segunda-feira, 22 de setembro de 2014

P543: GENTE NOVA




TIPO ‘TÁS A VER…

Um texto “subtraído” ao blogue do JERO, da autoria do próprio. Com a devida vénia, claro…

Uma viagem num autocarro da Rodoviária Nacional Lisboa – Alcobaça demora cerca de uma hora e cinquenta. 

Em passado recente fui passageiro num autocarro que saiu de Lisboa completamente lotado. 

Ocupei o nº. 32 e a meu lado, no lugar nº.31, viajou uma adolescente que ,à primeira vista, me pareceu poder ter uns 14 ou 15 anos de idade.  Vestia o “uniforme” que a maioria das jovens utiliza nos tempos actuais: blusa de cor, calções curtos justos e a habitual parafernália de colares, brincos e anéis. O “conjunto” era complementado com um “piercing” na narina esquerda.

Num pequena mala de mão levava um moderno telemóvel que consultou durante a viagem vezes sem conta. Em telefonemas e mensagens. Era capaz de apostar que durante toda a viagem o telemóvel deverá ter estado em “sossego” aí uns dez minutos.

Por viajarmos em proximidade ouvi  inevitavelmente os seus telefonemas. Confesso que a linguagem usada era tão estranha que nos primeiros telefonemas tive dúvidas se a jovem estaria a falar algum dialecto de alguma região do país que eu desconhecesse, tipo mirandês ou minderico.

A partir de certa altura cheguei à conclusão que era uma” espécie” de português. “Bué” foi utilizado vezes sem conta. ”Tipo tás a ver” repetidas vezes. Cada novo telefonema começava com um “continuando”. 

Os quilómetros iam sendo percorridos e a jovem juntou a conversa alguns palavrões, que me dispenso de reproduzir, parecendo completamente esquecida que viajava junto de um adulto “tipo avô, tás a ver”!!!

As surpresas continuavam.

Um amigo estava “bêbado” em tal dia e… ela também estava bêbada em outra ocasião. Isto era referido a uma amiga. 
O tal amigo, que era uma ano mais velho e tinha 15 anos, curtia uma nova namorada “bué” de feia, tipo estás a ver…

E os telefonemas não paravam.

A excepção foi quando telefonou a uma pessoa de família (pai ou avô) para informar que estava a chegar. Este telefonema para a família deverá ter demorado uns 10 segundos !
Pois havia que reatar a conversa telefónica com a amiga. ”Continuando…” 

Antes de sair do seu lugar ainda prometeu à amiga que telefonaria logo à noite (estávamos em cima das 21h00) e informou que tinha voltado a fumar !!!

Fiquei só com os meus pensamentos e fui-me questionando.

Como é que estes jovens poderão ler, aprender a falar português – a tal língua de Camões – utilizando a cada passo aquele “dialecto” repleto de bués, tipo estás a ver ???

Senti-me confuso. Muito confuso.
Está claro que sou eu que estou a mais neste “estado novo” de gente jovem !
Que fazer !?
Não sei.
Mas parece-me, sinceramente, que se não forem os pais a estarem mais atentos a esta gente jovem eles irão “crescer” mal…
Muito mal, com bué de problemas.

Digo eu.
Que sou d'outros tempos...
JERO

6 comentários:

Carlos Pinheiro disse...

Pois. É o que temos. Mas os mais velhos têm muitas responsabilidades nestas novas formas de viver. Deram-lhes dado tudo e nada pediram em troca.OE os resultados começam a estar à vista. E será esta gente que um dia destes vai governar esta coisa...

Hélder Valério disse...

São factos são factos, meus caros.

Realmente não se trata de 'conflito de gerações, pelo menos neste caso relatado. Sabemos, por conhecimento e por experiência própria, que em todas as épocas há esta aparente conflitualidade entre o modo de ser e de estar das gerações adultas e das que procuram a sua afirmação. Mas o que está aqui em causa é que estamos a ver, claramente, a superficialidade destes comportamentos e já antevemos onde pode levar estas atitudes (ou falta dela).

Como diz o Carlos Pinheiro a primeira responsabilidade é nossa. Falo duma forma colectiva porque sei que com cada um dos meus amigos não se passou assim....
Para 'compensar' as carências da nossa juventude e adolescência procurou-se, erradamente, 'facilitar' o caminho aos jovens, dando-lhes 'coisas' e não juntando a esse acto de dar o valor, o significado das 'coisas'. Não tiveram que se esforçar para ter, logo o 'valor' que eles atribuem ao que foi dado é diferente daquela que deu.

