sábado, 21 de dezembro de 2024

P1508: UM CONTO DE NATAL

       REENCONTRO

Tantas vezes já tinha tentado falar com os seus pais para lhes pedir perdão por tantas coisas erradas que tinha feito e que o tinham levado a sair de casa. Tantos problemas que tinha causado e tinham entristecido os seus pais que, no entanto, sempre lhe respondiam com todo o amor que tinham por ele.

Lembrava-se de ter saído intempestivamente de casa, dizendo que se ia embora para sempre, deixando-os mergulhados numa profunda tristeza e desalento.

Agora via tudo isso, mas naquele tempo, um qualquer mal que ele não entendia, tinha-o levado a quase odiá-los por não quererem entender, julgava ele, as suas “verdades”.

O que seria feito deles?

Sabia que viviam na mesma casa de sempre, que os anos tinham passado por eles, e alguém lhe tinha dito que viviam sem alegria.

Também ele agora, passados aqueles anos loucos em que se tinha deixado consumir pelos maus caminhos, pela droga, pela sua mania de tudo pensar saber, sentia uma enorme tristeza dentro de si que, quando reflectia conscientemente, percebia que não era só pela vida que tinha levado, mas sobretudo por aquilo que tinha feito a seus pais e por este afastamento deles que agora vivia.

De repente percebeu algo tão nítido que ficou surpreso com ele mesmo.

“Aquilo que tinha feito a seus pais”! “Tinha feito”!

Então se “tinha feito”, pensou ele, era passado e estava muito a tempo de ir ter com eles, pedir perdão e deixar que o amor que ele sabia eles lhe tinham, fazer o resto.

Mas dentro dele ainda vivia um orgulho quase incontrolado.

Ir ter com eles e pedir perdão era reconhecer que tinha errado e, se ele queria sentir a paz do perdão dentro de si, a realidade é que teria de reconhecer que afinal não era dono da verdade e tinha errado, e isso parecia-lhe uma barreira quase intransponível.

Mas ele agora estava tão bem!

Tinha vencido o vício, tinha um bom emprego, um bom apartamento, enfim, uma boa vida e, no entanto, percebia, mais uma vez, que aquela situação não o deixava ser feliz e viver em paz.

Era véspera de Natal, e ele lembrou-se de que nesse mês e nesse dia, algo de bom, de sensível, se vivia sempre em casa dos seus pais, com os preparativos e a chegada do Natal, com uma alegria calma e aconchegante.

Já não rezava há tanto tempo, pensou ele.

Tudo isso tinha afastado da sua vida e já nem se lembrava das orações que faziam em casa de seus pais.

De qualquer modo fechou os olhos, baixou a cabeça, e quase num murmúrio disse: Menino Jesus, se me amas, ajuda-me a nascer de novo.

Veio ao seu coração uma certeza inabalável: Tinha que ir a casa dos seus pais nessa noite pedir-lhes perdão e que o deixassem passar com eles a noite de Natal.

Num instante colocou algumas coisas num saco e partiu de viagem, porque já era tarde e ainda tinha muito quilómetros para fazer.

Longe, na terra de seus pais, já se celebrava a Missa do Galo e eles lá estavam, como sempre na igreja, tentando viver com alguma alegria a noite de Natal.

Mas era quase impossível, porque o seu filho longe e sem saberem onde, gerava uma tristeza muito profunda nos seus corações.

Deram as mãos no Pai Nosso e mesmo sem dizerem nada um ao outro, sabiam que nessa oração pediam ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo por aquele filho a quem tanto amavam.

Acabada a Missa saíram da igreja e caminharam apressadamente, por causa do frio, para sua casa que era ali bem perto.

Quando chegaram perto de casa, perceberam que junto à porta de entrada estava um vulto de homem, e ficaram um pouco receosos.

À medida que se aproximavam parecia-lhes que o ar se tornava mais leve, que uma qualquer melodia enchia aquela rua, que uma expectativa alegre tomava conta dos seus corações.

Foi então que reconheceram o seu filho junto à porta e, sem pensarem nem um pouco, correram para ele enquanto ele corria para eles, também.

