leite”? Para
o Miguel, “todas” as miúdas eram “Margaridas”, “Guidinhas” em forma mais
ternurenta, e a “meia de leite” pretendia ser uma forma simpática de referir a oferta
de um lanche.
Não sei o que foi que a rapariga
entendeu, a verdade é que parece não ter gostado e vá de dizer “seu ordinário!”
ao mesmo tempo que batia com o guarda-chuva no tejadilho do carro!
Uma paragem e o eventual “sururu”
poderiam fazer atrair gente - éramos, afinal, “militares à paisana”, e ao tempo
Tomar era o QG da Região Militar do Centro. Não tivemos por isso oportunidade
de esclarecer o que foi uma natural “diferença cultural”, coisa que hoje por
hoje, com toda esta universalidade e conhecimentos mútuos, seria pouco provável
acontecer.
O velho conceito de “em Roma, sê romano”
deveria ter sido aqui aplicado, mas acho que nunca passou pela cabeça do Miguel
que houvesse incompreensão quanto à sua generosa sugestão de oferta. Mas, já
sabem, devem ter sempre em conta as “diferenças culturais”. Mesmo entre
naturais de Portugal!
Hélder Sousa
Fur. Mil.
Transmissões TSF
3 comentários:
Boa noite gente boa
Que prazer encontrar o nossos Hélder Sousa no papel de narrador!
Muito bem escrito e excelente conclusão em relação "às diferenças culturais" que, mau grado o tempo decorrido, era capaz de jurar que ainda se mantém com algumas variantes.
Bons velhos tempos.
Votos de boa saúde e boas férias, já que é tempo delas.
Abraço cisterciense.
JERO
Olá amigos, olá Jero
Pois, esta cena é sempre recordada (faço questão disso) aquando dos encontros dos "Ilustres TSF", como costumamos chamar ao nosso grupo de 15 jovens que fizeram o 2º Ciclo do CSM em 1969 no BT.
Falamos disto em tom de graça mas é bem verdade que este tipo de situações, de equívocos, ainda hoje podem acontecer, de persistir.
Abraços
Hélder Sousa
Olá amigo Hélder, é um gosto ler também as suas narrações, ou as aventuras desse seu grupo de jovens “ mgníficos”.
A juventude tem destas coisas e que lhe faz bem recordá-las e dar-nos a conhecer.
Se a cena fosse hoje, possivelmente o desfecho seria muito pior.
Um abraço, boa saúde e uns banhinhos no mar, que já vai apetecendo.
M Arminda
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