E agora, que fazer?
Alguma coisa se poderá fazer, por nossa iniciativa, mas o grosso terão que ser esses jovens a 'partir a cabeça' e a procurar o caminho. Terão problemas novos e problemas velhos com novos enquadramentos. As (possíveis) soluções terão que ser eles a encontrá-las.

E sim, estão como grupo, a 'crescer mal', mesmo que ainda não tenham consciência disso. Se calhar até interessa assim aos poderes instituídos.

Só uma pequena correcção, amigo Jero... já que estavas inevitavelmente atento à terminologia deverias ter escrito "... com bué DA problemas" e não 'de problemas' como o fizeste....

Abraço
Hélder Sousa

Anónimo disse...

"Nós os adolescentes mais velhos"

Como se poderá compreender,com família sueca composta de filho e filhas,fui sujeito a muitas das preplexidades täo bem referidas pelo Jero,só que somadas,(quer queiramos ou näo),aos muitíssimos "anos de luz" que separam duas sociedades täo díspares como a portuguesa e a sueca.
MAS...se bem me lembro...nos já täo distantes anos da adolescência existiam,pelo menos na capital do Império,os nossos dialectos muito específicos e,bem ridículos.
Certamente menos africanisados ou abrasileirados ,mas também exóticos para os mais velhos.
Para além deste dialecto etário-geracional existia um näo menos importante "dialecto de classe social"...demarcante,exclusivista,bem estabelecido entre os meninos e meninas do meu Estoril,Cascais,vivendas do Restelo,Bairro da Lapa e nas Avenidas Novas Lisboetas.
Surpreendemos os nossos Pais como eles certamente surpreenderam os nossos Avós.
Mas seríamos nós ,e o mundo,piores que eles?
O tal mundo que "pula e avanca como bola colorida entre as mäos de uma crianca"?

Aquele abraco (solidário) ao Jero do José Belo.

Juvenal Amado disse...

Curti bué da tua estória ...está a ver meu?
A garina táva numa de expresso para lisbones e vai dai tinha que se entreter ante de basar dali e ir curtir uma nigth numa naice!!!

O "dialéctico" que muitos jovens usam hoje é utilizado por muitos para estarem na "onda" mas ficam por ali. Felizmente. Outros não infelizmente.



Um abraço Jero e companhia

Anónimo disse...

Depois de ler a engraçada estória que o amigo JERO aqui nos presenteia e os comentários dos nossos amigos, pouco tenho a acrescentar. Fico por vezes a olhar de lado para as pessoas que têm certas atitudes e expressões que nada tem a ver com a nossa geração e com a minha ainda mais, porque sou a mais velha do grupo, penso eu. Estamos mesmo ultrapassados, perante parte desta nova geração. E como será a próxima, da qual os meus netos já iniciaram a subida. Três rapazes com dois, sete e dez anos? Como será quando chegarem às idades da adolescência e forem adultos?
Não fujo a contar um episódio familiar que se passou com o meu filho, hoje com 40 anos. Estávamos a almoçar e tinha ele uns 11 ou doze, quando disse que ia pôr um brinco na orelha. O pai olhou para ele e disse: "faz isso faz, que eu corto-te a orelha. Fez-se um silêncio e até hoje ele não o fez. O pai foi demasiado radical, e possivelmente nesta época, poderia a repreensão entrar a dez e sair a cem à hora, mas com ele resultou!.. Um abraço. Mª Arminda

manuel maia disse...

Olha lá ó cota,está mesmo "bué da fixe,meu..tás a ver ? Abração!

Abraço sentido franco e apertado a todos cotas da tabanca do centro que se reunem não à volta da fogueira como os meninos da canção,mas em torno da mesa reforçando o vínculo que grangearam ("bué de tempo meu"),com um cozido divinal,um tinto a escorregar bem,boa disposição e a certeza de que a guerra mau grado as dificuldades que aportou, trouxe muitas coisas boas como esta amizade indescritível,sã,que nos leva a pensar ,felizmente,que o mundo não está perdido como em desabafos dizemos e ouvimos pronunciar...

Abraço a todos os tabanqueiros que pelas mais variadas razões não podem dizer presente com assiduidade a esse repasto fabuloso onde a amizade tem lugar cativo e assento de luxo.

VIVA A TABANCA DO CENTRO, OS SEUS MENTORES E FREQUENTADORES.

VIVA A GUINÉ QUE TRAZEMOS NO CORAÇÃO E NUNCA ESQUECEREMOS.