Abraçaram-se chorando de alegria e quando ele tentava pedir-lhes perdão, eles só lhe diziam: Obrigado, obrigado por teres vindo ter connosco. Vem, entremos em casa e vivamos o Natal que fez renascer o nosso menino.

No presépio, podiam jurar que o Menino Jesus, Maria e José, sorriam embevecidos com os abraços intermináveis daquela família.



Marinha Grande, 21 de Dezembro de 2024

Joaquim Mexia Alves

 

 

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

P1507: OUTRAS FESTAS NATALÍCIAS

                          NATAL – UMA ÉPOCA MÁGICA

Juvenal Amado
Naquela casa, pouco mais que remediada, o Natal era celebrado com grande alegria. Na altura a árvore era enfeitada de algodão e bugalhos pintados com purpurinas douradas e prateadas, alguns chocolates seriam pendurados mais próximo da data. Na antevisão das prendas não se sonhava com as grandes e inacessíveis montras das lojas que ofuscavam com o brilho e cores.

Tanta coisa que soava a agressão, para quem não podia reclamá-las.

A mãe fazia os fritos de abóbora, a batata doce frita em rodelas envoltas em açúcar e canela e uns bolinhos também fritos a que chamam hoje carolinas.

Era uma azáfama com que se preparava o festejo.

Comiam carne pois de bacalhau estavam fartos, eventualmente havia laranjada, bebia-se café de cevada e petiscavam os fritos e bolinhos.

As crianças deitadas agitadas mal dormiam para ir ao sapatinho onde as esperavam as alegrias que o menino Jesus lá tinha deixado - e também desilusões.

O comboio tinha ficado nalguma estação e a boneca tinha ido parar por engano a outra casa. A título de justificação o pai e mãe diziam que iam ver como tal tinha acontecido.

O pai fazia a maior parte dos brinquedos às escondidas. Pistolas e espingardas, camas e guarda-roupa para as bonecas. Era tudo lindo, a que se juntava uns lápis e chapéus de chocolate.

O tempo foi passado e, na vez de brinquedos, começaram a receber umas meias, uns sapatos, uma mala para a escola – material que há muito fazia falta. Rapidamente se passou dos brinquedos para as necessidades mais prementes.

Os Natais foram melhorando em função dos filhos que logo que saídos da escola iam trabalhar. Perdia-se a magia em troca de mais alguns bens que se podiam comprar.

Para o filho mais velho o Natal teve mais tarde outro significado, que foi o da saudade, quando em África passou três Natais seguidos.

O tempo corria lento e pesado, o suor corria denso encharcando o caqui nas longas noites de serviço ou em patrulhas esgotantes e perigosas. Não pensava no regresso pois era doloroso, embriagava-se e espantava assim a melancolia junto com os camaradas. Para casa escrevia que tinha sido bom e que estava bem.

Em Abril de 74 regressou a casa. Para trás ficou um muro de recordações de bons, assim/assim e inesquecíveis maus momentos.

Perderam-se os convívios, os calores humanos, tinha regressado - mas nunca totalmente. O que se perdeu lá ficou no passado por vezes sangrento, feito de medo e solidão, que hoje será coragem.

Casou, teve filhos e finalmente reviu-se nos Natais passados ao assistir à agitação dos mais pequenos na antevisão das prendas no sapatinho.

E a magia voltou a acontecer.

17 de Dezembro de 2024

Juvenal Sacadura Amado

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

P1503: RECORDANDO O 1º ENCONTRO DA TABANCA DO CENTRO

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Foi no dia 27 de Janeiro de 2010 que a Tabanca do Centro reuniu pela primeira vez em Monte Real, num Encontro/almoço. 

Vamos neste mês alcançar a bela soma de 100 Encontros já realizados. 

Por isso recordamos aqui algumas fotografias desse Encontro que teve a presença de muitos camarigos que, juntos ou em tempos diferentes, viveram a Guerra de África na Guiné, mas também em Angola e Moçambique. 

