quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

P443: DO JOAQUIM MEXIA ALVES



FOI-SE A PAZ!

Estou em paz!
Os meus ouvidos fecharam-se
aos sons da guerra longínqua
e já não me incomodam os gritos
do medo do meu viver.

Estou em paz!
Não sinto cheiros da terra quente
por lavrar,
por semear,
apenas cheia de capim,
daquele que esconde a gente,
que espera outra gente.

Estou em paz!
Cerram-se os olhos
a tentar ver por entre as árvores,
para apenas se abrirem
para as cores da natureza,
que me alentam e acalmam.

Estou em paz!
Bate compassado o coração,
calmo, sensível, aberto,
afastada que foi a frieza,
dos sentimentos escondidos.

Estou em paz!
Os meus passos são seguros,
nada têm de hesitante,
porque a estrada que percorro,
não tem nada escondido,
nem a morte num instante.

Estou em paz!
As minhas mãos não seguram,
nem uma arma, nem pica,
estão abertas, ansiosas,
que nelas caiba uma vida.

Estou em paz!
Os que por lá ficaram
são grata recordação,
os que comigo vieram,
moram no meu coração.

Estou em paz!
E no entanto,
algo me incomoda,
e não me deixa dormir.

Olho em volta,
e vejo todos,
todos os que vieram da guerra!



Só não vejo entre eles 
aqueles filhos da terra
da terra que os viu nascer,
que ao meu lado estiveram,
que não me deixaram morrer. 

 
Procuro-os,
quero-os ver,
quero com eles falar,
quero-lhes agradecer,
mas só me responde o silêncio,
um silêncio frio,
tão frio como o vento Norte,
que me causa um arrepio,
e me sussurra ao ouvido:
morte, morte, morte.

Foi-se a paz!
Ficou a descrença,
a revolta,
a indignação.

Uma morte não tem volta,
a vida é que é presença,
não basta a recordação.

Uma só palavra
martela todo o meu ser:
abandonados!

Como são fortes os cravos
que me rasgam o coração,
são feitos de liga dura,
revestida de traição!

                                                                                       Atraiçoados!

Pobre bandeira a minha,
onde só vejo encarnado,
porque o verde da esperança,
foi tingido,
foi lavado,
pelo sangue derramado,
daqueles que acreditaram,
que tinham uma pátria,
um lugar,
mas que abandonados à sorte,
ficaram na terra mãe,
num longo estertor de morte… 



Monte Real, 7 de dezembro de 1991

Joaquim Mexia Alves

15 comentários:

JD disse...

Caro Joaquim,
Dou-te os parabéns por este grande poema que me toca cá dentro.
Agora também estamos abandonados cá no torrão, por governos que não param de nos sugar insaciavelmente, por via de dívidas e truques de exportação de capitais, que, dizem, são da nossa responsabilidade.
Ficam-nos recordações, e esperanças de vida melhor, mais organizada, mais solidária e feliz.
Lutemos por manter a chama viva, para que, se não formos nós, os nossos filhos e netos possam impor regras que garantam a dignidade ao País.
Um grande abraço
JD

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
manuel maia disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Amigo Joaquim. Gostei muito do poema que encerra, muita amizade que uniu e une os que consigo partilharam, dias difíceis. Um poema de saudade, e de amargura para com os que dando o melhor de si, as suas vidas ,foram esquecidos e ignorados. Igualmente outros, os que vieram e que ainda nos tempos que correm, esperam há anos o reconhecimento por parte de quem tem o poder de decisão!.. Um abraço. Mª Arminda

Hélder Valério disse...

Um poema sentido e, infelizmente, ainda "actual", apesar de já ter mais de 22 anos, que seria tempo mais que suficiente para se 'repararem' erros.

Hélder Sousa

Anónimo disse...

