domingo, 19 de dezembro de 2021

P1321: DESPEDINDO-ME DE UM GRANDE AMIGO

                     ADEUS E ATÉ JÁ, JAIME!

Partiu hoje um dos maiores amigos que tive na minha vida!

As histórias com o Jaime Brandão são inúmeras desde garotos, passando pela Guiné, pela dita revolução e até aos dias de hoje.

Por causa da nossa amizade passei fins de tarde quase contínuos na BA5, mormente na Esquadra dos Falcões, e por isso mesmo me foi concedido algo único na minha vida: um voo de A7.

Claro que, embora houvesse outros “candidatos” amigos que me queriam levar, não poderia deixar de ser o Jaime a dar-me esse raro prazer, quase impossível a civis.

Foi um dia memorável.

Tal como o dia em que, envolvido na primeira Operação Militar na Guiné, no segundo mês da minha chegada, com o camuflado ainda a “cheirar a goma”, desembarco no quartel de Portogole e quando estou a subir a rampa para as instalações vejo o Jaime vir direito a mim a sorrir e abraçando-me com toda força.

Perguntei-lhe como era possível ao que ele me respondeu a sorrir que sabia que eu estava envolvido naquela Operação e que ia desembarcar em Portogole para passar a noite e como vinha de regresso a Bissau, declarou que tinha a porta aberta do DO27 e que tinha de aterrar em Portogole.

As histórias são inúmeras, (de dia ou de noite), e todas elas são memórias fantásticas que me trazem agora lágrimas aos olhos

O Jaime era um homem franco, honesto, sério, que não pedia licença para dizer o que pensava e sentia, mesmo que isso lhe acarretasse incompreensões ou mesmo problemas.

Amigo do seu amigo, levava a amizade muito a sério, tão a sério que não se coibia de me dizer algo que eu fizesse mal, como eu lhe dizia também a ele.

É assim a amizade verdadeira!

Mas tinha também um humor muito especial e vivemos momentos hilariantes ao longo de todo este tempo que Deus nos deu de amizade verdadeira e vivida.

Muitas vezes as nossas conversas eram quase um monólogo tal a identidade de pensamento e opinião que tínhamos os dois.

Em bom e antigo português era quase um: “se um diz mata o outro diz esfola”!

Espero, (fazendo humor), que no Céu haja cerveja, porque ele tem que ter uma esplanada onde a beber esperando por mim e por muitos mais que nos faziam companhia.

Pouco apreciador do cozido que habitualmente nos era servido nos nossos convívios, isso limitou a sua presença à mesa connosco. Mas não deixou de estar presente por várias vezes, satisfazendo-se com a sopinha do cozido ou, numa situação pontual, com uma feijoada vegetariana trazida de propósito de Lisboa pela sua camarada e amiga Giselda.
Há homens que nunca fizeram nada por Portugal e são recordados como se o tivessem feito.

O Jaime foi voluntário para a Força Aérea, serviu o seu país na Guiné e em Portugal, serviu o seu país na sua profissão como civil, lutou por um país melhor do que o “politicamente correcto”, e ninguém, com certeza desta gente que nos governa terá uma palavra para ele, o que ele, julgo eu, até agradece.

Envolvo a sua família, mulher, filhas, netos, irmãs e irmão no meu estreito e muito amigo abraço, sem palavras que as não tenho para dizer.

Estou profundamente triste, embora acredite que aos homens bons como o Jaime, Deus tem sempre junto de Si, mas isso ainda não mitiga a saudade imensa que já sinto em mim.

Como dizemos em Monte Real, pelo menos no tempo em que eramos garotos, quando as pessoas se encontram: Adeus!

Eu digo-te, Jaime meu querido amigo, adeus e até já!

Marinha Grande, 18 de Dezembro de 2021

Joaquim Mexia Alves

5 comentários:

Hélder Valério disse...

Caros amigos
Caro Joaquim

É sempre triste quando um "dos nossos" parte.
Para mais quando é, não só conhecido, mas quando fez parte do nosso círculo mais chegado de amigos.
Sabemos que este doloroso acontecimentos está reservado para todos e cada um de nós.
É essa a lei da Vida.
Mas, lá que custa, custa!
Joaquim, só te posso enviar um forte abraço de solidariedade.
Sei que não resolve grande coisa mas é o conforto possível que te posso dar.
Muito sinceramente.
E que o Jaime possa descansar em paz.

Hélder Sousa

Jorge Narciso disse...

Com enorme surpresa recebi esta infausta noticia.
Deixo o meu profundo pesar à sua família natural e aos inúmeros amigos que soube grangear ao longo da vida.
Até sempre Jaime

Juvenal Amado disse...

Já tinha prestado a minha solidariedade á família e ao Mexia Alves mas porque nós na tabanca do centro também fazemos parte desta enorme família, venho aqui expressar a minha tristeza profunda perante o acontecido. Infelizmente é a toda a hora e só me resta deixar um até sempre companheiros

Carlos Pinheiro disse...

Não tenho palavras que possam de algum modo ajudar-te Joaquim nesta dor infinita e irreparável. A tua vida de cristão convicto e praticante certamente ajuadrá o teu espirito a encontrar algum conforto no meio deste desconforto total. Como disse não tenho palavras. Aceita um apertado abraço amigo.
Carlos Pinheiro

Anónimo disse...

Caro Joaquim,
E com um enorme sentimento de tristeza que tomei conhecimento do falecimento do Jaime Brandão.
Nos anos sessenta foi meu condiscípulo no Liceu de Leiria, assim como mais dois dos seus irmãos, sendo a irmã minha colega de ano e de quem tive o privilégio de ser amigo.
Nos almoços da Tabanca do Centro, desencontrámo-nos sempre e não houve a oportunidade de falarmos.
Para a família Brandão e para os seus amigos, particularmente para ti, as minhas sentidas condolências.
Grande abraço
José Pimentel de Carvalho