E logo nesse primeiro Encontro tivemos connosco combatentes vindos de diversos pontos de País, com realce para a presença dum camarigo, o José Belo, que veio propositadamente da Suécia, onde residia, para estar connosco e recordar assim o nosso passado comum, que comigo já vem dos bancos da escola. 

Desde então alguns daqueles que connosco estiveram naquele dia e em Encontros posteriores já partiram, e nós recordamo-los com muitas saudades. 

A amizade que une os Combatentes (insisto em não nos chamarmos ex-combatentes), ou Veteranos, como quiserem, é indestrutível, porque está alicerçada numa entrega mútua de quem colocou a sua vida nas mãos daquele que está ao nosso lado por terra, ar e mar. 

E tanto que assim é, que nas nossas conversas se esbate a política, a religião e o futebol, para que unidos nesta amizade, possamos celebrar a vida que vamos vivendo, com as recordações que a cada um e a todos pertencem. 

Outros Encontros se seguirão enquanto houver força e disponibilidade para tal, porque não esmorecemos na amizade que nos une. 

Monte Real, 28 de Novembro de 2024 
Joaquim Mexia Alves  
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Lista dos participantes do 1º Encontro da Tabanca do Centro
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segunda-feira, 18 de novembro de 2024

P1500: MEMÓRIAS DA GUINÉ, PASSADOS 51 ANOS

                                                                    LOUVOR

Passam hoje 51 anos que este louvor foi publicado na Ordem de Serviço do Comando Territorial Independente da Guiné.

Ainda não sabia naquela altura (já tinha então acabado a Comissão Militar de 21 meses) quando seria o meu regresso a Portugal.

A C Caç 15 dos Balantas de Mansoa, era então a minha família e, embora desejasse obviamente muito regressar a casa, isso não constituía uma preocupação permanente.

Passado pouco mais de um mês, em Dezembro, fui surpreendido, verdadeiramente surpreendido, com a ordem de regresso a Portugal, de tal modo que quase não tive tempo de me despedir de todos aqueles que comigo estavam, porque a mala era então fácil de fazer, pois era apenas um pequeno saco com mais whisky do que roupa.

E assim regressei a tempo de ainda quase no limite passar o Natal de 1973, com a família em Monte Real, o que obviamente, foi para os meus pais, irmãs e irmãos, e para mim, um belíssimo presente de Natal.

Ainda hoje em dia me orgulho deste louvor e nele me revejo inteiramente.

Aqui fica a recordação.

Por Portugal, sempre!

 Monte Real, 8 de Novembro de 2024

Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

P1498: UM MARCO IMPORTANTE

          100º ENCONTRO DA TABANCA DO CENTRO

Pois é, meus camarigos, o tempo passa a voar e em Janeiro a Tabanca do Centro faz 15 anos!

Mas antes disso e já no dia 29 de Novembro, vamos ter o nosso 100º Encontro, o que é uma marca digna de ser comemorada.

Com efeito, tirando o tempo da pandemia, a Tabanca do Centro reuniu uma média de 8 vezes por ano. De fora ficaram por norma os meses de Julho e Agosto (com a dispersão do pessoal no período de férias de verão), Dezembro (devido à sobreposição com os tradicionais festejos de Natal) e o mês em que a Tabanca Grande realizava o seu Encontro Nacional (evento que não teve continuidade nestes últimos anos).

Já vão longe os encontros em que éramos sempre mais de 60 camarigos e, se bem me lembro, chegámos a ter um encontro com quase 100 camarigos.

Mudámos quatro vezes de local, pois começámos na Pensão Montanha em Monte Real, com o cozido à portuguesa, daí fomos para o salão paroquial de Monte Real, ainda com o excelente cozido à portuguesa da D. Preciosa, de quem temos muitas saudades, depois fizemos uma única experiência na “Tertúlia do Manel” e finalmente assentámos arraiais no Saloon, com o seu buffet, onde nos mantemos, pelo menos por agora.

Vêm camarigos de todo o lado, desde Lisboa até ao Porto, passando por Aveiro e outras paragens deste nosso Portugal.

Desde a primeira hora que no momento do pagamento cada um, segundo as suas possibilidades, dá mais qualquer coisa para podermos ajudar os Combatentes em dificuldades, o que tem acontecido periodicamente.