Continuo a acreditar que entre Amigos se deve dizer o que se pensa,e com frontalidade.
Depois,a cada um a sua opiniäo.
Aquando da preparacäo de uns textos meus rebuscados em memórias longínquas,foi-me lembrado que referências políticas,fossem elas quais,näo seriam apropriadas.
Respeitando e admirando o sucesso que tem sido a camaradagem e amizade criadas à volta da Tabanca do Centro,precisamente porque tais divisöes acessórias näo serem o que nos leva a conviver,e por serem os valores que nos unem muito superiores ao "resto",compreendi,e de imediato aceitei tais cuidados.
Será de surpreender quando surge publicado em comentário a um poema coisas como..."os profissionais da mesma,peitos pejados de medalhas,geralmente imerecidas,normalmente se eximiam,mau grado lhes coubesse essa responsabilidade"...ou:"Corja Político Militar Portuguesa saída da golpada traidora,ás mäos sanguinárias do Comunismo Internacional,sob a bandeira do PAIGC"...ou ainda:"Patriotas das Internacionais,escumalha reles".
Näo me identificando com nenhuma(!)destas referências,näo posso näo reagir a que os militares profissionais sejam referidos em termos de "manada" cobarde,incompetente,e com o peito cheio de medalhas imerecidas.
Como em todas as profissöes de tudo haverá um pouco.
O generalizar é näo só injusto como muito pobre,independentemente das opiniöes de cada um,mesmo que em bicos de pés.
A ser-me desculpado o pessoalismo,na Guiné decidi seguir a profissäo militar,tendo como exemplos Oficiais como o entäo Capitäo de Artilharia Ricardo Rei,e o Major de Cavalaria Carlos de Azeredo.
As suas Folhas de Servico falam por si.
Mais longe de comunistas ou internacionalistas será difícil encontrar.
Pagavam no entanto bem caro a sua honestidade,coerência de procedimentos e coragem.
O mesmo näo se poderá dizer de muitos elementos de alto gabarito internacional dentro da profissäo de Jurista que decidi seguir quando saí do País.
Haverá uma aparente falta de coerência entre o tipo de comentário publicado e os valores referidos como normativos.
Näo creio ,sinceramente,ser aqui aplicável o velho ditado lusitano de que...."Näo säo os instrumentos que fazem a qualidade da música,mas sim os ouvidos que a escutam".
Um abraco do José Belo.

Anónimo disse...

Para o José Belo, pela sua sinceridade, franqueza e lucidez, um grande abraço.
BS

Anónimo disse...

O notável poema do nosso Amado Chefe, que tão bem retrata a injustiça de que foram alvo tantos e tantos Camaradas naturais da Guiné, muitos deles devorados pelos exageros inerentes às “revoluções”, outros tantos votados ao abandono pelos sucessivos governos de ambos os países, levanta em todos nós, os que a seu lado combatemos, um sentimento de revolta perante as tantas injustiças acontecidas ao longo de todos estes anos.
Penso, no entanto, que este cantinho, que é a nossa Tabanca do Centro, merece de todos nós redobrados cuidados nos comentários que aqui são apostos. E digo com toda a frontalidade e toda a sinceridade que é sempre devida no diálogo entre Camaradas que o comentário do meu Camarigo Manuel Maia me parece deslocado num sítio como a nossa Tabanca do Centro, face à linguagem utilizada que colide com as regras da nossa Tabanca , que tem crescido de forma saudável,alicerçada no respeito dessas mesmas regras, onde não cabem nem futebóis, nem políticas, nem generalizações que podem ofender homens sérios e dignos, que os há, em todas as profissões.
Lembra o meu Camarigo José Belo de lhe terem referido que a sua colaboração neste espaço devia ser virgem de referências políticas, o que ele compreendeu e aceitou no respeito pelas regras definidoras deste espaço. Entendo pois a sua reacção ao escrito do Manuel Maia, reacção essa que me parece absolutamente correcta.
Não tenho que emitir a minha opinião pessoal sobre o comentário do Manuel Maia, nem ela teria qualquer interesse, mas apenas dizer que este não é, com toda a certeza, o local mais apropriado para emitir uma opinião que extravasa os princípios definidores deste espaço.
Espero que me tenham entendido e muito me agradaria continuar a ter tão ilustre colaboração de homens como o Manuel Maia e como o José Belo, a quem deixo sincero abraço de amizade.

