sexta-feira, 7 de maio de 2010

P49: Bitoque no Regala vs Cozido à Portuguesa na Preciosa

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O Restaurante do Sr. Regala

Pela pena do Juvenal Amado





Vinho de palma bem fresco de manhã. O pior era umas horas depois

Mantimentos frescos prestes a esborracharem-se no chão


O sr Regala era homem de certa idade, baixinho e de origem caboverdena.

Tinha se não estou em erro duas camionetas , com elas para além fazer transportes e comércio entre várias povoações na Zona Leste, era frequentemente contratado para fazer colunas de abastecimentos integrado nas colunas de Galomaro.
Dizia-se que nas colunas em que ele participava podíamos estar descansados, tal era as boas relações que entre ele e a guerrilha existiam. Facto que não me custa acreditar.
Assim falei muitas boas horas com ele onde era fácil adivinhar, que comércio era uma coisa, ideais quanto ao futuro da Guiné era outra.
Também tinha um posto de venda em que vendia umas “bazucas” bem fresquinhas, servia uns bifes com batatas fritas e ovo a cavalo, bem ao jeito de “bitoque” que era uma delícia.
Bem quero isto dizer que este pequeno posto fazia parte do imensa cantina, que era formada à volta dos soldados por toda a Guiné.
Uma terra com agricultura de subsistência, sem industria, sem bens minerais, era pois à volta dos soldados que a economia fervilhava.
Lavadeiras, vendedoras de mancarra, de caju e frutas várias, todas se juntavam perto do arame.

Nas aldeias também comprávamos umas galinhas e a carne para o quartel, também era adquirida por nós a fornecedores junto dos Homens Grandes.
Ao vinho de palma e aguardente de cana, juntavam-se vendedoras de prazer nas ruelas das tabancas, que também dividiam embora por breves momentos o leito os favores e o patacão, que custava essa também transacção.
Em Bafatá lá estavam os restaurantes portugueses e libaneses, a escola de condução, que o artesanato, que bonito era o de filigrana de prata, que os nossos furriéis e alferes mais endinheirados mandavam fazer de encomenda. Não esquecer os vendedores ambulantes que normalmente nada sabiam de português.
Éramos por assim dizer o motivo e fonte de subsistência em todas áreas daquela terra.
Quero eu dizer com isto tudo que o que para lá levamos, trouxemos mais a saudade que tende a crescer.
Tudo isto para falar no que ainda não falei.
O nosso Cozido à Portuguesa, que já por várias vezes degustamos na Pensão Montanha e onde saboreamos para além do dito, a amizade nos encontros da Tabanca do Centro. São momentos únicos de troca de ideias e a forma que somos “mimados” pela sra D. Preciosa, deixa vontade de voltar sempre.
Comecei por falar no Regala.
Se calhar se comesse hoje o tal bife, diria que não era nada de especial e naquele tempo longe de casa, qualquer coisa nos satisfazia desde que saíssemos da ração de combate ou do rancho, que era servido no Restaurante da Morte Lenta e outros locais com “gerência” parecida.
Mas o que eu não daria por voltar lá, sentar-me e comer para ver se era verdade ou não.
Um abraço
Juvenal Amado


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