Vamos envelhecendo, mas vamos mantendo acesa a chama da amizade que une sempre aqueles que, como nós, estiveram numa guerra e foram colocando as suas vidas nas mãos daqueles que estavam ao seu lado.

Cá vos esperamos a todos, a todas as Tabancas que se vão juntando por Portugal afora, para comemorarmos condignamente e em alegria este 100º encontro da Tabanca do Centro.

                                                                                       Monte Real, 8 de Novembro de 2024

Joaquim Mexia Alves       

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

P1491: SÓ PARA QUEM POR LÁ PASSOU...

CONVERSAS IMPROVÁVEIS SOBRE A GUERRA

Tens saudades da guerra???

Não, claro que não!

Então?

Não, não tenho saudades da guerra, mas de quando em vez instala-se uma espécie de nostalgia, uma qualquer coisa inexplicável, que me leva até àquele tempo, àqueles lugares, sobretudo àqueles que comigo estavam e sentiam a mesma tensão, o mesmo perigo e, por vezes até, o mesmo alheamento.

Mas o que significa isso?

Não sei, não consigo explicar. É como se por momentos ali quisesse estar outra vez, não debaixo de fogo, claro, mas vivendo aquele constante sentimento de insegurança que nos tornava mais perto uns dos outros.

Então não são realmente saudades da guerra?

Não claro que não! Como poderia ter saudades de algo que é destrutivo, que mata, que nos torna por vezes quase indiferentes.

É estranho isso.

Sim, eu sei que é estranho, que é inexplicável, mas a verdade é que o sinto por vezes, e isso torna-me nostálgico, uma tristeza quase calorosa, que me transporta para aquele calor, aqueles cheiros, aquela terra vermelha, aquele pulsar de vida que se via na natureza, constantemente.

São então recordações boas?

Não direi que são boas recordações, embora algumas delas o sejam, mas um misto de verdade, de realidade, de sentimento onde não há fingimento.

Não há fingimento?

Sim, pelo menos eu nunca me coibi de chorar quando sentia vontade de chorar, nem de rir quando tinha vontade de rir. Era apenas eu, talvez um pouco imberbe a ser curtido pela vida, mas a descobrir em cada momento um novo alento, um novo querer viver, um novo respirar.

E de tudo isso o que mais te impressionava?

Sei lá eu bem! Ver gente diferente de mim, mas que eu sentia e vivia como meus irmãos de armas. Costumes diferentes, falas diferentes, sentires diferentes, mas que se extinguiam quando chegava o momento de todos sermos um. Sentir que podia contar com eles e que eles podiam contar comigo.

E a guerra? O mato, os tiros, os ataques?

Graças a Deus foram relativamente poucos. No início vivia-os como momentos de incredulidade, ou seja, pensava como era possível alguém querer matar-me ou eu poder matar alguém. Depois eu, que sou um nervoso constante, ficava numa calma que não sei explicar e fazia o que tinha a fazer. Finalmente vinha o alívio quando tudo acabava.

Então é disso que tens saudades?

Não, nem pensar! Tenho saudades, se assim lhes posso chamar, do depois e dos momentos em que nos juntávamos para conversar, para dizer coisas, por vezes sem sentido, para nos rirmos, para criticarmos, enfim, para nos unirmos em torno da situação que vivíamos.

Voltavas para a guerra?

Com a minha idade, com certeza, que não sou preciso. De qualquer modo, se o país mo pedisse, não teria dúvidas em fazê-lo. Mas, melhor do que isso, haveria de lutar primeiro para que nunca se chegasse a uma situação de guerra, porque a guerra nunca resolve nada. Apenas faz vítimas e alimenta ódios.

Estás em paz?

Sim, em relação à guerra estou em paz, embora de vez em quando os “fantasmas” desse passado me visitem e incomodem, mas acabo sempre por encontrar o bem maior que é a fé cristã que me alimenta e faz viver no dia a dia.

Marinha Grande, 30 de Setembro de 2024

Joaquim Mexia Alves


sábado, 21 de setembro de 2024

P1488: VERDADEIROS HERÓIS...

