quinta-feira, 26 de maio de 2016

P795: HISTÓRIAS CURTAS DAS TERMAS DE MONTE REAL - 1

Iniciamos hoje a publicação de um conjunto de pequenas histórias curtas escritas já há alguns anos pelo nosso camarigo Joaquim Mexia Alves, em que ele relembra pequenos episódios do dia-a-dia do Monte Real Palace Hotel e das Termas a ele associadas, experiências que naturalmente lhe ficaram bem presentes nas suas memórias de infância e juventude.

O MENINO RODRIGUINHO

Há alguns anos, na década de 60, havia uma família (entre muitas) que todos os anos frequentava as Termas e se alojava no Hotel.

Era constituída pela mãe, uma filha mais velha, talvez da minha idade, e pelo Rodriguinho (nome fictício, história verdadeira), que andaria pelos seus 10 ou 12 anos.

As histórias do Rodriguinho são imensas, mas hoje começo por recordar a que todos os anos tinha lugar no exacto dia e momento da chegada da família ao Hotel.

Era sempre no mês de Agosto, por volta da hora do almoço, altura em que o terraço de entrada do Hotel estava cheio de hóspedes à espera da entrada para o restaurante.

A família chegava, saía do seu carro, e o Rodriguinho no meio do terraço com um ar sorridente e desafiante, dizia em alta voz para todos ouvirem:
- “Acabou o sossego! Cheguei eu!”

Mas, entrando nas histórias do Rodriguinho:

Todos os anos vinha para o Hotel, onde passava pelo menos três meses (se bem me lembro), um distinto Senhor Doutor, oriundo dos Açores mas vivendo no Continente, pessoa de trato fácil, muito educado, afável e bonacheirão (no sentido positivo do termo), de quem toda a gente gostava e apreciava a companhia.

Para além de outras, tinha a particularidade de ter sempre no bolso do lado direito dos seus casacos, rebuçados, o que toda a gente sabia, especialmente as crianças que estavam no Hotel com as suas famílias.

Era hábito, pela hora do almoço ou ao fim da tarde, sentar-se nuns cadeirões que havia em frente da recepção, de perna traçada, observando e cumprimentado o corrupio de gente que naqueles meses de Verão ia passando no hall do Hotel.

Ora numa dessas tardes em que calmamente estava sentado de perna traçada, o Rodriguinho andava a correr pelo hall do Hotel incomodando obviamente as pessoas e fazendo pior, ou seja, sempre que passava pelo Senhor Doutor, dava-lhe um pontapé no pé da perna traçada.

Aquilo já estava a incomodar muita gente, mas o distinto Senhor fazia gestos no sentido de não se incomodarem com isso.

A certa altura em que o Rodriguinho mais uma vez ia a passar, o Senhor Doutor, colocando “ostensivamente” a mão no bolso direito do casaco, chamou-o.

E aí vem o Rodriguinho todo contente à espera do rebuçado.

Só que quando chegou ao pé do Senhor Doutor, estendendo a mão para o rebuçado, levou foi uma estalada na cara, e ouviu-o dizer:
- “E agora vai lá fazer queixa à tua mãe!”


Joaquim Mexia Alves

2 comentários:

Unknown disse...

Gostei da historia e como esta muitos de nós tambem as temos. Só que por vezes não as sabemos desenvolver ou não temos pachorra para isso. Um abraço e continue para nos irmos relembrando dos nossos tempos passados. Só mais uma pergunta, ainda não descobri nesta pagina como por gosto.

Anónimo disse...

Boa noite Camarigos
Um final inesperado mas bem "merecido"...
Estou convencido que o Rodriguinho não mais esqueceu a cena. Uma "estalada" na hora certa é um "remédio" prá vida !
Grande abraço pró Joaquim e venham mais histórias das Termas.
JERO