UMA IDA À MATA!
Olhei
para a minha G3 (feita especialmente para mim), e chamei os furriéis:
-
Ó Manel, manda lá o pessoal preparar-se que hoje apetece-me encontrar os gajos
e pregar-lhes uma carga de tiros!
O
Furriel Manel, entre o brincalhão e o apreensivo voltou-se para os outros e
disse:
-
É pá, cuidado com ele! O Alferes hoje tá danado para a porrada! Até já “tou”
com pena dos turras!
Reentrei
no meu quarto e comecei a preparar-me.
Pintei
a cara e as mãos segundo a melhor arte de camuflagem e vesti o camuflado.
No
tornozelo direito coloquei num coldre apropriado a minha Walter PPK. No
tornozelo esquerdo o meu revolver Smith & Wesson, fiel companheiro de
tantas idas ao mato sem nunca encravar.
À
volta da cintura, presas ao cinturão 4 granadas defensivas enquadradas pelos
diversos carregadores de munições das diferentes armas.
Presa
à passadeira do camuflado no ombro esquerdo coloquei a minha indispensável faca
de mato, que já me tinha valido a vida em tantas lutas corpo a corpo naquelas
matas da Guiné.
Olhei
para o cantil da água e coloquei-o de lado. Homem que é homem não bebe água e
um guerrilheiro não tem sede!
Em
vez de levar o cantil, coloquei mais duas granadas à cinta e no ombro direito.
Coloquei
os óculos de lentes amarelas no bolso do peito, porque já sabia que me iam
fazer falta para ver os turras empoleirados nas árvores no meio da folhagem.
Olhei-me
no espelho grande que tinha no quarto e um ligeiro tremer apoderou-se de mim.
Porra,
até a mim eu metia respeito!!!
Saí
para a parada e do meu Pelotão formado saiu um Ah! de espanto e temor! Eu tinha
esse condão!
Quando
saía para a mata em operações o pessoal ficava sempre à rasca quando me via. Ou
não tivesse eu a fama que tinha!
Ouviam-se
pelo meio dos soldados uns murmúrios que diziam:
-
É pá o gajo hoje “tá” de todo. Coitados dos gajos, nem têm hipótese!
Como
sempre fazia, levantei a voz e disse para os meus homens:
-
Pessoal já sabem como é. Não há misericórdia, nem fazemos prisioneiros, e já
sabem que enquanto eu estiver a dominar a coisa sozinho, vocês não metem o
bedelho!
Só
o Furriel Manel é que fica incumbido de atirar aos gajos das árvores se eu não
os conseguir abater a todos.
Todos
têm as palhinhas para respirarem debaixo de água?
Era
o meu melhor truque!
Colocávamo-nos
dentro de água, totalmente imersos e a respirar por umas palhinhas e quando os
gajos se chegavam ao rio era só saltar de dentro de água e disparar a torto e a
direito! Nem um só escapava!
Olhei
para o pessoal, olhos nos olhos de cada um, e comandei em voz alta e forte:
-
Vamos lá despachar uns gajos que eu quero chegar a tempo de beber a cervejinha
da tarde!!!
Ouviu-se
uma grande algazarra, vozes a discutir, etc, e depois finalmente uma voz que
dizia esganiçada:
-
Porra! Façam silêncio no estúdio que estamos a filmar!!!
Monte
Real, 19 de Outubro de 2009
Joaquim
Mexia Alves
Este texto foi originado ao ouvir e ler algumas histórias mirabolantes de alguns, (poucos, felizmente), combatentes, que se esquecem, muito provavelmente, que houve outros combatentes que por lá andaram e conhecem a realidade da Guerra do Ultramar.
Este texto foi originado ao ouvir e ler algumas histórias mirabolantes de alguns, (poucos, felizmente), combatentes, que se esquecem, muito provavelmente, que houve outros combatentes que por lá andaram e conhecem a realidade da Guerra do Ultramar.
3 comentários:
Falta o garfo,Joaquim.
Apanhados "à mäo" mas comidos com faca e...garfo!
Aquele abraco.
E DESTA FORMA BRILHANTE ENTROU PARA O CINEMA O SWARZENEGER DE MONTEREAL TAMBÉM CONHECIDO POR RÉGULO DA TABANCA DO CENTRO...
Assim não pode ser ó régulo de Monte Real. Eu vi esse filme há mais de 30 anos, mas o actor não era o Chesewarneguere. Mas ainda vais pagar uma de direitos de autor.
Mas parece que uma parte do filme ainda vive nas mentes de uns tantos Rambos.
Há muito, muitos anos, havia um homem com talvez 1,55 m e 50 kg de peso, conhecido pelo Básico (ver Tabanca Grande)que já tinha inventado um filme idêntico. O herói Rambo era eu mesmo. Felizmente tinha outros Rambos comigo que o colocaram atrás das Câmaras.
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