                BOMBEIROS DE PORTUGAL, OBRIGADO!

Levanto as minhas preces para Deus pelos Bombeiros que lutam contra o fogo.

É um combate desleal, porque o fogo não tem sentimentos, o fogo não “vê” crianças, mulheres, homens, velhos, não “sente” o trabalho de uma vida colocado numa casa, num terreno, num pinhal, não “ouve” os lamentos de quem tudo perde e fica sem saber como reagir.

E os Bombeiros enfrentam tudo isso, com risco da própria vida, que tantas vezes perdem ao serviço dos outros.

Chamam-lhes os “soldados da paz”, e são-no realmente, porque apenas querem “matar” o fogo para dar paz àqueles que são vítimas do mesmo.

E devem sofrer frustrações terríveis quando não conseguem, apesar de todo o seu esforço, salvar todas as pessoas e bens.


E pior ainda quando percebem, impotentes, como a política se mete no meio deste combate ao fogo, nomeando coordenadores que não têm qualquer competência ou capacidade de chefia, mas apenas porque são da cor política ou similar.

E depois ainda têm que ver os políticos “passearem-se” pelos locais de incêndios, dizendo coisas sem sentido, fazendo promessas nunca cumpridas, percebendo que ao longo dos anos tudo permanece perfeitamente na mesma, porque uma vez passada a “época dos fogos”, tudo regressa ao normal, excepto para aqueles que tudo perderam e para os Bombeiros, sobretudo aqueles que pereceram no fogo.

“Época dos fogos” até parece uma coisa irreal, como a “época da caça”, a “época da sardinha”, etc., etc.

Só para os incompetentes é que não há época!

Estão ao “serviço” permanentemente!

É preciso uma justiça competente, com a “mão pesada”, para esta “praga” de fogos que se repete todos os anos, a maior parte das vezes fogos ateados em zonas escolhidas por tantas e variadas razões, todas elas ligadas aos “negócios” e coisas parecidas.

Para quando uma verdadeira homenagem nacional aos Bombeiros, não para os políticos e seus coordenadores se mostrarem, mas para Portugal dizer obrigado a todos aqueles que são verdadeiramente os Soldados da Paz.

Que Deus cubra de bênçãos os Bombeiros e lhes pague em dobro tudo o que fazem por nós.

Obrigado, Bombeiros de Portugal!

Marinha Grande, 21 de Setembro de 2024

Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 2 de julho de 2024

P1484: ADAPTADO DA REVISTA SÁBADO E TABANCA GRANDE - DIREITO À INDIGNAÇÃO

Seco Mané, antigo Combatente da CCAÇ 6, não tem direito à nacionalidade portuguesa nem aos tratamentos a ferimentos recebidos em combate, nos anos 70, na então Guiné Portuguesa, ao serviço de Portugal (Joaquim Mexia Alves / Carlos Vinhal)

Mensagem do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Especiais da CART 3492/BART 3873, Xitole/Ponte dos Fulas; Pel Caç Nat 52, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão e CCAÇ 15, Mansoa, 1971/73) com data de hoje, 1 de Julho de 2024:

Caros amigos
Fui alertado por amigos desta notícia saída na Revista Sábado, e que também foi transmitida no canal Now ontem ou sábado às 18.30
Trata-se de uma situação incrível, como é habitual, de desprezo e abandono daqueles que lutaram sob a bandeira portuguesa.
Sugiro que fosse objecto de publicação nos blogues, pedindo a quem puder e tiver influência para isso, a ajuda a este combatente guineense.
Afinal as gémeas brasileiras tiveram a nacionalidade de um dia para o outro, mas este camarigo que combateu ao nosso lado anda de "herodes para pilatos", num desprezo total pela sua vida.
https://www.sabado.pt/portugal/amp/amigos-na-guerra

Ainda sobre o assunto enviei hoje ao Presidente da República, ao Primeiro Ministro e Ministro da Defesa Nacional, o email que anexo.