Vasco A. R. DA Gama


joaquim disse...

Meus caríssimos camarigos

Submergido, literalmente, pelas águas do Liz que "afogaram" as "minhas" termas não me foi possível em devido tempo comentar aqui o que gostaria de ter escrito logo de imediato.

O Vasco da Gama, um daqueles que em equipa levam a bom porto a Tabanca do Centro, já o fez e muito bem, pela Tabanca do Centro e por mim.

Obrigado Vasco!

E tens razão José Belo, foi-te pedida "isenção" da politica nos textos que nos quisesses enviar, e esse é um pedido que sempre faço, e perdoem-me a "voz de comando": exijo!

Vemos por aí páginas do facebook e outras, em que combatentes se insultam e quase agridem, por causa da politica, por isso, aqui não!

Ao meu camarigo Manuel Maia, que como sabe muito estimo, peço o favor de retirar o seu comentário, ou melhor, "saneá-lo" das expressões politicas que aqui não têm cabimento.

Peço a todos desculpa, mas compreenderão que nestas últimas horas as minhas prioridades eram outras.

Um abraço amigo todos, esperando que todos nós possamos continuar a construir esta Tabanca do Centro que tantas alegrias nos tem dado.

Joaquim Mexia Alves

manuel maia disse...

CAMARIGOS,

NÃO ME PASSOU PELA CABEÇA QUE O MEU COMENTÁRIO A UM FABULOSO POEMA DO JOAQUIM MEXIA,E FABULOSO PORQUE FRONTAL,PORQUE HONESTO,PORQUE VERDADEIRO,PORQUE SENTIDO,PORQUE CAPAZ DE NOS TOCAR NO ÍNTIMO,"ACORDANDO-NOS","LEMBRANDO-NOS" TODO O COTEJO DE CRIMES OCORRIDOS NO PÓS INDEPENDÊNCIA,COM A CONIVÊNCIA ( E QUE NINGUÉM DUVIDE DISSO...)DE ALTOS RESPONSÁVEIS DITOS PORTUGUESES,NUNCA ME PASSOU PELA CABEÇA ,DIZIA, QUE PUDESSE FERIR A SENSIBILIDADE DO ZÉ BELO,A QUEM ADMIRO E POR QUEM SINTO EMPATIA FAZ TEMPO.

PREOCUPADOS COM O BOM FUNCIONAMENTO DA TABANCA DO CENTRO,OS MEUS AMIGOS VASCO DA GAMA E JOAQUIM MEXIA ,LEMBRARAM-ME DA NECESSIDADE DE CONTENÇÃO NO QUE À POLÍTICA CONCERNE,NOS ESCRITOS QUE DIRECCIONO PARA A MESMA.

DEVO MESMO AFIRMAR QUE O JOAQUIM MO SOLICITARA,TAL COMO TERÁ FEITO AO ZÉ BELO,SÓ QUE...A MINHA FRONTALIDADE NÃO CONSEGUIU VENCER A CONTENÇÃO SOLICITADA E QUE ENTENDO NECESSÁRIA PARA SER POSSÍVEL "GERIR" TANTA GENTE...

DO FACTO ME PENITENCIO,PEDINDO DESCULPA AO JOAQUIM,E AO VASCO PELA OCORRÊNCIA,DESCANSANDO-OS QUANTO À IMPOSSIBILIDADE DE REPETIÇÃO DE TAL FACTO,BEM COMO AO ZÉ BELO ( EMBORA ELE SAIBA PERFEITAMENTE QUE NÃO FOI O ALVO DOS MEUS COMENTÁRIOS...)

