Nesta quinta-feira 30 de Maio
comemorou-se o dia da Espiga, uma
celebração portuguesa que ocorre
no dia da Quinta-feira da Ascensão. Num passeio
matinal as pessoas colhem espigas de vários cereais, flores campestres e
raminhos de oliveira para formar um ramo, a que se chama de espiga.
A espiga deverá
ser colocada por detrás da porta da entrada de casa, para
trazer saúde, sorte, alegria, abundância e para que nunca falte pão em casa.
O ramo só deve ser substituído por um novo no dia da espiga do ano
seguinte.
É sobre
as memórias dos velhos tempos da apanha da espiga que o nosso camarigo JERO se
debruça hoje.
APANHAR A ESPIGA
Dos meus 4 anos de vida militar não me
lembro de ter apanhado a espiga. Estafas apanhei com fartura, nomeadamente
durante a minha passagem pela EPC, de Santarém, durante a minha recruta no
Verão de 1962.
Mas as “espigas” da minha vida civil
lembro-me muito bem e resolvi partilhar essas memórias que serão respeitantes
ao ano de 1955.
Tenho bem presente os piqueniques em
Chiqueda, em dia de Espiga.
Já andava no Colégio do Dr.Cabrita e recordo com
nitidez – reforçada por algumas fotografias do tempo – os belos fins de tarde
que davam direito a excelentes merendas na pedrosa encosta perto dos “Olhos de
Água” do rio Alcoa, no sopé da Serra dos Candeeiros.
Havia muitas famílias de Alcobaça e uma
figura “única”: o “Ti Gavião”, fotógrafo “à la minuta”.
A apanha da espiga era feita a caminho de Chiqueda e fazia-se um
ramo de papoilas, espigas de trigo, oliveira e um malmequer. Juntavam-se vários grupos que iam a pé levando um
farnel para comerem quando chegassem.
Chiqueda era assim o local do grande encontro.
O ramo era
guardado e uma vez chegados a casa punha-se a secar atrás da porta, sendo
renovado todos os anos para que não faltasse pão (espigas de trigo), azeite
(oliveira), alegria (papoilas), e sorte (malmequer).
Faz tempo.
JERO
3 comentários:
Lembra o Jero e lembra muito bem!
Calculo que, como em muitas outras situações, a Igreja tenha incorporado nas suas festividades "rituais" ou manifestações das culturas dos povos que foram sendo assimilados ao Cristianismo.
De facto, em termos do calendário religioso a data relembra e comemora a Ascenção de Jesus Cristo. Em simultâneo há essa tradição do "dia da espiga", presumo que para "ligar" essa festividade religiosa que nos transmite a esperança no regresso do Salvador, com abundância de bênçãos e de alegrias, triunfando sobre o mal e as tristezas, também consubstanciadas nas coisas que o Jero refere: a esperança (e o desejo) de que haja pão em abundância, azeite, alegria e sorte.
Seja como for e o que for, a verdade é que também me recordo dos tempos de infância e juventude em que se ia (em Vila Franca) até junto da Capela do Senhor da Boa Morte, por cima de Povos (mais ou menos sobranceira onde hoje há o novo Hospital) e por lá, com romarias e outras festividades pagãs se comemorava o dia.
E, como diz o Jero.... faz tempo! Olá se faz!
Abraços
Hélder Sousa
Não me importa que queiras ir comigo
Ao campo, quinta feira da Ascensão
Mas deves ter cuidado com o trigo
Porque quem estraga o trigo, estraga o pão
Como sabes eu amo outra mulher
Ires comigo, será talvez um perigo
Vou convidá-la a ir, se não quizer
Não me importa que queiras ir comigo
E ninguém poderá desconfiar
Logo que ela me diga, não vou não
É meu costume ir sempre passear
Ao campo, quinta feira da Ascensão
Sou bom rapaz, és boa rapariga
Toma atenção naquilo que te digo
No campo apanharás depois a espiga
Mas deves ter cuidado com o trigo
Não tentes ir p'ro meio da seara
E faz o que te digo, ou senão
A paródia talvez te saia cara
Porque quem estraga o trigo, estraga o pão.
Um "velho" fado de Lisboa.
Abraços
Joaquim
Também era meu costume com as minhas irmãs e outras amigas, sairmos cedo na quinta feira da Ascensão para a apanhar a espiga.
Nos locais de outrora, antigas quintas e que são hoje urbanizações, terminaram essas romarias. Nem sei se a garotada actual vai ou sabe o significado religioso e o profano desta celebração. Para mim, esse dia era uma festa.
Para ter um ramo de espiga hoje, comprei-o por três euros a uma vendedeira e por intermédio de uma amiga que me arranjou o último que havia no mercado.. Outros tempos...
Um abraço.
M Arminda
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