"Exmo. Sr. Presidente da República
Reporto-me à notícia da Revista Sábado n.º 1052, que refere um antigo combatente guineense, Seco Mané, que serviu nas Forças Armadas Portuguesas, tendo sido ferido em combate, e que vive agora uma situação desesperada em Lisboa.
Trata-se de obter a nacionalidade portuguesa, (o que é estranho não lhe ser de imediato concedida, tendo ele sido para todos os efeitos um militar português, quando a outros sem essa condição já a têm), para que possa ter direito os tratamentos de saúde inerentes, ainda, aos seus ferimentos em combate por Portugal.
Sou um antigo combatente da Guiné, de 1971 a 1973, e esta situação, (para já não falar de outras) afigura-se-me uma vergonha para Portugal.
Venho assim, junto de V. Exa, solicitar todo o seu empenho para que tal situação seja resolvida no mais curto espaço de tempo, porque é de toda a justiça que tal aconteça para quem entregou parte da sua vida pela Pátria.
Tudo está explicado na referida notícia.

Com os melhores cumprimentos
Joaquim Manuel de Magalhães Mexia Alves
Ex- Alferes Miliciano de Operações Especiais"

Páginas da Revista Sábado. Reprodução com a devida vénia

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2. Nota do editor do Blogue "Luís Graça e Camaradas da Guiné":

É certo e sabido a falta de consideração e o abandono a que estão sujeitos os antigos Combatentes, sejam eles brancos ou pretos.
Vi, na Now TV, a reportagem do nosso confrade Fernando Jesus Sousa, que quis o destino encontrasse um seu velho camarada da CCAÇ 6, o Seco Mané, num corredor da Associação dos Deficientes da Forças Armadas, em Lisboa, que vive em condições precárias em Portugal, com o seu filho, para tentar, junto do Hospital Militar de Lisboa, resolver um problema que tem a ver com ferimentos recebidos em combate, em Bedanda nos anos 70, ao serviço do Exército Português.
Como reza a notícia, estranhamente não tem direito à nacionalidade portuguesa apesar de o seu cartão de militar exibir as cores da nossa, e da dele, bandeira.

Lendo o caso na Revista Sábado, o nosso camarigo Joaquim Mexia Alves tomou a iniciativa de enviar ao Senhor Presidente da República, Senhor Primeiro Ministro e Senhor Ministro da Defesa, uma mensagem a dar conhecimento desta injustiça, pedindo ao mesmo tempo os seus bons ofícios no sentido de que se resolva este assunto no mais curto espaço de tempo possível.

O que sugiro? Que cada um de nós envie mensagens similares, o Joaquim Mexia Alves não se importa que se utilize a mensagem dele, às entidades abaixo citadas para que sintam que estamos todos unidos, portugueses de Portugal e camaradas guineenses que não tendo optado pelo nacionalidade portuguesa, tenham direito a ela quanto mais não seja para terem acesso ao tratamento das mazelas advindas de ferimentos em combate.

Para vos facilitar a vida, indico a maneira mais prática de aceder aos respectivos formulários de contacto.
Presidente da República: https://www.presidencia.pt/contactos/formulario-de-contacto/
Primeiro Ministro: https://www.portugal.gov.pt/pt/gc24/primeiro-ministro/contactos
Ministro da Defesa Nacional: https://www.portugal.gov.pt/pt/gc24/area-de-governo/defesa-nacional/contactos

Não me lembro de alguma vez vos ter pedido alguma coisa, desta vez faço-o para que juntos façamos sentir a quem de direito que ainda existimos e que nem sempre as nossas petições são dinheiro, também queremos os direitos e o respeito que nos são devidos enquanto antigos Combatentes.
Não estamos a pedir, estamos a exigir.


Carlos Vinhal

(Texto reproduzido do Blogue "Luís Graça e Camaradas da Guiné", com a devida vénia)


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Em devido tempo:
Hoje mesmo o Joaquim Mexia Alves enviou um email ao Fernando Sousa perguntando se a Tabanca do Centro poderia ajudar financeiramente o Seco Mané com alguns fundos que temos em caixa, resultantes do extra dos nossos almoços.
Seria, sem margem para dúvidas, uma óptima utilização de tais fundos.
Aguardamos resposta deste nosso camarada.