quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

P599: JERO - CRÓNICAS DOS TRIBUNAIS / 3

 PERGUNTAS SOBRE “VIDA FÁCIL”…
COM RESPOSTA DIFÍCIL…

Em 1948 falou-se no Mundo sobre o “paralelo 38”, que se tornou a fronteira entre os países então criados: Coreia do Norte e Coreia do Sul.

A milhares de quilómetros dessa fronteira nunca os coreanos terão sabido nem suspeitado que a cerca de 12 kms de Alcobaça, bem perto da Nazaré, “nasceu” uma casa de prostituição que localmente ficou conhecida, enquanto durou, por “paralelo 38”.

Os frequentadores faziam-no com a discrição possível por motivos óbvios mas no decorrer dos anos 50 um trágico acidente ocorrido já de madrugada, numa das estradas que “desciam” do Sítio da Nazaré, provocou algumas vítimas mortais.

Vim a conhecer o processo no arquivo do Tribunal de Alcobaça durante o tempo em que fui “estagiário” em 1958. Recordo-me com emoção de ter visto nos “anexos” do processo duas “cadernetas sanitárias” das vítimas, que morreram por o carro em que seguiam ter capotado e depois se ter incendiado. As cadernetas estavam chamuscadas, mas era possível confirmar a identificação completa das jovens.


A história que se segue foi-me contada quando o julgamento já tinha ocorrido há alguns meses e não recordo do nome do magistrado que terá protagonizado a cena que passo a descrever.

Uma das testemunhas chamada a tribunal para depor sobre o acidente era uma das “meninas” do ”paralelo 38”.

No ato da identificação, já na presença do Juiz, respondeu sem hesitação aos dados sobre o seu nome e estado. Quando chegou à vez da “profissão” fez uma pequena paragem e, depois de olhar para o advogado da defesa, que lhe fez um aceno encorajador com a cabeça, respondeu: “Sou ‘matriz’, Sr. Doutor Juiz”.

O magistrado esboçou um sorriso e não resistiu a um pedido de esclarecimento: “E é predial ou urbana”?

A testemunha embatocou e respondeu com sinceridade: ”Sou das de “f.d.r”, Sr. Doutor juiz.

Foi a vez de o magistrado engolir em seco e… o julgamento continuou.

Mas a história da meretriz que, por alguns minutos, esteve perto de ser ”matriz predial e/ou urbana” ficou… para mais tarde recordar. E o registo aqui está mais de meio século depois!

JERO                  



2 comentários:

Hélder Valério disse...

Histórias antigas..... muito antigas...

Hoje já não há "paralelo 38", esse tipo de 'actividade' passou para outros locais e até com bastante mais 'visibilidade', por exemplo para algumas "casas com segredos".....

Quanto aos 'trocadilhos', sem dúvida que foram 'bem apanhados'.
Tanto a 'matriz' como a 'alternativa' para a 'predial ou urbana'....

Histórias do passado? talvez....

Hélder Sousa

Anónimo disse...

Obrigado pelo teu lúcido comentário, Hélder.Simplesmente...à tua maneira.Abraço...sem paralelo-
JERO