O PÓ
DE CADA DIA...
Madrugada alta
um cão latia,
o frio gelava as veias
o vento cortava os ossos.
e ele ali,
deitado,
camisa aberta
manga arregaçada,
uma vista arregalada,
morto há horas...
Era jovem,
"fizera" uns auto rádios
e ganhara o pó de cada dia...
Á mesma hora, o big-boss
muito bem falante
import-export, importante
discutia a droga, a C.E.E.., o
futebol !
Tinha acesso aos lugares VIP
era endeusado por jornalistas
babados,
incapazes de gritar alto,
O rei vai nu !
O rei vai nu !
Manuel Maia
3 comentários:
Olá camaradas
Um retrato de uma certa margem da sociedade. Margem que não é assim tão restrita, tão distante. É só andar com olhos abertos e querer ver.
O Maia, com a sua capacidade para simplificar as coisas pela poesia (para mim, a poesia é uma arte) dá-nos esta amarga aparente contradição. Pois, se mexermos bem no fundo das coisas, poderemos perceber que não haverá grande dificuldade em encontrar uma relação de causa-efeito.
Sinais dos tempos? Certamente!
Dos tempos que quiseram que fosse assim e que a inércia de muitos permite que 'assim seja'!
Abraços
Hélder Sousa
Mais um bom sinal de vida, ou talvez não...
Histórias que ficam na história das coisas tristes da vida, contada de forma tão simples.
Uma vez mais o Maia está de parabéns por este belo trabalho e nós por podermos desfrutar a sua arte.
Um abraço,
BS
Em verso, o amigo Maia descreve-nos desta forma, as vidas, se é que podemos chamar "de vidas", os muitos (vivos-mortos) que se arrastam pelos cantos das nossas cidades e aldeias e que a troco de pequeninas e grandes coisas, fazem o seu dia a dia para terem acesso o que para eles é mais importante de angariar; "o pó" a que ficaram presos, alguns deles a maioria, até ao fim das suas vidas. Os "senhores barões", ficam na sua boa vida e os que os perseguem, parece que não conseguem alterar o rumo dos acontecimentos. Será?. Um abraço Mª Arminda
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