segunda-feira, 9 de novembro de 2015

P719: SENSAÇÕES POR MUITOS JÁ EXPERIMENTADAS...

P’rá vala, p’rá vala!


“P’rá, vala, p’rá vala!”

O grito fere-me os ouvidos,
arrefece-me o sangue,
faz-me tremer o coração,
mas impulsiona-me como uma mola,
e num salto deixo a cama.

Mergulho na escuridão,
ouço passos a correr,
mais do que gente a gritar
sinto o meu coração a bater.

Mergulho numa coisa estreita,
como se de uma cova de cemitério se tratasse,
e ouço de imediato uma voz,
“porra que me pisaste!”

Os rebentamentos sucessivos,
parecem explodir em cada coração,
e ouvem-se apreciações em voz alta:
“esta foi perto!”
ouviu-se aqui a rebentar,
e logo uma outra voz
onde o humor vence o medo:
“não há problema,
                                                                         os gajos não conseguem acertar!”

O cheiro acre da pólvora
toma conta de tudo e todos,
e há vozes que se cruzam,
com os projécteis no ar:
“calma, pessoal, calma,
isto está quase a acabar!”

A camisa encharcada em suor,
o pó agarrado à cara,
ou está muito calor,
ou o suor é do medo!

Ouço uma voz que me chama,
aos gritos,
por cima do barulho infernal:
“meu Alferes, porra,
meu Alferes!”

Volto-me para ver quem é,
e…
caio da minha cama!


Joaquim Mexia Alves

2 comentários:

Juvenal Amado disse...

Mexia

Foi assim muitas vezes.
Quando o coração subiu há boca
Quando o medo se misturou com o cheiros.
No fim foi urgente saber que estavam todos bem e felizmente, foi assim na maioria das vezes.
Só quem lá esteve sabe que foi assim

Um abraço

Anónimo disse...

Um lindo poema que nos toca a todos.

Um Camarigo abraço ao nosso Amado Chefe

Vasco A.R. da Gama