NÃO SE TRATA DE GENERALIZAR OU NÃO A QUESTÃO,PORQUE OBVIAMENTE HÁ EXCEPÇÕES À REGRA,E SE NEM TODOS SÃO OTELOS, TAMBÉM NÃO SERÃO CARLOS AZEREDOS...

NESTA CONFORMIDADE,E ATENDENDO À MINHA IMPOSSIBILIDADE DE TRUNCAR O TEXTO ATÉ PORQUE NÃO SABERIA COMO RETIRAR O COMENTÁRIO,PEÇO AO MIGUEL PESSOA O SUBIDO FAVOR DE RETIRAR O COMENTÁRIO EM QUESTÃO.

UM ABRAÇO A TODOS.

Anónimo disse...

Apenas para dar um abraço ao Manuel
Maia e agradecer-lhe o comentário anterior, revelador da sua compreensão e da amizade que o liga à nossa Tabanca do Centro.
Obrigado Manuel Maia e recebe um Camarigo abraço.

Vasco A. R. DA Gama


Anónimo disse...

Caro Manuel Maia.
O meu comentário,e as ideias nele contidas,nada têm a ver com a amizade e respeito para com um Amigo,cujas as intervencöes frontais e sentidas säo do conhecimento geral.
Os pensamentos ,ideais e reflexöes,säo os seus,e obviamente a eles terá o direito absoluto,como eu terei direito aos meus,por muito divergentes que possam ser.
Seräo suficientemente esclarecedores os muitos comentários meus, apreciativos dos trabalhos de Manuel Maia,tanto neste blogue,como na Tabanca Grande ou blogue da Lapónia.
Para um Poeta nos tocar a alma,torna-se necessário uma sensibilidade profunda,e näo menos..."um coracäo ao pé da boca".
Creio que os poemas do Camarada e Amigo Manuel Maia näo teriam a qualidade que têm sem estas características pessoais.
Um abraco do José Belo.

joaquim disse...

Obrigado Manuel Maia, obrigado José Belo, obrigado Vasco da Gama.

É assim, desta maneira franca, sincera, amiga, melhor dizendo, camariga, que se vai construindo esta Tabanca do Centro, em que a amizade e a camaradagem prevalecem sobre a politica e outras coisas, que apenas levam à discussão, (a maior parte das vezes inútil), e à consequente divisão.

É bom ter-vos por aqui, bem como todos os outros atabancados.

Um forte e camarigo abraço do
Joaquim Mexia Alves

manuel maia disse...

CAMARIGOS,


ESTOU COM UMA AVARIA NO PC E ENCONTRO-ME EM CASA DE UM AMIGO,A TENTAR SOLUCIONÁ-LO,EMBORA ME PAREÇA SER DIFÍCIL CHEGAR A BOM PORTO.

ENTRETANTO PUDE CONSTATAR QUE O MEU PEDIDO FOI ATENDIDO E APERCEBI-ME,DAS MENSAGENS DO VASCO,DO JOAQUIM E DO ZÉ BELO.

NESTA CONFORMIDADE,E ENQUANTO A MINHA "MÁQUINA INFERNAL" NÃO ACUSAR MELHORIA DO SEU ESTADO CRITICO,PROVAVELMENTE NÃO VOU PODER NOS TEMPOS MAIS PRÓXIMOS,VOLTAR À VOSSA CONVIVÊNCIA...

OXALÁ CONSIGA RESOLVER O PROBLEMA...

A VER VAMOS COMO DIZ O CEGO...


ATÉ LÁ,MEUS AMIGOS, UM GRANDE ABRAÇO PARA OS TRÊS,EXTENSIVO A TODOS OS CAMARIGOS DESSA TABANCA.

DO VOSSO INDEFECTÍVEL AMIGO.

M.MAIA