Recentemente no blogue dos
Especialistas da BA12 um tertuliano veio-me lembrar antigos acontecimentos que,
não estando esquecidos mas sendo algo desagradáveis, não costumo recordar… Tem
a ver com a má sina que envolvia o carro que tinha no já longínquo ano de 1970 –
um NSU TT – o qual acabou por se finar com apenas 6 mesitos de idade. Ainda
antes do estouro final, já duas desgraças me tinham sucedido com aquele carro
pois duas semanas antes, quando contornava o clube de oficiais da BA2, Ota,
deparei-me com uma camioneta de transporte que, parada junto à porta do armazém
resolveu de repente fazer marcha-atrás sem confirmar se tinha o caminho
livre… Sem tempo para eu reagir, a
traseira da camioneta entrou pela frente do carro, deixando esta bastante
amarrotada… Tentando ultrapassar esta contrariedade contactei um mecânico civil
que trabalhava na Base e simultaneamente fazia uns biscates num oficina no
Carregado. Assim, lá levou ele o carro… para me aparecer duas horas depois, com
ar constrangido, a informar-me que no percurso para o Carregado um condutor
mais desatento tinha resolvido entrar pela parte de trás do carro, deixando-a
igualmente amarrotada…
Depois dos arranjos adequados, duas
semanas depois - numa 6ª feira - tinha
eu finalmente em mãos o carro, à primeira vista completamente recuperado. Mas
nesse fim-de-semana não poderia testar a condição em que se encontrava pois tinha marcada uma missão de navegação
para Madrid, em T-33.Regressado à Ota na 2ª feira, lá pude finalmente ir testar o comportamento do carrito, tendo-me acompanhado para o efeito o Aspirante Senna de Vasconcelos, pessoa com quem tinha um bom relacionamento. A estrada que liga a parte alta com a parte baixa de Alenquer era sinuosa e acompanhada por moradias, não permitindo velocidades muito elevadas. Claro que os 60 ou 70 Kms/hora a que eu seguia já eram uma velocidade razoável, principalmente se tivermos em conta que numa das curvas encontrei espalhada uma quantidade grande de cascalho de construção que tinha escorregado de um montículo existente ao lado da estrada. O carro pareceu ganhar patins e percorreu rapidamente os 2 ou 3 metros de distância que o separavam da árvore mais robusta da zona… e ali se enfiou.
Para quem não se lembre do NSU TT, posso acrescentar que era uma carro bastante seguro… enquanto não saía da estrada. Com o motor colocado atrás, a parte da frente (a bagageira) era oca e funcionava como um harmónio numa colisão frontal. Como acertei na árvore mais do lado direito do carro, foi esse o lado que mais encolheu – os faróis foram encostar-se ao painel e a roda direita veio encostar-se ao banco do pendura, deixando este em maus lençóis…
Resumindo, resultou desta cena que acabámos os dois num quarto do Hospital Militar, eu na cama da esquerda, ele na cama da direita – precisamente como íamos no carro... Mais grave o estado do meu pendura – tinha fracturado o fémur em dois sítios e rasgado o nariz – nem por isso eu fiquei muito melhor pois para além de amarrotar a fachada fracturei o colo do fémur, o que me originou uma imobilização ainda grande no hospital e um período de 6 meses até poder voltar a voar. Claro que com esse atraso lá se foi o curso de T-33 que estava a frequentar: quando voltei à Ota os meus companheiros de curso já tinham arrancado para a BA5, Monte Real… e eu ingressei no curso seguinte, entretanto iniciado por novo grupo. Resultou daqui um atraso irrecuperável na minha preparação para uma comissão em África, tendo por esse motivo sido o último a partir para essas bandas, com um atraso de cerca de 6 meses a um ano em relação aos outros do meu curso original.
Embora com uma recuperação mais
lenta que a minha, penso que o meu companheiro de infortúnio Senna de
Vasconcelos não terá ficado no entanto com mazelas psicológicas relativamente
às velocidades na estrada, pois tive a oportunidade de ver nos jornais da
especialidade que ele terá mesmo participado em rallies nos anos seguintes…
Miguel Pessoa
8 comentários:
Quer dizer então que andaste a "voar baixinho"!!!
Deixa lá, que não foste o único!
Grande abraço
Joaquim Mexia Alves
O NSU PRINZ TT ERA ASSIM TIPO SIMCA 1000, MAS COM UMA GARRA TIPO G 90, PORTANTO ESSA DOS 60,70 Á HORA CHEIRA-ME A DESCONTO, HA A HA
NSU
Grande máquina feia como trovões.
Fiz a minha aprendizagem e o exame de condução num em Santarém.
Dá vontade de rir quando me lembro do exame de código sentado dentro da viatura. O examinador tirou um baralho de perguntas do bolso e foi mesmo ali que o exame se fez. Com cartões mas sem complicações.
Mas o Miguel está imparável essa é que é uma grande verdade.
Abraços
Quantas renas para o puxar?
O carro não era sueco, não usava renas... mas tinha 55 cavalos para o puxar (bom para a época...). Neste caso particular ainda tinha um burro a conduzir...
MP
O carro? A referência é quanto à frase do Juvenal:O Miguel está imparável! Daí perguntar o lapäo:Quantas renas para "O" puchar? E atencäo,isto nada tem a ver com....PESO! (Safo-me com esta versäo?) Aquele abraco.
Com que então camarigo amigo,já vem de longa data os acidentes com membro fracturado. Primeiro num veículo de 4 rodas e depois no passaroco supersónico. Não estrague mais latas- Só se fôr agora um machibombo de Lisboa. Sempre bem disposto o amigo.Um abraço Mª Arminda
Caros amigos, em geral, e Miguel, em particular.
Quando li a história ocorreu-me precisamente o que a nossa amiga Maria Arminda pensou e disse.
O Miguel andou a treinar....
Pois, também eu tive algum contacto com um NSU TT Prinz que era dum colega da escola e no qual andávamos muitos lá dentro de modo que as rodinhas do carrinho que em posição 'vazio' estavam em "V" ficavam em "/\". Mas era muito manobrável.
Miguel, agora que te lembraste disso e o revelaste, aproveita a embalagem e conta os 'outros' acidentes, sim, porque é perfeitamente expectável que tenha havia mais histórias....
Abraço
Hélder Sousa
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