A FAINA
fruindo de bom tempo
na esplanada,
uns versos me lembrei
de alinhavar...
p´ra vós
"camarigagem", gente boa
que à volta da revista
do Pessoa
escreve com prazer de
assinalar...
Cria, ilustra, edita e
gere
revista de grande
impacto
um Pessoa que prefere
não valorizar o
facto...
veleiro cruza o mar mesmo
defronte
à praia "Las Galletas"
que é a minha...
Gaivotas acompanham o
regresso
dos barcos
"ganha-pão" que com sucesso
se encheram lá na
faina da sardinha...
Na lota, algo ansioso,
aguarda o povo
para aceder ao peixe,
que de novo,
mercê da quantidade é
mais barato...
Cirandam gatos catando
festim
que as tripas, as
espinhas, peixe ruim,
amigos pescadores lhes
dão por trato...
nos rostos desses
homens tão cansados,
já madrugada cedo no
labor...
A rede vinha cheia de
pescado
e o barco dessa forma
carregado
mostrava a rija
fibra/pescador...
Eis quando a
"calima"*, de repente
se fecha assim num
sopro, estranhamente,
soando está
"sarronca"** em tom aflito...
Há barcos ´inda fora
por entrar
no porto salvador
daquele mar
a angústia é
transformada em alto grito...
que é dele o mando
sempre, a todo o instante,
no reino d´água calma
ou bem revolta...
Mostrou-se, desta vez,
compadecido,
c´os gritos deste povo
em alarido
em preces, porto
inteiro, ali à volta...
E entrado foi o barco
derradeiro
no porto salvador, como
o primeiro,
sardinha prata/viva,
em profusão...
O povo e pescadores
que horrores padecem
prostrados, de
joelhos, agradecem
à Santa Candelária em
gratidão...
pagando assim
promessas feitas preces
que a Santa Candelária
ouvira as gentes...
Poseidon, Virgem Negra
ou Neptuno,
acharam ser momento
oportuno
p’ra deixar os
canários tão contentes...
E aos primeiros
alvores da manhã
aqui respiro a aragem
fresca e sã
que a maresia impregna
bem no ar...
Sentado na varanda vou
olhando
os barcos, um a um,
que vão zarpando
saindo p´ra um mar chão,
a navegar...
um, dois, dez, quinze,
vinte, trinta e sete...
e de repente o mar se
enche de gente...
No estender da rede, o
coração
augura a fartura desse
pão
a cada dia em luta
persistente...
Manuel Maia
* Calima --- é o nome que os canários dão à tempestade de areia vinda do Sahara e que por vezes atinge a ilha.
** Sarronca --- é o sinal sonoro dado à navegação
aquando do calima ou nevoeiro.
4 comentários:
Parabéns, Manuel Maia, pela qualidade destas tuas sextilhas!
Sabe muito bem ler qualidade.
Um Camarigo abraço do,
Vasco A.R. da Gama
O nosso vate Manuel Maia nunca deixa os seus créditos por mãos alheias.
Sê bem regressado Manel!
Grande abraço
Joaquim
Que saudades tínhamos de ti e da tua poesia.
Sê muito bem vindo.
Abraço com particular estima e muita amizade.
JERO
Obrigada pela bela poesia, Manuel Maia.
Um abraço.
Mª Arminda
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